José João Murtinheira Branco

1954-01-27 Vila Franca de Xira
45631
0
3

POETA MORIBUNDO - II

pelas divisõesmitigadas da memória,

a vida esmorece em brando armistício

entre bichos, que em paz adormeceram.

Tudo à volta entorpece! O espaço está vazio,

de risos, de murmúrios, que se calaram.

Fazendo do querer, um sinal, um apelo

num silêncio carente e profundo,

perpetuado nas fronteiras do seu degredo,

o sentimento de falta conflitua em flagelo!

Desinspirado, pensa em tudo e no fundo

quiçá a Musa matou o poema de enredo.

As horas vão lentamente passando,

Imperfeitas em noite desesperada.

Vai fechando janelas, luzes apagando,

preparando-se para sair sem levar nada,

a não ser a sensação de que nesta vida,

tudo é efémero, até o sabor da vitória,

quando deixa que a morte se prenda

numa caixa escura de madeira chumbada.

Proscrito no púlpito desta tenebrosa

Intrínseca oratória de insatisfação, no seu Eu

procura o verbo da vida! O cardo e a rosa!

Luz para um lugar,onde se faz breu.

Renasce a inspiração do poeta moribundo

num espasmo de iluminação, na sua mente.. grita!

Sou poeta deste e de outro mundo,

nesta dádiva noturna em que mergulho,

viajo no poema, na chama da palavra bendita,

onde me iludi! Me transcendi, e fui alguém!

Meus olhos tristes brilham mais! Mostram orgulho,

aqui nesta vida que se extingue sem ver vivalma,

pulsa mais forte o meu peito!... Para ir mais além,

entre dois sopros, que a vida ainda me resista

exorcizando os fantasmas que me habitam a alma.

A ti, entregue o espirito! Musa da poesia altruísta!

João Murty

422
0

Mais como isto



Quem Gosta

Quem Gosta

Seguidores