

Filipe Marinheiro
Nasceu em Coimbra, 30 de Julho de 1982. É natural e reside em Aveiro.
Poeta.
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«Noutros Rostos» I
pus-me a espremer a atmosfera coberta por um sabor a frutos
selvagens caminhei de tronco nu em cima desses enormes
campos silvestres
era manhã ainda e os pássaros de uma espessura incrível rodavam
o vento cinza ao contrário
decidi erguer as pernas como a brincar com a névoa que toca
suavíssima na linha do céu azul liquefeito e beijei essas aves
junto às rajadas de chuva que estremecem no meu coração
depois deitei-me por baixo das suas asas em giesta e escorro
como uma nascente abandonada pelas estrelas no quebra-mar
as aves atravessam agora um aglomerado de bosques sombrios
muito húmidos frescos com cheiro a nuvens carbonizadas
flores a voar com hálito a sombras sugam abismos maciços
entre astros e cometas a roçarem-se numa mágica doçura comovente
durante a minha eternidade campos aves céu mar frutos nuvens
estrelas e bosques adivinham nas minhas mãos um olhar melancólico
onde danço em cima de pedras preciosas de tédio em tédio
e num só golpe trémulo nos lábios diamante a minha majestosa
harmonia desencadeia novos silêncios...
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