Cyber Poeta Silas Correa Leite

Cyber Poeta Silas Correa Leite

O atual literato e Cyber Poeta, Silas Correa Leite, na verdade nasceu no bairro operário de Harmonia, na cidade de Monte Alegre, Paraná, região de Tibagi.

1952-08-19 São Paulo Itararé
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Almanaque de Natal, Silas Correa Leite e Suas siladas

Outro Almanaque de Natal - Silas e Suas "Siladas"

ULTIMO NATAL (Então, Não é Natal)

-É Natal?

Não há sino pequenino nem presépios elétricos

Nem corais, nem amigos secretos

Nem consumismo, nem comércio

Resta morta toda a humanidade

DEUS

No píncaro da glória de seu potentado em celestidade

Olha Jesuscristinho ao seu lado e tem dó

São Eles só

Os dois

Os anjos foram cantar hosanas e aleluias noutra freguesia

Da terra já não há mais nada do que antes havia

O mundo acabou

Aquela porcaria

O criador que tudo vê e tudo sofre, e tudo sente, de novo, outra vez

Vai tentar do recomeço

Com mais prudência, adereço, justiça e sensatez...

-É Natal?

Não há ouro, incenso e mirra; não há mais ninguém

Da civilização humana nada mais resta

Nem comércio e nem consumo

Nem pannetone ou arroz de festa

DEUS

Do píncaro da gloria de seu potentado supracelestial

Arrependeu-se do que criou. E tanto mal...

O livre arbítrio

O sitio

Daquilo que gerou. (Esse livre arbítrio

Que não valeu nada)

E Ele ali mal se cabendo em si como se numa encruzilhada

Restam escombros

Pós-selvageria

Das atônitas explosões das bombas da água, do lixo, da fome

Que mataram o homem

Em suas vilezas de historiais escombros...

(Então não é Natal

Menos mal)

Não há nada para ser comemorado e ponto final.

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Continho

Lurdes Pobrinha da Silva

Lurdinha queria ver o Papa.

O dia inteiro o papo aranha no rádio, na televisão, nas contações das beatas da periferia abandonada e carente, entre becos, cortiços, guetos, palafitas e a enorme favela Ordem e Progresso no Morro do Querosene, a acontecência 'da hora' era sobre o Papa que estaria vindo visitar o Brasil.

Lurdinha, coitadinha, deficiente física e mental, olhos cheios de remela, pobrinha e agregada de um barraco onde se restava meio que largada, desesperada e carente sonhava em ver o Papa. Passaram-se meses, sem esperança e sem cuidados, ela ficou com aquilo na cabeça.

Quando era pertinho do Natal, certa manhã radiante, o quarto amontoado em que mal e porcamente fora alojada entre trastes velhos feito um antro de despejo, se iluminou. E ela viu entrar um belo e sorridente jovem, barbudo, cabeludo, que lhe estendeu os braços largos e disse com maviosa voz:

-Olá Lurdinha, eu sou Jesus!

Lurdinha ficou desenxabida, coitada.

Ela queria ver o Papa.

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Cântico de Itararé

Itararé

Será que vivendo tão distante de ti

Estou realmente existindo direito?

Longe de casa eu lutei, eu sofri

E te trago encantada, dentro do peito

Itararé

Valeu a pena o que distante vivi

Tão longe desse encantário, teu chão?

(Só que o caminho da volta não esqueci

E te levo ninhal, dentro do coração)

Itararé

Ao lembrar dessa terra a minháalma ri

(Hoje só a saudade já não satisfaz)

Ah Itararé como eu te relembro, guri

A lua entre estrelas, sobre os pinheirais

Itararé

Espero um dia retornar para aí

O poeta andorinha exilada vai voltar

Em teu solo meu corpo vão plantar

Quanto, então, também serei parte de ti!

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Natal de Pobre

Boneca velha suja entre sabujos

Boneca de um braço só e lá,

jogada no lixo entre bulbos

Da periferia S/A

Criança carente de cara séria

Humilde simples, tristinha

Resgata a pobre boneca sujinha

Na sua realidade de miséria

Corre a menina parda com sua cruz

De olhos pobrinhos com remela

Com aquela boneca vestida com panos ruins

Exatamente como ela

-É Natal, é Natal de Jesus!

Diz a criança, pobre assim

-Vejam o meu brinquedo que já

Papai Noel do céu mandou pra mim

............................................................

(Deus, no médio céu de horizonte externamente grená

Chora uma lágrima carmim)

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Presépio de Pobre

Todo mundo tinha presépio

Na ruela onde morávamos

Eram elétricos, coloridos

Mais que o primeiro Natal

Cada presépio encantado

Muito mais que o de Belém

Cada jardim era um luxo

De cores e de pirilâmpadas

Como éramos pobrezinhos

E mal tínhamos o que comer

Imagine ter um presépio

Com tantos pertences caros

Meu pai andava doente

Minha mãe lavava no tanque

As tristezas que a gente

Fazia omelete de lágrimas

Mas éramos bem criativos

Eu e as minhas irmãs

E montávamos do nosso jeito

Um presepinho bem humilde

As paredes eram de tacos

O telhado todo de cascas

De laranjas e de cepilhos

E a tez chão, macadame

Os burrinhos eram sabugos

As vaquinhas de limões

Ovelhinhas sabão de cinzas

Estrela tampinha de crush

Maria era bem torneada

Entre pinhas e resinas

E São José eu inventava

Numa caixinha de fósforo

A manjedoura era apenas

Uma lata velha de sardinha

Com pétalas, flor de lágrimas

Alguns carunchos de feijão

Só o enviado de Deus

O divinal Jesuscristinho

Era um belo carretelzinho

De linha, que eu esculpia

Eu o ornava bem feitinho

Com muito amor e carinho

Fazendo um menino triste

A nos olhar sem milagre

E como éramos pobrinhos

Ali já dávamos, tristinhos

Ao bentinho, do presépio

A nossa coroa de espinhos

-0-

FELIA NATAL, FELIZ TUDO EM DEZEMRO, FELIZ 2016

Silas Correa Leite -E-mail: poesilas@terra.com.br

www.artistasdeitarare.blogspot.com/Site de Silas Correa Leite

In, Livro de SILAS, Dezembro 2015

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