

Cyber Poeta Silas Correa Leite
O atual literato e Cyber Poeta, Silas Correa Leite, na verdade nasceu no bairro operário de Harmonia, na cidade de Monte Alegre, Paraná, região de Tibagi.
Almanaque de Natal, Silas Correa Leite e Suas siladas
Outro Almanaque de Natal - Silas e Suas "Siladas"
ULTIMO NATAL (Então, Não é Natal)
-É Natal?
Não há sino pequenino nem presépios elétricos
Nem corais, nem amigos secretos
Nem consumismo, nem comércio
Resta morta toda a humanidade
DEUS
No píncaro da glória de seu potentado em celestidade
Olha Jesuscristinho ao seu lado e tem dó
São Eles só
Os dois
Os anjos foram cantar hosanas e aleluias noutra freguesia
Da terra já não há mais nada do que antes havia
O mundo acabou
Aquela porcaria
O criador que tudo vê e tudo sofre, e tudo sente, de novo, outra vez
Vai tentar do recomeço
Com mais prudência, adereço, justiça e sensatez...
-É Natal?
Não há ouro, incenso e mirra; não há mais ninguém
Da civilização humana nada mais resta
Nem comércio e nem consumo
Nem pannetone ou arroz de festa
DEUS
Do píncaro da gloria de seu potentado supracelestial
Arrependeu-se do que criou. E tanto mal...
O livre arbítrio
O sitio
Daquilo que gerou. (Esse livre arbítrio
Que não valeu nada)
E Ele ali mal se cabendo em si como se numa encruzilhada
Restam escombros
Pós-selvageria
Das atônitas explosões das bombas da água, do lixo, da fome
Que mataram o homem
Em suas vilezas de historiais escombros...
(Então não é Natal
Menos mal)
Não há nada para ser comemorado e ponto final.
-0-
Continho
Lurdes Pobrinha da Silva
Lurdinha queria ver o Papa.
O dia inteiro o papo aranha no rádio, na televisão, nas contações das beatas da periferia abandonada e carente, entre becos, cortiços, guetos, palafitas e a enorme favela Ordem e Progresso no Morro do Querosene, a acontecência 'da hora' era sobre o Papa que estaria vindo visitar o Brasil.
Lurdinha, coitadinha, deficiente física e mental, olhos cheios de remela, pobrinha e agregada de um barraco onde se restava meio que largada, desesperada e carente sonhava em ver o Papa. Passaram-se meses, sem esperança e sem cuidados, ela ficou com aquilo na cabeça.
Quando era pertinho do Natal, certa manhã radiante, o quarto amontoado em que mal e porcamente fora alojada entre trastes velhos feito um antro de despejo, se iluminou. E ela viu entrar um belo e sorridente jovem, barbudo, cabeludo, que lhe estendeu os braços largos e disse com maviosa voz:
-Olá Lurdinha, eu sou Jesus!
Lurdinha ficou desenxabida, coitada.
Ela queria ver o Papa.
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Cântico de Itararé
Itararé
Será que vivendo tão distante de ti
Estou realmente existindo direito?
Longe de casa eu lutei, eu sofri
E te trago encantada, dentro do peito
Itararé
Valeu a pena o que distante vivi
Tão longe desse encantário, teu chão?
(Só que o caminho da volta não esqueci
E te levo ninhal, dentro do coração)
Itararé
Ao lembrar dessa terra a minháalma ri
(Hoje só a saudade já não satisfaz)
Ah Itararé como eu te relembro, guri
A lua entre estrelas, sobre os pinheirais
Itararé
Espero um dia retornar para aí
O poeta andorinha exilada vai voltar
Em teu solo meu corpo vão plantar
Quanto, então, também serei parte de ti!
-0-
Natal de Pobre
Boneca velha suja entre sabujos
Boneca de um braço só e lá,
jogada no lixo entre bulbos
Da periferia S/A
Criança carente de cara séria
Humilde simples, tristinha
Resgata a pobre boneca sujinha
Na sua realidade de miséria
Corre a menina parda com sua cruz
De olhos pobrinhos com remela
Com aquela boneca vestida com panos ruins
Exatamente como ela
-É Natal, é Natal de Jesus!
Diz a criança, pobre assim
-Vejam o meu brinquedo que já
Papai Noel do céu mandou pra mim
............................................................
(Deus, no médio céu de horizonte externamente grená
Chora uma lágrima carmim)
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Presépio de Pobre
Todo mundo tinha presépio
Na ruela onde morávamos
Eram elétricos, coloridos
Mais que o primeiro Natal
Cada presépio encantado
Muito mais que o de Belém
Cada jardim era um luxo
De cores e de pirilâmpadas
Como éramos pobrezinhos
E mal tínhamos o que comer
Imagine ter um presépio
Com tantos pertences caros
Meu pai andava doente
Minha mãe lavava no tanque
As tristezas que a gente
Fazia omelete de lágrimas
Mas éramos bem criativos
Eu e as minhas irmãs
E montávamos do nosso jeito
Um presepinho bem humilde
As paredes eram de tacos
O telhado todo de cascas
De laranjas e de cepilhos
E a tez chão, macadame
Os burrinhos eram sabugos
As vaquinhas de limões
Ovelhinhas sabão de cinzas
Estrela tampinha de crush
Maria era bem torneada
Entre pinhas e resinas
E São José eu inventava
Numa caixinha de fósforo
A manjedoura era apenas
Uma lata velha de sardinha
Com pétalas, flor de lágrimas
Alguns carunchos de feijão
Só o enviado de Deus
O divinal Jesuscristinho
Era um belo carretelzinho
De linha, que eu esculpia
Eu o ornava bem feitinho
Com muito amor e carinho
Fazendo um menino triste
A nos olhar sem milagre
E como éramos pobrinhos
Ali já dávamos, tristinhos
Ao bentinho, do presépio
A nossa coroa de espinhos
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FELIA NATAL, FELIZ TUDO EM DEZEMRO, FELIZ 2016
Silas Correa Leite -E-mail: poesilas@terra.com.br
www.artistasdeitarare.blogspot.com/
In, Livro de SILAS, Dezembro 2015
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