Retrato do poeta quando jovem
Não sei se sou poeta.
Apenas sei que de repente a minha têmpora arde
e, mesmo sem vontade, as mãos explodem
como trovões no infinito da memória,
buscando o trigo, a cevada que alimentam
a fome das palavras.
Ah, esta vontade de gritar a todas as terras,
a todos os povos, em todas as línguas,
este meu canto brasileiro, nordestino,
nutrido de cactos e mandacarus.
Sou selvagem e rasgo meus pés nesta caatinga,
onde se misturam homem e boi no mesmo pasto.
Que eu seja o mais puro dejeto desta terra,
a semente que sacia a fome, a carne escassa.
Que eu seja a mochila sedenta de bagagem,
o jagunço na caatinga, o desespero!
Que eu seja o facão no cipoal,
conversa de chicotes e costados, suor, sangue!
Não sei se sou poeta.
Mas é desta pele rota como a palha do milhal,
deste sangue desgovernado herdado de meu pai,
destes braços, destes olhos,
destas mãos caladas, desta mixórdia,
que componho o meu canto.
Eu, somente eu, começo e acabo minha estirpe!
Que se danem os nomes, as famílias,
o passado, o presente e o futuro.
Que se danem! Serei total!
Avalanche de raízes e pedras,
eletricidade de ossos e ideias!
Sou o grito resvalado pela serra,
o eco obstinado.
Sou a mão armada sobre as ondas,
sem governos, sem nada!
Porque é pelo fio do meu cabelo que começo.
E só termino na unha encravada do meu dedo mínimo!
Apenas sei que de repente a minha têmpora arde
e, mesmo sem vontade, as mãos explodem
como trovões no infinito da memória,
buscando o trigo, a cevada que alimentam
a fome das palavras.
Ah, esta vontade de gritar a todas as terras,
a todos os povos, em todas as línguas,
este meu canto brasileiro, nordestino,
nutrido de cactos e mandacarus.
Sou selvagem e rasgo meus pés nesta caatinga,
onde se misturam homem e boi no mesmo pasto.
Que eu seja o mais puro dejeto desta terra,
a semente que sacia a fome, a carne escassa.
Que eu seja a mochila sedenta de bagagem,
o jagunço na caatinga, o desespero!
Que eu seja o facão no cipoal,
conversa de chicotes e costados, suor, sangue!
Não sei se sou poeta.
Mas é desta pele rota como a palha do milhal,
deste sangue desgovernado herdado de meu pai,
destes braços, destes olhos,
destas mãos caladas, desta mixórdia,
que componho o meu canto.
Eu, somente eu, começo e acabo minha estirpe!
Que se danem os nomes, as famílias,
o passado, o presente e o futuro.
Que se danem! Serei total!
Avalanche de raízes e pedras,
eletricidade de ossos e ideias!
Sou o grito resvalado pela serra,
o eco obstinado.
Sou a mão armada sobre as ondas,
sem governos, sem nada!
Porque é pelo fio do meu cabelo que começo.
E só termino na unha encravada do meu dedo mínimo!
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