Cyber Poeta Silas Correa Leite

Cyber Poeta Silas Correa Leite

O atual literato e Cyber Poeta, Silas Correa Leite, na verdade nasceu no bairro operário de Harmonia, na cidade de Monte Alegre, Paraná, região de Tibagi.

1952-08-19 São Paulo Itararé
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A poética de um certo “feminietszche” de Priscila Merizzio

Primeiro Rascunho Para Breve Resenha de Rebites Mínimos:

A poética de um certo "feminietszche" de Priscila Merizzio

"Dentro de mim mora um grito//

De noite, ele sai com suas garras, à caça//

de algo para amar." - Sylvia Plath

O livro "Minimoabismo" de PRISCILA MERIZZIO assombra pelos poemaços contundentes que ela, faca entredentes, por assim dizer-se, tira das "panacéias e infernos" de sua vernissages íntimas... De tanto olhar para o abismo... que o abismo se apequena (para os poetas) e vira maxipoemas. Bem isso. A alma na UTI faz bem pra arte. A loucura-lucidez de Priscila nos surpreende, pois ela eleva seus abismos ao aparato estético de uma portentosa linguagem dentro do nutricional da arte com uma "nietszchedez" fora de série e fora do comum, extraordinários. Periga ler. Abismos, rogai por nós. Eu, que além de adorar as loucas poetas russas, Anna Akhmatova e outras, também passando pela Hilda Hist e tendo um selvagem amor plathônico pela Sylvia Plath, quando caí no deguste do liquidificador de macadames da Priscila no deserto de si mesma, criei amarras, amargos, me reformatei e capitulei horrores. Que porra poeta de aço é essa que mergulha potencializada no curtume de todos os esquizofrêmitos e esquizocênicos da alma brucutu da espécie? Periga ler. Aliás, falando sério, Vininha de Moraes já dizia que o abismo é fundamental na expressão literária.

Todo mundo tem seus abismos. Alguns escrevivem e vivenciam dentro deles sem saber, ou camuflam em bebidas, drogas, sexismo, pós-graduações, consumos, igrejismos, ilhas de amarguras, pataquadas e mixórdias afins, outros, sacam, como se se ilhassem neles, e fazem artes - como libertação - em músicas, poemas, telas, letras de blues, suicídios (cortam os pulsos com poesia?) como na existência da poesia aterradora de Priscila. Eis os mínimos abismos de Priscila que, reconheçamos, além de sua boniteza peculiar, também enlua a lírica abismal com arames dela em buscas, prismas e atiços de carne viva. Sorte nossa. Deixa sangrar. A perigosa poesia dela vem perigritante pelos flancos, e quando se vê, cara pálida, enaltece o oficio de criar, que não é mais do mínimo, mas, muito mais do máximo em estupor, ainda bem trufada groselha preta de sangue cênico e lágrimas de cimento com glitter. Poesia de alto nível, meio mantras de sofrências a palo seco ou um nirvana a la bukowski. O buraco é mais embaixo, baby.

Vejam-se, "lejam-se" (alejem-se):

Emergências

seus olhos de obus lançam-me ao abismo

engulo um puma de marzipan

perverto Barbies zarolhas

no aquário, o casal de bettas

tenta aniquilar-se pela

parede de vidro que os separa

o relógio do computador exibe: Retorno de Saturno

- 29 anos arrastando o caixão do pai

Complexo de Electra em gengivas cafajestes

sequência de frames conduzem

o protagonista-suicida

ao Cliffs of Moher, na Irlanda

Vale dos Suicidas de leprechauns

fêmeas de lagartos da família Teiidae

trepam com os próprios cromossomos

balcões de óperas contêm vidas com a duração

do espirro de uma estrela amorfa

- première de presuntos

lutar por independência passando

querosene no chão dos IMLs

alquimia extraída de silêncio e dor

a solidão eriça meus pelos

............................................

Sacou ou quer que eu resenhe?

Um poema testamento existencial, enjambrado com transcortantes facas/feridas abertas e diluídas em arte, com uma Electra manca, mas ainda assim (e por isso mesmo) de uma densidade que emana talento, leitura, dom, enfrentamentos, perguntações, desabandonos, desespelhos - loucura - vá lá, o que quer que seja que ilumine essas maravilhosas loucas mulheres que ardem no inferno da TPM desse mondo canne machista, e ainda assim regurgitam, purgam, geram, esmerilham, atacam artes de si afloradas, sacam as armas, e nos dão seus afetos que se encerram em nosso peito dito varonil. E depois, disse Manoel de Barros, que salpicou de poemas nosso chão: "Aquele que não morou nunca em seus próprios abismos//Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas//Não foi marcado. Não será exposto// Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema".

Priscila Merizzio nasceu em Curitiba, publica em revistas, sites, jornais e antologias literárias desde 2012. Este é seu livro de estreia e foi semifinalista do Prêmio Oceanos Itaú Cultural 2015. Poemas urbanos, pós-modernos, humanus, enrodilhados de estrofes que saltam aos olhos e revelam não o que se diz abismo, mas o que se apresenta revelação, depois dos chorumes e decantações. A carne é música? Ai de ti, ardiduras de dálias negras! Per/vertida, loucamente solta os guindastes que se lhe afogam a alma, e dá nisso: poemas galopantes, alvoroços. Alvorrostos? Na voçoroca da vida, a poetona se salva pelos poemas escritos como alucilâminas em areias movediças de si mesma. Ah essas potentes mulheres armadinhas, e suas arapucas de sinais de pânico, sinais de trâmite, de trânsito, em poesia afinada com rupturas. Mulher quando se pinta para escrever, quer mover mundos e fungos, ícaros e ácaros.

Leiam-na, e se sintam habitados. Ou pelo menos ainda e assim por isso mesmo, se sintam. O mundo é um inferno, mas ainda plantamos facas cegas nas palavras escritas a ferro e fogo. Lendo os abismos da Priscila, habitei-os. E fui salgado pelas palavras.

Salgue-se quem for ler.

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Silas Corrêa Leite

Poeta, ficcionista, blogueiro premiado

Autor entre outros de GUTE GUTE, BARRIGA EXPERIMENTAL DE REPERTÓRIO, Editora Autografia, 2016, RJ

E-mail: poesilas@terra.com.br

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