Coisas da Velhice
No repentino surgir de negras nuvens,
aves em bando passam a procurar abrigo...
E o vento que as precede, traz a força
inconfundível do sul ...
No súbito escurecer da tarde, meu pensamento
se refugia em passados tempos, onde a vida
sorria o seu sorriso mais belo...
Sorrisos da juventude...
Continuo a caminhar estimulado pela torrencial
chuva que agora cai. Livre, desprotegido e sem o
natural receio dos trovões que rasgam o céu...
Destemores da juventude...
Eu e a chuva somos duas solidões que vagam
pelas desertas areias da praia. Indiferente sigo
a cortejar as ondas que, saudosas, ajoelham-se
aos meus pés...
Paixões da juventude...
Ao seu irresistível chamar, mergulho meu velho
corpo em suas salgadas ondas e nos amamos...
Desejo, por instantes, em meu mais profundo
sonho, que este mundo fosse somente meu....
Ambições da juventude...
Sob a noite que se antecipa, faço o caminho da
volta por onde minhas pegadas, em suave pisar ,
vão ferindo a virginal areia...
No mágico encontro do mar com a chuva,
lágrimas restam indefinidas em triste e vazio sabor.
Copacabana se acende sob chuvoso esplendor, mas,
no meu distante olhar, inutilmente tento encontrar
o antigo brilho da juventude...
Coisas da velhice...
Domingos Alicata.
Rio, 07.12.2007
Escritas.org
