Alguns Poemas

Cruzeiro do Sul

Cruzeiro, que poderia ser

do amor... Da vida... Da ilusão...

És, simplesmente, do Sul.

Teu olhar cintilante sempre

me acompanhou, nas solitárias

noites do mar...

Nas lembranças perdidas dos

amores que ficavam para trás,

mergulhados na branca espuma

morta pelo profundo passar do

meu navio.

Frio, apontavas sempre o Sul...

Mas outro era o meu destino.

Buscava o rumo da aventura,

do martírio das gélidas noites,

do bordejar de temidos furacões

e dos desafios ainda ocultos na

jovem sensualidade da vida...

Do prazer sempre encontrado

nos perdidos portos da vida fiz

o meu adorável viver...

Hoje, da minha janela te acompanho

despido do medo e das angústias dos

amores que morriam ao amanhecer

na sublime lassidão do saciado corpo.

Do ébrio sorriso que se escondia na

penumbra das noites em busca de lábios

aventureiros.

Às vezes até verdadeiros...

Corpos alugados, valorizados no desejo e,

quase sempre, recompensados na busca

do inesquecível prazer.

Ilusões? Não...

Apenas momentos diferentes.

Inconseqüentes.

Hoje nos vemos com outro olhar...

Tu continuas apontando o Sul.

Eu, pelo pedaço de céu que me restou,

te observo com resignação...

Meu rumo agora é triste e vazio...

No silêncio da madrugada penso

em como seria bom recuperar o

sentido primário da vida...

Antigos amores, mesmo vestidos de ilusão!

O frio agora é diferente.

Chega com a solidão dos crepúsculos

e envolve este meu já enfraquecido corpo.

O tempo, devagarzinho, também se vai...

Busca corpos mais jovens, inexperientes,

que não se preocupem com ele, apenas o

deixem passar...

Velha constelação.

Por que este olhar tão triste?

É a figura da cruz que carregas,

ou são meus olhos?

Ambos seguimos o caminho do

ocaso, mas, amanhã tu retornas,

escrava que és do celestial caminhar.

Quem restará mais feliz?

Eu que um dia me vou ou tu que

terás de voltar sempre, mesmo

contra a tua vontade!

E sempre apontando o Sul...

Somente o Sul...

Domingos Alicata

Rio, 22.01.2006

Gaúcho de nascimento, carioca por adoção... Em Copacabana vivi a magia dos anos 60, quando a vida se revestia de glamour e
meus anos eram realmente dourados. Personagens maravilhosos cultivaram em mim o mais doce prazer vivido nas doces noites de emoções. A Madrugada e o Mar sempre dominaram, com intensidade, os meus mais significativos momentos de criação e enlevo. Agora, na prateada idade, ofereço aos que passarem por minhas páginas esta profunda experiência de vida convertidas em poemas e crônicas...
Cauana Araujo
Cruzeiro do sul terra dos cruzeirenses
19/setembro/2018

Quem Gosta

Seguidores