sinkommon

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Escrevo porque não tenho nada para dizer. Escrevo porque preciso. Não tenho mensagens nem respostas. Não faz sentido mesmo. E sim, são coisas 'esquisitas' porque eu não sei fazer outra coisa.

1992-10-22 Coimbra
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a queda no abismo piedoso

Se por cada ilusão tivesse um tostão.
Tão vazia, uma prece, leve, soprada
um vendaval de silêncio e solidão.
Dão-me esperança sem me dar nada
dores nas pernas de correr tanto.

Um rio também me acompanha, lento.
A pasta leitosa borbulha no leito
em que queimam colares coloridos
doridos os músculos sem alento
e é lá que, a sonhar, me deito.

Sonhos sem som marulhando mergulhados
num pesadelo oculto, qualquer.
E neles continuamos a correr.
Corrente de veludos avermelhados
molhados os pés do nosso sangue.

Iludo-me, e iludes-te, e iludimos.
Uma multidão de olhos brilhantes
e de dores vagas e distantes
em estantes altas que trepamos
e depois caímos.

Os olhos no céu onde o sol
nos protege como um lençól
e as costas para a terra dura
na queda desamparada.

Não morremos. Na queda.
Não morremos.
Espera-nos um leito macio
que nos abraça no frio
e aí nos esquecemos.

A ilusão desvanesce
nasce dela outra.
Uma que permanece,
Uma que aquece,
Uma que cresce.
"Está tudo bem"
sussurra-nos, carinhosa,
"Esquece."
(Mas não esquecemos.)

Sabemos que estamos
no mais fundo de todos
os abismos, sabemos
mas aí ficamos
ricos

nessa piedosa ilusão.



12/07/2018
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