ENDECHA
Ah, quando eu me for desta vida
descansar na paz do meu leito!
Quem chorará, por mim, querida,
uma lágrima comovida
que me orvalhe ao menos no peito
as mágoas que trago escondidas?
Quem à fronte suada e fria
um beijo depositará?
E na extrema-unção d’agonia
o conforto amigo trará?!
Ai... Quem de mim se lembraria
no célere correr dos anos?
E sobre a lájea fria
do peito a flor murcha poria
chorando o funéreo abandono
numa tarde erma e sombria.
Se o mal me devorasse o peito,
eu teria descanso agora!
E às convulsões do morno leito,
viria alívio sem demora.
A alma silente, muda e fria
ruflar as asas bem podia
pela vasta amplidão do céu!
Pelo infinito ir-se embargando.
Nas plagas etéreas cantando
à corte suprema de Deus.
Só assim meu peito fremente
s’esgotaria desta dor!
E sentiria à fronte ardente
passar um sopro animador!
Meu ser a Deus s’elevaria
em adustas preces ao fim do dia
num arquejo terno e profundo.
Mas deixaria nesta endecha
as notas tristes de uma queixa:
“teu amor que objurgou-me no mundo!
descansar na paz do meu leito!
Quem chorará, por mim, querida,
uma lágrima comovida
que me orvalhe ao menos no peito
as mágoas que trago escondidas?
Quem à fronte suada e fria
um beijo depositará?
E na extrema-unção d’agonia
o conforto amigo trará?!
Ai... Quem de mim se lembraria
no célere correr dos anos?
E sobre a lájea fria
do peito a flor murcha poria
chorando o funéreo abandono
numa tarde erma e sombria.
Se o mal me devorasse o peito,
eu teria descanso agora!
E às convulsões do morno leito,
viria alívio sem demora.
A alma silente, muda e fria
ruflar as asas bem podia
pela vasta amplidão do céu!
Pelo infinito ir-se embargando.
Nas plagas etéreas cantando
à corte suprema de Deus.
Só assim meu peito fremente
s’esgotaria desta dor!
E sentiria à fronte ardente
passar um sopro animador!
Meu ser a Deus s’elevaria
em adustas preces ao fim do dia
num arquejo terno e profundo.
Mas deixaria nesta endecha
as notas tristes de uma queixa:
“teu amor que objurgou-me no mundo!
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