Machado de Assis

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional.

1839-06-21 Rio de Janeiro, Brasil
1908-09-29 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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Prémios e Movimentos

Romantismo

Alguns Poemas

Conto do Vigário

DE QUANDO em quando aparece-nos o conto-do-vigário. Tivemo-lo esta semana, bem contado, bem ouvido, bem vendido, porque os autores da composição puderam receber integralmente os lucros do editor.

O conto-do-vigário é o mais antigo gênero de ficção que se conhece. A rigor, pode crer-se que o discurso da serpente, induzindo Eva a comer o fruto proibido, foi o texto primitivo do conto. Mas, se há dúvida sobre isso, não a pode haver quanto ao caso de Jacó e seu sogro. Sabe-se que Jacó propôs a Labão que lhe desse todos os filhos das cabras que nascessem malhados. Labão concordou certo de que muitos trariam uma só cor; mas Jacó, que tinha plano feito, pegou de umas varas de plátano, raspou-as em parte, deixando-as assim brancas e verdes a um tempo, e, havendo-as posto nos tanques, as cabras concebiam com os olhos nas varas, e os filhos saíam malhados. A boa fé de Labão foi assim embaçada pela finura do genro; mas não sei que há na alma humana que Labão é que faz sorrir, ao passo que Jacó passa por um varão arguto e hábil.

O nosso Labão desta semana foi um honesto fazendeiro do Chiaque, estando em uma rua desta cidade, viu aparecer um homem, que lhe perguntou por outra rua. Nem o fazendeiro, nem o outro desconhecido que ali apareceu também, tinha notícia da rua indicada. Grande aflição do primeiro homem recentemente chegado da Bahia, com vinte contos de réis de um tio dele, já falecido, que deixara dezesseis, para os náufragos da Terceira e quatro para a pessoa que se encarregasse da entrega.

Quem é que, nestes ou em quaisquer tempos, perderia tão boa ocasião de ganhar depressa e sem cansaço quatro contos de réis? eu não, nem o leitor, nem o fazendeiro do Chiador, que se ofereceu ao desconhecido para ir com ele depositar na Casa Leitão, Largo de Santa Rita, os dezesseis contos, ficando-lhe os quatro de remuneração.

– Não é preciso que o acompanhe, respondeu o desconhecido; basta que o senhor leve o dinheiro, mas primeiro é melhor juntar a êste o que traz aí consigo.

– Sim, senhor, anuiu o fazendeiro. Sacou do bolso o dinheiro que tinha (um conto e tanto), entregou-o ao desconhecido, e viu perfeitamente que este o juntou ao maço dos vinte; ação análoga à das varas de Jacó. O fazendeiro pegou do maço todo, despediu-se e guiou para o Largo de Santa Rita. Um homem de má fé teria ficado com o dinheiro, sem curar dos náufragos da Terceira, nem da palavra dada. Em vez disso, que seria mais que deslealdade, o portador chegou à Casa do Leitão, e tratou de dar os dezesseis contos, ficando com os quatro de recompensa. Foi então que viu que todas as cabras eram malhadas. O seu próprio dinheiro, que era de uma só cor, corno as ovelhas de Labão, tinha a pele variegada dos jornais velhos do costume.

A prova de que o primeiro movimento não é bom, é que o fazendeiro do Chiador correu logo a polícia; é o que fazem todos ... Mas a polícia, não podendo ir à cata de uma sombra, nem adivinhar a cara e o nome de pessoas hábeis em fugir, como os heróis dos melodramas, não fez mais que distribuir o segundo milheiro do conto-do-vigário, mandando a notícia aos jornais. Eu, se algum dia os contistas me pegassem, trataria antes de recolher os exemplares da primeira edição.

Aos sapientes e pacientes recomendo a bela monografia que podem escrever estudando o conto-do-vigário pelos séculos atras, as suas modificações segundo o tempo, a raça e o clima. A obra, para ser completa, deve ser imensa. É seguramente maior o número das tragédias, tanta é a gente que se tem estripado, esfaqueado, degolado, queimado, enforcado, debaixo deste belo sol, desde as batalhas de Josué até aos combates das ruas de Lima, onde as autoridades sanitárias, segundo telegramas de ontem, esforçam-se grandemente por sanear a cidade "empestada pelos cadáveres que ficam apodrecidos ao ar livre". Lembrai-vos que eram mais de mil, e imaginai que o detestável fedor de gente morta não custa a vitória de um princípio. O conto é menos numeroso, e, seguramente, menos sublime; mas ainda assim ocupa lugar eminente nas obras de ficção. Nem é o tamanho que dá primazia à obra, é a feitura dela. O conto-do-vigário não é propriamente o de Voltaire, Boccaccio ou Andersen, roas é conto, um conto especial, tão célebre como os outros, e mais lucrativo que nenhum.


ASSIS, Machado. Obra completa. Organização de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. 3. p. 650-651. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira).
NOTAS: Terceira. Membros da Ordem Terceira da igreja católica. Voltaire. François-Marie Arouet (1694-1778), escritor francês que se colocou contra a intolerância. Boccaccio. Giovanni Boccaccio (1313-1375), escritor italiano criador da prosa literária de seu país. Andersen. Hans Christian Andersen (1805-1875), escritor dinamarquês que se notabilizou pelo elementos fantásticos de suas narrativas para crianças
Machado de Assis (Rio de Janeiro RJ, 1839-1908) começou a trabalhar aos 16 anos, como tipógrafo aprendiz da Imprensa Nacional. Aos 18, entrou na tipografia de Paula Brito, que publicava o jornal A Marmota Fluminense, onde saiu seu primeiro poema, Ela, em 1855. Nos anos seguintes trabalhou como cronista, crítico literário e teatral de vários jornais, entre eles Correio Mercantil, Ilustração Brasileira, Gazeta de Notícias. Seu primeiro livro de poemas, Crisálidas, foi publicado em 1864. Em 1873, foi nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas; a partir de então teve, como servidor público, uma carreira que lhe deu estabilidade financeira e lhe permitiu dedicar-se mais às atividades de escritor. Em 1897 foi eleito o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, da qual foi um dos fundadores. A poesia de Machado de Assis, considerado o maior romancista brasileiro, é de temática amorosa e, no livro Americanas, Nacionalista. Seus versos dos primeiros livros, Crisálidas e Falenas (1870), revelam a influência de padrões românticos; já em sua fase realista, o autor produziu sonetos parnasianos, nos quais se destacam a preocupação formal, revelada por versos bem metrificados e rimados, e o apuro da linguagem, que passa a expressar o o famoso “pessimismo machadiano”.
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LINDO POEMA ASSIS! NÃO ENTENDI FOI NADA ;-;
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Léo
lindo lindo, isso e que e um poeta!!!!:
17/novembro/2020
ketlyn
lindo adorei!!!
02/outubro/2020
Adriana Rodrigues
Uma preciosidade!
17/junho/2020
Park_Marie
incrivel
01/maio/2020
Gabrielli
Amo esse poeta e todos os poemas dele
24/maio/2019
Adam
A grama do vizinho é sempre mais verde!
22/maio/2019

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