anamariabasso

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Professora, escritora e apaixonada por viagens.

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Alguns Poemas

O Amor (Crônica)

Escrever sobre o amor é coisa fácil, trivial para qualquer escritor. Alguém, em algum tempo, em qualquer lugar, já escreveu sobre ele.
O amor em suas mais diferentes formas.
Sim, o amor não é um só, único, como alguns pintam. O amor tem caras, jeitos, trejeitos, formas, voz, idade, condição, vida e morte. O amor cria, destrói, faz a paz e a guerra. Tudo em seu nome.
O amor é subjetivo ao extremo. Cada um, cada qual, ama do seu jeito.
Uns acham que amam para sempre, como o amor de mãe, o amor pelo Criador, o amor de Romeu por sua Julieta, o amor pela família, pelo companheiro, o amor eterno, que transcende.
Outros acham o amor um sentimento efêmero, que vem e vai, conforme os acontecimentos tomam lugar na vida. Eu explico: apaixona-se, desapaixona-se. Se ama pai e mãe até o dia do divórcio, aí é rancor ladeira abaixo, não que o amor acabe, mas fica diferente. Ama-se durante a vida e, após o suspiro final, cai-se no esquecimento. E por aí vai. Cada qual, cada um.
Eu amo muitas pessoas nessa vida. Amo viajar, amo ler, escrever. Mas se esse amor é para sempre, aí já são outros quinhentos. Esse sentimento é variável. Sobre as pessoas, umas eu amo mais, outras já nem tanto. Mas o amor está presente, às vezes mais, às vezes menos. Esse é o meu amor, a forma como eu o sinto.
Conheço pessoas que amam ao extremo, sacrificam o seu eu pelo amor do outro, como se fosse algo saudável, algo que completa o seu ser. A meu ver, um infeliz.
Conheço pessoas que amam a Deus sobre todas as coisas. Que outras coisas seriam essas? Sua vida? Seus filhos? Sua família? Seu lar? Seu time de futebol? Seu carro? Mas Deus não está em tudo isso? Não dá para amar a Deus e todas essas coisas igualmente? Por que tem que ser sobre todas as coisas? Não acho saudável.
Já o amor pelas coisas fungíveis, ah, esse é incondicional. Ama-se tanto as coisas que se mata por elas. Esse amor é das trevas, ou qualquer coisa que se associe ao mau.
Nos últimos tempos, um amor que tem crescido e se expandido é o do homem pelos animais. Parece que o ser humano descobriu no bicho de estimação um amor sem cobranças, um amor que pode até ser unilateral, mas que continuará sendo a mais sincera forma de amor.
O primeiro amor merece atenção especial aqui. O primeiro amor é genuíno, puro, acontece por acaso, acelera o coração, dói o peito, angustia, sente uma saudade imensa, é pura química. Esse amor a gente guarda pra toda a vida. Alguns sortudos o tem para sempre, outros o tem por alguns dias ou semanas. Feliz daquele que já sentiu esse amor e foi correspondido.
O amor impossível, ah, esse já foi retratado em vários romances e filmes. Aquele amor cheio de sofrimento, sacrifício. Orfeu e Eurídice, Tristão e Isolda, Marco Antônio e Cleópatra, Romeu e Julieta, são símbolos de amores levados o extremo de sua existência.
“Enquanto Eros, tirano, nos escraviza às paixões, o amor platônico não é repressor, mas faz o homem procurar saber o que é esse amor.” Essa frase eu li num artigo sobre “O mito do amor impossível”. Achei interessante a referência ao deus do amor com “um tirano”.
Diz-se que vivemos três amores durante nossa passagem por esse planeta: o primeiro, o grande e o eterno amor. Sim, caro leitor, o eterno amor...
E você, já viveu qual deles?

A Louca (Crônica)

Pensei em vários títulos para essa história, e depois de lerem o que vou contar, vão concordar comigo.
O dia prometia transcorrer normalmente: acordar num dia de férias, visitar minha mãe e me despedir de minha irmã que retornaria de sua viagem de férias, brincar com minha sobrinha de lindos olhos azuis e comer bolo e pão de queijo com café. Porém, ver uma louca se jogar do quarto andar de um apart-hotel, definitivamente não estava nos meus planos.
Ao atravessar a última esquina que levaria ao prédio de minha mãe, um grito que veio do apart-hotel à minha direita me chamou a atenção, e quando olhei na direção e me deparei com uma mulher de calcinha preta e camiseta vermelha se lançando sobre a pequena sacada do apartamento, me senti como se assistindo a um filme. Cobri os olhos para não ver o que eu realmente via, uma louca se lançando sobre a sacada, mudando de ideia na metade do caminho e se agarrando ao parapeito da sacada para não cair.
Numa questão de segundos pensei na minha covardia em não querer olhar e, quem sabe, poder ajudar aquela louca a mudar de ideia. Voltei meu olhar para a louca pendurada na sacada e lá de dentro do apartamento saiu um homem que rapidamente a agarrou pelos braços. Ela ficou lá, tentando apoiar as pernas em algo e gritando não sei o que.
Começou a juntar gente, eu olhava para a louca pendurada, olhava para baixo onde ela provavelmente cairia, olhava para o homem que tentava segurá-la, olhava para um senhor que surgiu no segundo andar e ficou a olhar a multidão que se formava e comecei a gritar para ele que chamasse a polícia.
Vi quando o porteiro do apart-hotel saiu correndo em direção à portaria, vi quando o homem que segurava a louca pediu que ela tivesse calma, vi quando um senhor de terno azul escuro parou do meu lado com seu celular na mão e vi quando alguns carros pararam na esquina e de dentro deles saíram seus motoristas para ver o que estava acontecendo ali.
Eu gritei novamente para o senhor no segundo andar! “Chame a polícia!” Mas a sensação que eu tinha era de que ninguém me ouvia, e a louca continuava pendurada.
O senhor de terno azul marinho que estava parado ao meu lado, muito calmamente me perguntou se o número do bombeiro era 193. Eu olhei para ele e me dei em conta de que meu celular estava no bolso da minha calça preta. Ao pegá-lo tentei ligar 190, mas eu não me concentrava no teclado e disquei 199. Cancelei a discagem, olhei novamente em direção à louca dependurada na sacada do quarto andar e percebi que o homem que a agarrava pelos braços estava obtendo sucesso em puxá-la para cima e para dentro. Mais uma vez eu tentei discar 190 e quando no meu celular acusou “chamando”, o homem conseguiu salvar a louca de sua queda mortal.
Que alívio! Cancelei a ligação para a polícia.
O senhor de terno azul marinho do meu lado murmurou algo que eu não entendi e seguiu o seu caminho. As pessoas que haviam saído de seus carros para ver a louca cair também seguiram seus caminhos. A multidão que se formara na frente do apart-hotel se dispersou e eu fiquei ali parada por mais alguns instantes, para ver se alguém apareceria na sacada do quarto andar pra dizer que estava tudo bem, mas o homem e a louca sumiram para dentro do apartamento.
Devolvi meu celular para o meu bolso e disse para mim mesma: “que louca”.
Voltei a caminhar na direção do prédio da minha mãe que se encontrava há alguns metros e meus pensamentos fervilhavam. O que poderia ter levado aquela louca a tentar se matar? Sim, porque foi exatamente o que ela fez, ela se jogou lá de cima, mas um milésimo de segundo de bom senso a fez mudar de ideia e se agarrar ao parapeito. Seria desespero por um amor não correspondido? Seria chantagem por um pedido não realizado? Ou seria algum tipo de doença mental que acometia aquela pobre jovem?
Quando cheguei ao meu destino, me pus a chorar abraçada à minha irmã que estava de visitas. Ela pensou que eu tivesse sido assaltada ou coisa parecida, e, aos prantos, contei o que eu acabara de presenciar. Minha outra irmã chegou em seguida e quis saber também o que tinha acontecido.
Agora, contando a história da louca, penso em suicidas pelo mundo afora. Se Deus nos deu o livre arbítrio, então cometer suicídio é uma escolha individual, da qual ninguém deve se intrometer ou impedir, ou não? Eu sou livre e faço da minha vida o que bem entender, inclusive acabar com ela, ou não?
Mas e depois dela, da morte, o que virá? A escuridão para os suicidas? Quem disse?
Seria um covarde aquele que tira a própria vida ou um covarde aquele que não tem coragem de tirá-la?
Para a minha verdade, sei que quero viver. Preferiria viver sem ter que ver pessoas pulando de sacadas, mas se tiver a má sorte de presenciar novamente coisas do tipo, tentarei agir mais rápido com relação ao meu celular no bolso da minha calça.
Nesse dia, mal sabia eu que alguém muito próximo e que eu amava muito, teria o êxito que a louca não teve por causa do milésimo de segundo.
 

Uma Prosa com o Mar (Crônica)

Que privilégio é acordar como o dueto do vento com as folhas dos coqueiros logo ali, de frente à minha janela. O mar, mais adiante, também contribui para o meu despertar com o vai e vem das ondas. Shuááááá...
Aqui, acordar com o sol é uma rotina. Cinco e meia da manhã ele me desperta com um belo raio de bom dia que entra pela fresta da cortina.
Esse cantinho do Planeta se tornou um lugar especial. Onde estou? Numa praia, bem onde o mar é poeta.
Num desses belos dias vividos aqui, pulei da cama às seis da matina e fui fazer minha corrida. A maré estava baixa e as piscinas naturais cintilavam no horizonte com diversos tons de verde. Descalça, dispus-me a caminhar pelas leves ondas que quebravam aos meus pés. De repente, com uma voz suave e firme, ele falou:
- Bom dia, senhora Ana. Sempre por aqui a essa hora. Vai caminhar ou correr hoje?
Eu olhei para os lados para ver quem falava comigo. Não encontrando ninguém, parei e tirei os fones de ouvido para ter certeza de que ouvi algo. Fiquei assim por uns segundos, parada, olhando à minha volta. Confesso que fiquei assustada. Retomei minha passada já pronta para iniciar minha corrida quando ele me falou de novo.
- Senhora Ana, sou eu quem lhe falo, o Mar.
Mais que depressa tirei novamente os fones de ouvido, parei e com um passo para trás gritei:
- Quem está aí?
- Como quem?  Eu, o Mar, seu companheiro de todas as manhãs de corridas. Não se assuste, mas há dias que quero lhe falar.
- Mar? Como o Mar? – Olhando para todos os lados para ter certeza de que estava realmente sozinha, me preparei para sair dali o mais rápido possível.
- Não se vá. Não tenhas medo. – Ele disse.
Olhei para as ondas que beijavam meus pés suavemente e arrisquei um diálogo.
- Estás falando comigo, senhor Mar? O que me faz merecedora de tamanha honra?
- Sua gentileza comigo te faz merecedora.
- Minha gentiliza, poderias ser mais específico? - Indaguei.
- Claro. – Respondeu-me o Mar. - Sempre que caminhas por mim vejo que a senhora recolhe o lixo que eu coloco para fora, isso me agrada. Não aguento mais tanto lixo! Estão me sufocando.
- Ah, o lixo. – Respondi pausadamente, tentando encontrar as palavras certas. - Realmente, o lixo é algo terrível, o plástico principalmente. Não sei onde vamos parar com tanta irresponsabilidade do ser humano. Peço desculpas por nós.
Já mais tranquila e realmente acreditando que estava falando com o todo poderoso Oceano Atlântico, me sentei nas suas areias brancas e finas e continuei com nossa prosa.
- O senhor fala com todos que por aqui passam e catam o lixo?
- Não, falo só com os escolhidos e antes que me perguntes por que a escolhi para essa palra, já te respondo, pois além de seres cuidadosa comigo, és bela.
- Bela eu? Então se eu fosse feia não falarias comigo? Belo galanteador estás me saindo.
- Provavelmente não. - Respondeu o Oceano, que descobri um sedutor também com as palavras. - Como disse o poeta, “que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental”.
- E o senhor conhece Vinícius como?
- Eu inspiro muitos poetas, escritores, cientistas, compositores, e com Vinícius de Moraes eu fui além. Conheces esses versos? - E o Mar começou a citar o poeta Vinícius. - “Dá ao meu verso, mar, a ligeireza, a graça de teu ritmo renovado.”, “Eu sou, mar, tu bens sabe, teu discípulo. Que nunca digas, mar, que não foste meu mestre.”, “Sento-me, mar, a ouvir-te. Te sentarias tu, mar, para escutar-me?”.
Fiquei ali, em silencio, com o acompanhamento melodioso do vento, a ouvir os “Versos soltos no Mar”, declamados nada mais nada menos do que pelo grande senhor Mar.
- “Aqui jaz o mar. Nem ele mesmo soube jamais o número de ondas que desfez o seu sonho”. - Eu o interrompi com um trecho do verso. Essa é minha estrofe favorita. - Eu disse.
Absorvendo cada palavra que o Mar me dizia, fiquei ali com ele. Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas foi surpreendente. Falamos sobre o céu, a lua, o sol, sobre mim e sobre ele.
- Já engoli muitos barcos, navios, até transatlânticos. Não sinto prazer nisso, mas me parece que sua espécie sente prazer em testar bombas em minhas águas. - Disse o Mar desgostoso com o rumo que tomava nossa conversa. Falávamos sobre a fúria das marés que vez por outra assolava embarcações e até mesmo terras firmes.
- É, o homem não tem limites mesmo, principalmente em se tratando de material bélico.
Nossa prosa foi da poesia para a destruição dos mares por armas nucleares em teste, tsunamis provocados por terremotos, aquecimento global, o que o senhor Mar achou uma grande lorota, e lixo, muito lixo jogado nos mares.
Me chamou a atenção o fato dele achar uma “grande lorota” o assunto sobre aquecimento global, e perguntei:
- O senhor não concorda com tudo o que falam sobre o aquecimento do globo, dos mares?
- Aquecimento ou resfriamento, um ou outro são efeitos climáticos e não tem nada a ver com o lixo, com a poluição em geral. A temperatura da Terra sempre passou por ciclos de resfriamento e aquecimento não causados pelo CO2, nem pela ação de vocês, humanos. É tudo um conchavo entre os grandes e poderosos para vender produtos, manter patentes que interferirão no consumo e no modo de produção. Lembre-se, essa promoção toda da mídia, sobre o fim do mundo é, no mínimo, questionável. Investigue! - Palavras do Mar.
- Mas toda essa poluição, esse lixo que o senhor tanto se queixa nas suas águas, não está destruindo, influenciando o andar da carruagem do nosso Planeta? - Perguntei.
-Não. Com relação ao aquecimento é falácia, mas a poluição, essa sim, tem que ser controlada.
O senhor Mar começou a ficar irritadiço com o assunto, as lembranças ruins e pediu-me que mudássemos o rumo da conversa.
Foi aí que resolvi contar-lhe sobre minha veia poética e frases, muitas frases que nós, humanos, usávamos para exaltá-lo, um pouco como os “Versos” de Vinícius. E comecei...
- “Um A no início e o mar fica infinito”
- “Felicidade é um fim de tarde olhando o mar.”
- “O fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas...”
- “Minha essência é mudar; não me basta ser rio, se eu posso ser mar.”
E para terminar, concluí com “A cura para tudo é sempre água salgada: o suor, as lágrimas ou o mar.”
O senhor Mar, em júbilo com todo o meu amor por ele expresso em frases soltas, me beijou o corpo com uma onda forte que me molhou toda. Protestei, mas já toda molhada, resolvi entrar em suas águas e beijar-lhe a face branca das ondas.
Um longo tempo se passou enquanto tagarelávamos. Era hora de eu voltar para casa sem minha corrida matinal, mas mais apaixonada do que nunca por ele, o senhor Mar.
Despedi-me com um aceno e perguntei-lhe:
- Falarás comigo amanhã quando por aqui eu passar?
- Obviamente que sim. Lembre-se que você foi escolhida. Falarei com você sempre.  Até breve.
- Até breve, meu poeta.
E saí a caminhar de volta para casa, pronta para acordar de um lindo sonho com o mar.
 

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