A ROSA E A DAMA DA NOITE
A Rosa soberba,
(Como são todas as rosas!)
Começou falando assim:
- Eu sou bela e desejada,
Sou a flor mais cobiçada,
Sou do seio da realeza.
Sou a rainha deste jardim.
- Do universo das plantas.
Sou sinônimo de beleza.
Sou a que a todos encanta.
Não te invejas de mim?
Timidamente a plantinha,
Meio ressabiada
Viu que com ela falava,
Uma rosa assoberbada.
(Como são todas as rosas!)
De fala mansa e baixinha,
Respondeu envergonhada,
Aquela árvore pequena,
De copa farta e verdinha:
- Também vivo neste jardim.
Não sou parte da nobreza,
Nem tenho tanta beleza.
Mas isso, não importa para mim!
- Meu nome é Dama da Noite
Ao teu dispor, Majestade!
Rainha, rosa carmim.
A rosa não satisfeita,
Tentando apequenar a estima
Da pobre Dama da Noite.
Não se tomou por rogada
E partiu para o açoite.
- Como podes não te importar
Em ser tão insignificante?
Em ter tronco tão rústico?
Em não ter flores brilhantes?
Em não encantar aos que passam?
E nem inebriar aos amantes?
- Das plantas, és só mais uma!
Isso não te causa vergonha?
Tu vives anonimato.
Nem se pareces com planta.
Tens aparência de mato!
A dama da noite encolhida,
Tentando achar uma resposta,
Olhou a rosa soberba
(Como são todas as rosas!)
E disse com convicção:
- Desculpe, se não te agrado
Não é minha intenção.
Mas nunca achei necessário
Ter dos outros, aprovação.
- Realmente bela Rainha.
Não tenho flores brilhantes
Que inebriam amantes.
Meu tronco é rústico e feio.
Minha aparência é simplória.
Porém, desculpe a franqueza,
Com que me dirijo à nobreza,
Para contar uma história.
- Esse meu lenhoso tronco,
Fincado firme no solo,
Não me deixa vacilar.
Quando enfrento as intempéries
Que a vida constantemente,
Insiste em me apresentar.
- E mesmo com toda a dureza,
Aliada a pouca beleza
De minhas hastes torcidas.
Sou despida de espinhos
Não causo nos outros, ferida.
- E é verdade quando dizes
Que não tenho flores brilhantes,
Nem sedosas como as tuas.
Minhas flores são pequenas
E passam despercebidas.
Porém, quando eu miro a lua,
Elas exalam minha essência
Para a deusa de quatro fases,
À qual presto reverência.
Àquela, que no céu flutua!
- E a essência exalada,
Em noites enluaradas,
Sem nenhuma falsa modéstia.
Te afirmo:
Tem feitiço!
E inebria qualquer um.
Inclusive aos amantes!
- Compreenda, Majestade!
Amantes que se beijaram
Envoltos no meu perfume
Jamais se esqueceram
(E jamais se esquecerão!)
Das noites passadas em claro.
Do cheiro que eu exalo
Dos gostos que eles trocaram
E das mãos que passearam
- Se me permites ainda,
Óh! Rainha do meu jardim.
Aproveitando meu afoite,
Afirmo com toda certeza
Não há amantes que esqueçam
O aroma da Dama da noite
- E com humildade, Rainha!
Vos digo mais uma coisa
Que me veio à mente agora.
Mesmo não tendo a beleza
Nem o esplendor da senhora
Isso para mim não importa.
Eu não vivo de aparências!
Eu vivo da minha essência!
Que é simples, mas não simplória.
Kenedy Galo – 20/03/2019