Malu Buono

Malu Buono

Malu Buono, Escritora, Atriz e Modelo. Tem uma Editora, a Editora Eunoia de livros e músicas online, e uma revista,Revista Zaria publicada pela Decitree. Redatora na Escritas.org Portugal, autora do seu primeiro livro Agridoce que está na Editora Casa Del Libro Espanha e Editora Feltrinelli Itália.

São Paulo
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Carlos.

Da minha saga de textos intitulado Antônimos.

A primeira vez que li não entendi muito.
Sussurros me diziam ao pé do ouvido:
-Claro que é mentira, erros de dados da internet.
Mas no fundo, uma sensação quente, como água fervendo pro café me dizia também: 
- Isso pode fazer parte daquilo que ela dizia no passado, eu acho que é verdade.
Verifique números, datas, idades, tempos, nomes de pessoas, e tudo bateu. Putz é isso mesmo!

Instantaneamente presenciei passado e presente, num looping fracional, parece que eu olhava minha pele, meu corpo, meu agora e não reconhecia.
Uma mentira tem o poder de fazer toda uma verdade se quebrar sim, eu senti esse gosto.
Vi diante de mim meus meses, anos e etapas todas distorcidas, até mesmo coisas que eu nem sabia do porque, agora tô aqui, sentada, com os joelhos no chão, não sei se agradeço ou se choro.

Olhar atravessado, pensamentos distantes fazem parte desse meu cotidiano de agora, e de novo, olha, eu achava que não existia mais destino, mas ele existe sim, eu como sempre somente não o entendi ainda.

Como será que ele teria sido ? Será que iria parecer o pai? Ou ela ? 
Será que ele iria ter um pouco de mim? Ou não? Será que ela amaria mais ele por ter sido com ''ele'' ? do que a mim? Essa estranha sensação não sai do meu peito, batendo bem forte, tentando tirar lascas do coração.

"Você precisa entender! Ele foi seu irmão, você só soube disso agora !"

Como que pode alguém saber da existência de outra pessoa assim, no dia a dia ? Normal né ? Acontece ? 
Mas pra mim não, não entra na minha cabeça, mudou tudo, parece que estou tendo que configurar meu eu de novo, ninguém teve empatia.
E nem peço por mim, peço por aquela menina que cresceu tomada, detida, é por ela, que não entendia nada, mas que abaixou a cabeça, que seguiu tudo direitinho e quando errou, quase morreu.

Eu tô com pena dela, se machucou tanto e nem sabia do porque, agora como que ela faz para apagar os machucados da pele, e bem pior, da memória?

Sabe Carlos, eu fico pensando, como ela reagiu a sua morte, como que ela chorou, o quanto sentiu, e se fosse hoje? Eu perguntaria: 
-  Mãe, tá pensando no que, que está com o olhar tão distante agora, encostada na porta?
-Nada filha, tô pensando no Carlos.

Como explicar tal diálogo para essa menina ? 

O ruído e as flores lá de fora, permanecem no positivismo me mandando encarar e continuar, eu tô tentando, juro, eu preciso só de tempo para entender essa turbulência dentro desse novo caos, eu preciso entender além do meu agora, preciso voltar no passado, e explicar para aquela menina tudo isso, e esperar pacientemente que ela entenda, daquele adeus, das proibições, dos nãos, que eu acho que ela tinha direito de ter vivido sim, daquela linha reta que ela tentou seguir sim, mas que caiu, e ela não teve culpa. Eu preciso explicar para ela que não teve culpa de nada, que uma coisa, uma decisão e vontade de outra pessoa, não intencionalmente, arruinaram aquele momento, o meu momento.
Eu preciso agora que ela mais que entenda, que ela consiga me olhar de volta sem me culpar pelo hoje.

       ''Ao meu irmão que não conheci''. Sua vida foi sentida como brasa de fogo encostada na pele.
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