Velório diurno, na noite do enterro, cercado pelo ambiente de sempre ou de quase sempre, acordou, mas não se levantou, ficou pensando com algum esforço, ainda flutuando na noite do enterro, sem saber se réu ou vítima, amnésia total, sem saber se vítima e algoz de si,* percebeu um rosto, outro e mais outros, mas ninguém lhe preencheu os requisitos da empatia, não conhecia nenhum daqueles traços, daqueles poros nunca sentira, com certeza, nunca lhes sentira o suor e o odor, então, onde e com quem estava ? à mercê de qual embuste estava, mesmo já estando na única dimensão na qual não é possível digressão alguma, nada a cobrar, nada a postegar, nada de c'est fini, nada de pequena morte, e outras tolices grassando nos currais, hipódromos, bacanais, plantações de girassol, de beterraba, enfim, onde houver homem e mulher, e outras encruzilhadas, desvios, ingências mil.
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*: Alusão a um verso de Dante Milano (1889-1991)