Vinicius Souza

Vinicius Souza

Apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco ou parentes importantes!

1990-07-31
1971
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Alguns Poemas

O pescador

O pescador

Atentei-me com reverência

aos olhos temerários daquele simpático homem,

cujas cicatrizes e barba cerrada

acusavam-lhe o desembargo de uma perigosa jornada,

incursa pelos mares gélidos da solidão.

Mesmo diante dos dissabores

e dos Leviatãs, percebia-se pronto

para um novo e tempestuoso desafio.

A terra parecia queimar-lhe os pés.

O vento fisgava-lhe a alma.

E sem nenhuma honraria

ou engodo profícuo,

aquele humilde pescador,

partia sempre para oeste

em busca de um sol já poente.

Encantava-me a modéstia de sua voz,

e a sabedoria distorcida nos gestos.

Aquele velho pescador

jamais degustara os discursos socráticos

ou mesmo o cinismo de Diógenes.

No entanto, detinha o conhecimento dos deuses

no simples arquear de sua rede.

O mundo era seu navio.

Quando acossado pela tempestade

a qual navegava miseravelmente,

conservava no interior de seu olhar longínquo

um porto acolhedor,

em alguma terra auspiciosa.

Mas não me deixo enganar,

não era o porto seu autêntico lar.

O porto é compassivo,

há segurança, conforto

e principalmente companhia.

Toda aquela hospitalidade

revelava-se um risco para o seu navio.

Seu lar, sua família

eram o navio e as longas odisséias solitárias.

O mar era seu universo,

um palco despretensioso

e privado de qualquer platéia.

Suas façanhas, suas batalhas,

as quimeras vencidas

eram apenas de seu particular deleite.

"Enche as velas com todo ímpeto

para lançar-me da costa",

bradava o pescador a si mesmo.

Assim, combatia os ventos sorrateiros

que o impeliam de volta ás rochas da familiaridade.

Se falhasse, era sábio:

o naufrago inevitavelmente viria.

Era isso que amava:

seu único amigo

incorporado o mais mortal inimigo.

Nesse intrépido esforço

para crivar-se da terra servil,

é que consagrava sua verdadeira liberdade.

Conduze-te com austeridade

ó pescador! ó deus encarnado e inculto!

Navegava sobre as alturas,

entre a morte oceânica

rumo a sua eternidade.

As Quatro Estações

Havia chegado a primavera,

e todos os ventos apontavam

para um horizonte belo e auspicioso.

As promessas eram vivas e verdadeiras.

Os olhos continham um fulgor

melódico e opulente,

como de uma pobre criança faminta.

Na primavera

o tempo engatinhava

e minha janela pairava sempre aberta.

O mel e a seiva acusavam sempre para o norte

onde os sonhos ganhavam asas.

A dança celestial entre os lírios,

impelia-me sempre avante.

Então veio o verão,

e o caminho tornou-se ínvio.

As pegadas deliam-se atrás de mim

num remoto deserto.

O ar tornou-se tórrido e sufocante.

O zênite, antes profícuo

parecia saltar as abóbodas do universo

a cada passada em seu ritmo.

Nem água, nem brisa.

Só fogo e labor.

Asas cansadas

temendo um último adejar.

Mas, não findava ali minha missão.

Chegara o outono,

entre as florestas secas e sombrias,

por lobos, minha alma foi afugentada.

Eram inumeráveis

como pontos no espaço.

As folhas, agora adotavam

um negrume funesto e lúgubre.

O mundo tornara-se inerte e incolor.

As paixões de outrora,

jaziam soturnas,

Junto à folhagem, já sem vida e cadavérica.

A escuridão à frente

entorpecia a menor esperança.

O céu agora acinzentado,

ignorava qualquer contato espectral.

Estava só entre feras sedentas...

Eis que chegou o inverno.

E com as últimas forças

galguei para o sul.

Lá, instalei-me entre loucos

e essa, foi a minha melhor estadia.

No frio estridente,

fui aquecido

pelos ternos abraços da loucura.

No mar insípido e sem vida

observei um pequeno peixe saltar.

Finalmente, encontrara vida.

Ironicamente, no lugar onde menos procurei.

-
eunicespina
Parabéns!
23/março/2018

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