Maria Gabriela Llansol

Maria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim, mais conhecida, simplesmente, como Maria Gabriela Llansol foi uma escritora portuguesa.

1931-11-24 Lisboa
2008-03-03 Sintra
4046
1
3


Alguns Poemas

Como a chuva não cessasse de cair em caudais,

Como a chuva não cessasse de cair em caudais,
Tiras de tinta começaram a aparecer na fotografia
O tecto da chuva rompera o abrigo da sua alma
E o verde circulava a deriva rompendo as plantas.
Elvira deixara cair seus olhos de objectiva nas
Folhas verdes. Verificava que era sobre elas e como
Elas que sempre olhara a natureza. Ver o real
Em folhas era amá-lo ininterruptamente. Essa
Contiguidade acabara por compor uma rede
Que tinha tanto de próximo como de diferente,
E a chuva não era chuva, transparecia. Eis, pensou.
Por que chove na fotografia, por que chove
Em correntes sobre as folhas?
*
Se as sete notas das sete da manhã fossem uma
Figura, e os sons da rua sua serva, seria possível
Encontrar a relação que existe por acústica
Entre uma borboleta e uma borboleta protegendo
Em vão sua vida e cor. Não há nada de estranho
Nessa relação figural. Por exemplo, Pita
(E é a sua primeira vez) pôde sentir num tecido
Branco que chorava manso a efectiva resistência
Às lágrimas que a habita em fúria.
*
Não se convence que a escrita e a vida vão a par,
Descontadas diferenças de velocidade e alguma
Galhardia no tempo. O corpo demora a experimentar.
Usa-se. É o facto dos afectos. Entrou na vida? Entrou
Na escrita floral dos fiéis de amor. Não quer, todavia,
Abri-la, ainda menos lê-la. E tão teimosamente o faz
Que dificilmente um novo perfume entre sede e planta
Lhe subirá pelo caule. Ó rapariga, quando te irá cheirar
A luar libidinal?
*
Passar a voz ao papel,
Ou do ladrar à rosácea,
Trova, é escrever. Estava
Ele, atônito, não vislumbrando
Como ia tanta palavra
Caber na rosácea.
Era óbvio que uma delas
Serviria de estaca,
E as restantes de rosas
No caule ainda por vir.
Quando a frase rosna,
Não há outro remédio.
*
A boca aerticulava em voz alta, servindo-se
Dos seus outros instrumentos, o palato, a língua
E os dentes. Do movimento, brotavam rumores,
Interstícios e uma grande orbita de nomeação.
Diferente é o ponto fulcral do urbano. Sulcos
E memórias confluem para uma iluminação
Incipiente. No urbano, o aparelho fônico
É excedente.
Escritora portuguesa de ascendência espanhola, nascida em Lisboa. Licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas, tendo trabalhado em áreas relacionadas com problemas educacionais. Em 1965, abandonou Portugal para se fixar na Bélgica. Regressou há alguns anos a Portugal. Considerada uma autora cuja escrita é hermética e de difícil inteligibilidade para o leitor comum, é, no entanto, apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea. A sua carreira literária iniciou-se com Os Pregos na Erva (1962), obra que inaugurou uma nova forma de escrever, embora estruturalmente se assemelhe a um livro de contos. Publicou de seguida Depois de os Pregos na Erva (1972), O Livro das Comunidades (1977), A Restante Vida (1983), Na Casa de Julho e Agosto (1984), Causa Amante (1984), Contos do Mal Errante (1986), Da Sebe ao Ser (1988), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), com evidentes ressonâncias autobiográficas, Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso (1994), Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música (1995), Ardente Texto Joshua (1998) e Onde Vais Drama Poesia? (2000). No caso de Maria Gabriela Llansol dificilmente se podem aplicar designações tradicionais como conto, romance ou mesmo diário. Apesar de se detectarem elementos tradicionais da narrativa, as suas obras, mais do que narrativas, são conjuntos de pequenos quadros e meditações. A acção localiza-se geralmente na Alemanha ou em regiões próximas, nos primórdios do Renascimento, num ambiente fantástico em que à volta de Copérnico, Isabol ou Hadewijch se movimentam personagens inspirados em pensadores místicos como San Juan de la Cruz e Eckhart e filósofos como Nietzsche e Espinosa. Os diários Um Falcão em Punho (1985), considerado o ponto de viragem no que toca à cada vez maior inteligibilidade da sua escrita, e Finita (1987), distinguem-se das obras ficcionais pela sua aparente ordenação cronológica e pelas reflexões sobre a concepção materialista em que se baseia a mística e a poética da autora. Um dos traços mais marcantes de toda a sua produção consiste na constante negação da escrita representativa, com inserção no texto de diferentes caracteres tipográficos, espaços em branco, traços que dividem o texto, perguntas de retórica, aspectos que contribuem para a sensação de estranheza que os seus textos provocam
 Maria Gabriela Llansol foi uma escritora portuguesa, nascida em Lisboa a 24 de novembro de 1931. Publicou inúmeros livros, sempre transitando entre gêneros e borrando a fronteira entre eles, do diário ao romance, da poesia ao ensaio. Esta será uma postagem em constante crescimento e desdobramento, como a própria obra de Llansol. Começamos com textos de seu livro O começo de um livro é precioso (2003). Esta postagem é dedicada a Érica Zíngano, que me apresentou há dois anos o trabalho de Llansol, e que vem desenvolvendo em Portugal um trabalho crítico a respeito de sua obra.
 
 
--- Ricardo Domeneck
 
 
FLP2021 — LIÇÕES#2 | A FLORESTA DAS INTENSIDADES: ROMANTIZAR O MUNDO COM MARIA GABRIELA LLANSOL
Esperar Por Ti É Toda Uma Religião | Poema de Maria Gabriela Llansol narração de Mundo Dos Poemas
María Sánchez: "María Gabriela Llansol: escribir, un río interminable"
Já Agora - Espaço Llansol / Maria Gabriela Llansol
Maria Gabriela Llansol | Um Encontro Imprevisto | Entrevista
COLÓQUIO MARIA GABRIELA LLANSOL – 90 ANOS - um corpo futuro e aberto ao coração do legente
Maria Gabriela Llansol
Leituras Literárias 2 - Maria Gabriela Llansol e o livro que não há
COLÓQUIO MARIA GABRIELA LLANSOL – 90 ANOS - um corpo futuro e aberto ao coração do legente
COLÓQUIO MARIA GABRIELA LLANSOL – 90 ANOS - um corpo futuro e aberto ao coração do legente
REDEMOINHO-POEMA _ MARIA GABRIELA LLANSOL
" Eu vou envelhecer ..." de maria gabriela llansol
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | eu nasci em 1931 [extract]
Presentación de "Geografía de rebeldes" de Mª Gabriela Llansol
Maria Gabriela Llansol - Livro de horas I - Ó meu amigo.wmv
Terceira Confidência. Lucia Castello Branco com Maria Gabriela Llansol
Érica Zíngano empresta sua voz a Maria Gabriela Llansol
Maria Gabriela Llansol | Hélia Correia | amar um cão [extract]
Je l'ai regardée en face..., Maria Gabriela Llansol
La maison nous reconnaitra t elle ?..., Maria Gabriela Llansol
Saber esperar alguém by Maria Gabriela llansol
Ep 4 Maria Gabriela Llansol Changed My Life
Maria Gabriela Llansol: Um Encontro Imprevisto
Para Maria Gabriela Llansol, em 24 de Novembro 2011
COLÓQUIO MARIA GABRIELA LLANSOL – 90 ANOS - um corpo futuro e aberto ao coração do legente
O Menino Literatura/Maria Gabriela Llansol - Tela de Graça Martins
Maria Gabriela Llansol | António Cardoso Pinto | finita [extract]
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | a primeira qualidade [extract]
"Entre a Voz e o Poema" - leituras de M. Gabriela Llansol
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | eu, gabriela, na hora da grande decisão [extract]
Agostinho Costa Sousa lê "O Azul Imperfeito", de Maria Gabriela Llansol
Maria Gabriela Llansol | Véronique Vella | la maison nous reconnaîtra t'elle ? [extract]
Poetas do Povo #DESEJO #(maria gabriela llansol)# Anamar # 12 Maio 2014
Maria Gabriela Llansol | Fátima Dinis | desço as escadas [extract]
Maria Gabriela Llansol por João Barrento (Audio)
Nous regardons..., Maria Gabriela Llansol
Inês Henriques lê "O Sonho é um Grande Escritor", de Maria Gabriela Llansol
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | escrever é agora um lugar fechado [extract]
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | comprei este caderno [extract]
Maria Gabriela Llansol | António José Cravo | eu vou envelhecer [extract]
Maria Gabriela Llansol | Um Encontro Imprevisto
Pátio lê Maria Gabriela Llansol - Episódio Três
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | abri a porta da casa [extract]
Maria Gabriela Llansol | João Barrento | ana de peñalosa dialoga [extract]
Maria Gabriela Llansol | Véronique Vella | deux fenêtres en diagonale [extract]
Maria Gabriela Llansol | Marta Chaves | eu nasci em 1931 [extract]
Et quand bien même..., Maria Gabriela Llansol
Inês Henriques lê "Todos os Dias uma Carta", de Maria Gabriela Llansol
Mar de Llansol
Emily Dickinson em trânsito com Marguerite Duras e Maria Gabriela Llansol

Quem Gosta

Seguidores