Aizinhos
Ah, meu amigo,
minhas dores
são sem sal
Não sabem o nome
da rosa
nem colhem as flores
do mal
São dorzinhas
pequeninhas,
imaginárias
reais,
sobem descem
pela espinha
queimando febres
locais
Essas dores,
meu amigo,
tem caráter
intestinal
não enxergam
além do umbigo
nem acusam
o mal social
Bem quisera
as minhas dores
fossem mágoas
mais morais
que abraçassem
o mundo inteiro
me irmanassem
aos marginais
Ou quem dera
a dor, amigo,
não fosse
apenas carnal
e esta mera
dor de ouvido
me elevasse
ao celestial
Me dói tanto,
caro amigo,
doer dores
tão banais
essas penas
chinfrinzinhas
puramente
corporais
Tantas vezes
fantasio
sofrer moléstia
abissal
ou tormento
tão pungente
que me turve
a luz da mente
e me ascenda
ao surreal!
Chega o dia,
mano velho,
que algum achaque
fatal
(talvez desgosto
mais sério)
me traga a cura
afinal
soprando o pó
do mistério
dessa indolência
animal