Eu já perdi as contas dos roteiros,
desses filmes de baixo orçamento que eu assisti.
O primeiro, um clássico drama romântico na cena,
um falso francês que queria ser cult.
Convidou a mocinha pra jantar,
derramou um copo d`água,
e no lenço, escondeu um batom vermelho,
revelando que era um português zero à esquerda (ou à direita?).
Um gênio das letras miúdas,
tão miúdas que ele não lia os próprios fracassos.
Os zeros que acumulava em cada ato,
uma bilheteria vazia, uma crítica implacável, nota 2.
Depois, um diplomata de quinta,
encontrado numa dessas viagens perdidas.
A viajante até caiu na história dele,
mas ele se perdia no próprio Direito Internacional.
Queria o mundo na palma da mão,
e está há sete anos preso na faculdade.
A única diplomacia que ele fez
foi escandalizar com uma conta de sexo explícito.
Um filme sem clímax, só cenas repetidas.
Em seguida, a tentativa de suspense que virou pastelão,
era para ser um prodígio do petróleo e da fé.
A cientista até acreditou em suas falácias,
e indicou ele pra outras pessoas,
mas ele não aguentou a primeira perfuração.
Trocou a engenharia e a bíblia pela beleza superficial,
porque o passado o desvelaria feio,
e a física não criou a teoria do caráter
e ele esqueceu do pecado da vaidade.
Dissecou na própria ambição de esquina,
um final anticlimático.
E o último, um documentário de negócios,
desses que você encontra na sexta à noite, na Lapa,
onde o personagem mentia as contas do tempo.
Mentia os anos, e quem sabe a vida,
tentando enganar a empresária com números forjados,
tanto que os repetiu várias vezes.
Mesmo não sendo a melhor em matemática,
ela não deixou o erro passar.
Nesse filme, o único que reprovou
foi ele mesmo.
Luzes acendem, e eu sentada na poltrona da sala,
percebo que não perdi o meu tempo.
Eu só perdi uns trocados nos ingressos,
e assisti na primeira fileira
a grande falha de cada roteiro.
No final das contas, sou a única que saiu
desse cinema rindo, mesmo que a sessão tenha durado algumas horas.