Alguns Poemas

🔵 Mineirando — Clube da Esquina




A vantagem de gostar de um compositor quase desconhecido e distante do “mainstream” é que jamais haverá o constrangimento dele expor suas falibilidades num “reality show” tipo ‘Big Brother’ ou ‘A Fazenda’. Qualquer mito não se sustenta no primeiro episódio.




Sei que nunca vou surpreender o artista que admiro passando vergonha num programa besta de auditório, participando de alguma gincana de subcelebridades ou numa propaganda de refrigerante. Pretendo estar certo de que nunca precisarei assistir a um programa enfadonho de entrevistas.




Esta é uma das vantagens de apreciar somente a obra de um artista. Quando, como neste caso, é a música, a vantagem é ainda melhor, pois a obra pode ser reproduzida. Outro benefício é sua rara aparição vir com algum ineditismo.




Woody Allen, Roman Polansky e Michael Jackson, entre outros, não resistiram a pouca ou muita exposição. Falando no Michael Jackson, sempre foi improvável encontrá-lo na rua. Numa farmácia a possibilidade aumentaria consideravelmente, mas ainda assim as chances seriam remotas.




No entanto, como talento e fama podem ser inversamente proporcionais, minha incomum estética musical gerou um episódio positivo. Gostando de canções que falam de “Chuva na Montanha”, “vento solar e estrelas do mar”, “Trem Azul” e “Paisagem na Janela” e com harmonias, digamos, complicadas, me livrei de ouvi-las entre “as 10 ” ou “A preferida do ouvinte”.




A visita aos pais, o filho chorando porque queria um chocolate, essas simples sucessões de acontecimentos ocasionaram um encontro que não ocorreria com algum astro inalcançável. Portanto, um acontecimento prosaico, que pode ser chamado de coincidência ou sincronicidade, fez eu conhecer o artista. 




Foi assim que conheci Lô Borges do Clube da Esquina, num espaço geográfico que nunca foi clube, mas, literalmente, uma esquina. Numa rotina, em vez do assessor encontrei o músico no cruzamento das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Teresa em Belo Horizonte. 




Música encrustada nas montanhas: tem que ser garimpada.

🔵 Trilha sonora

Pneus cheios, freios funcionando e pedais tracionando a bicicleta eram suficientes para andar na noite paulistana.




O som nos fones de ouvido impediam a audição necessária para permanecer atento ao trânsito e, principalmente, aos alertas sonoros: buzinas, motores e, nunca se sabe, xingamentos. Somente os faróis denunciariam alguma aproximação.




Os shows da “Virada Cultural” já indicavam o que viria a ser: o ‘Lollapalooza” da “Cracolândia”. Uma garrafa com álcool de cozinha, corante vermelho e talvez açúcar, o “vinho químico”, animava as apresentações de rua. A ‘Virada Cultural’ sempre foi melhor aproveitada com a fuga a bordo de uma veloz bicicleta ou, no dia seguinte, na segurança de um jornal.




À distância, o meu ponto de vista havia mudado com a movimentação das portas das boates. Aquela aglomeração exigia muita atenção, principalmente com os motoristas que partiam bêbados. Parar e assistir às expectativas de quem chegava, e as decepções de quem saía da balada me municiava da perspectiva de quem via aquela encenação de fora e sem nenhuma pretensão.




Depois desse experimento social, segui vencendo a esburacada malha asfáltica e outras intervenções da Prefeitura: sofridas subidas, descidas quase suicidas, retas velozes, curvas arriscadas, paralelepípedos e calçadas compunham o trajeto repleto de cenários urbanos e aspectos antropológicos.




As antenas da Avenida Paulista indicavam que chegara o principal objetivo da “viagem” noturna. A avenida turística dava falsas sensações de chegada, tranquilidade e segurança. Aquele sossego, silêncio e vazio, bem como a ausência de acidentes geográficos a vencer convidavam a relaxar, contemplar a paisagem urbana, pensar na vida e a um passeio menos aventureiro e mais contemplativo. Ou seja, menos “sangue nos zóio” e mais respiração.




A volta contava com um pouco mais de descontração, velocidade, destemor e, por isso mesmo, risco de morte (risco de vida eu tive quando nasci). Meia hora antes de chegar em casa, a pausa para a água de coco era obrigatória. Isso me fazia sentir mais saudável.




Dobrando a última esquina, às 4 da madrugada, na minha rua, ao invés de relaxar eu aumentava a atenção, a paranoia só cessava quando eu guardava a bicicleta e encerrava a minha trilha sonora.

🔴 A jabuticaba — ditadura democrática

Para nossa atenção, há um preocupante recrudescimento do uso da palavra “democracia”. Não deveria ser assim, mas é. Sem precisar citar nomes, assisti a absurdas figuras esvaziando o real significado do termo, à medida que atrofiavam-no.




Cheios de péssimas intenções, esses estelionatários falam em “democracia”, enquanto puxam a sua carteira. Como um mágico, eles atraem as atenções para uma mão, enquanto a outra executa o truque. Atualmente, para ligar o “pisca-alerta”, e desconfiar das intenções, basta eu ouvir a palavra mágica “democracia”.




Um exemplo notório de desvirtuamento do real significado das palavras é “antifascista” e suas variantes. Duas torcidas organizadas, com as mãos tingidas de sangue, deram-se as mãos para, hipocritamente, lutarem pela pauta “do bem”; escondidas numa embalagem simpática; o Muro de Berlim disfarçava suas real vocação sob um nome singelo: Muro de Proteção Antifascista; países como Coreia do Norte e Alemanha Oriental escondem e escondiam regimes ditatoriais atrás de termos edulcorantes: República Popular Democrática da Coreia, República Democrática do Vietnã e República Democrática Alemã provam que a estratégia é antiga.




Outras concentrações de poder político e econômico estampavam o nome inócuo: Argélia, Nepal, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe, Sri Lanka, Congo, Laos e Etiópia. Mesmo não exibindo no nome, países, como o Irã, vêm agindo antidemocraticamente sob o beneplácito da palavra tão democrática.




Parece a ficção  de George Orwell ‘1984’, entretanto a tática de esvaziar de sentido as palavras ainda captura os corações desatentos e inocentes. Afinal, “guerra é paz”, “liberdade é escravidão” e “ignorância é força” ou, como estava escrito na entrada do campo de concentração em Auschwitz: “O trabalho liberta”.




Lenin falava em “ditadura democrática operário-camponesa”. O palavrão desafia a lógica, pois é um oxímoro em termos. A besteira que Lenin cometeu levou ao paroxismo o direito de enfiar duas palavras mutuamente excludentes na mesma frase. A China é um país ditatorial que se absteve de ostentar “Democrática” no nome, porém traz, em sua Constituição, o conceito de “ditadura democrática”.




Caramba!

🔵 Eu poderia estar roubando, matando...







Eu apenas preciso que o transporte me leve do ponto A para o ponto B. Mas não é isso o que acontece. Sobretudo nos trens, vendedores oferecem comidas — à base de corante, aromatizante, conservante, acidulante e gordura vegetal — vencidas em troca do meu sagrado dinheirinho.




Eles surgem por baixo das catracas dos ônibus ou do fundo do vagão do Metrô ou trem ameaçando os passageiros com o seguinte discurso: “Eu poderia estar roubando, poderia estar matando, mas estou vendendo estas balas…”. Para despertar alguma empatia, a desgraça não podia ser pouca, então ele elencou um combo de mazelas para todos os seus familiares. Exemplos: unha encravada, câncer, desemprego e dívidas. De cara, sou levado a pensar: Que cara legal! Depois, penso: Que azar, mas ao menos ele tem alternativas, eu sou obrigado a cumprir meu horário na empresa. Finalmente, raciocino melhor e concluo: se ele poderia estar roubando ou matando, a vítima poderia ser eu. Isso foi uma ameaça. 




Entretanto, enquanto eu fiquei filosofando, o vendedor — que tão generosamente optou por trabalhar em vez de roubar e matar —, ligeiramente, equilibrou um pacote de balas sobre minha coxa esquerda. Eu observei aquilo, confesso, ignorando a desastrosa estratégia de venda, esperando que o objeto fosse recolhido ou minha estação chegasse. Mas resolvi examinar a embalagem. Além de exibir um vencimento digno de interdição da Anvisa, o pacotinho denunciava que o doce viajou, em diversos colos, do Tucuruvi ao Jabaquara umas quatro vezes.




Dirigindo, também não escapo dos ambulantes. Percebo que não há nada por perto, quando sou retido pelo semáforo (sinaleira) vermelho. Durante algum tempo, foi uma coqueluche em São Paulo os circos-escolas. A iniciativa foi boa, contudo o que se viu foi a proliferação de mendigos malabaristas nos semáforos. Começaram a aparecer mímicos. Bastava acender a luz vermelha para a faixa de pedestres virar um picadeiro. No início, até que era legal, os mímicos, com a cara cheia de pó-de-arroz e usando um chapéu coco, coloriam o dia com ares de Cirque du Soleil; mas, pouco tempo depois, eu tinha vontade de, quando o farol verde abrisse, sair como um carro de Fórmula 1.




No trânsito, nas Marginais ou nas rodovias, por mais isolado que seja o local, sempre surge, do nada, um vendedor de videogame ou carregador de celular. Eu me pergunto: quem compra um videogame Polystation nessa situação (os em qualquer outra)? Nunca me passou pela cabeça, alguém resolvendo comprar um videogame no trânsito. Tem que ser muito desavisado e ter muita fé para crer que um aparelho da Polystation, adquirido nessas condições, vai funcionar.

🔴 O poder das palavras

O Projeto de Lei 2630, chamado de PL das “Fake News”, regula as redes sociais, proibindo as “fake news”, o discurso de ódio e os discursos extremistas. Posto assim, parece até bom. No entanto, o intuito não é bom como parece. O relator da lei (deputado Orlando Silva - PC do B) revela as reais intenções e quem vai decidir o que é “fake news”, discurso de ódio e discursos extremistas. 




Atitudes de ditador vêm em suaves prestações, e é isso o que está acontecendo. Não podendo ser algo ruim, a palavra “democracia”, quando utilizada, antecede (ou acompanha) uma arbitrariedade.




As Organizações Globo “deram uma força” e comemoraram a chegada de Lula ao poder. Como parecia óbvio, a Globo é uma entusiasta da regulação, como ficou evidente no editorial do jornal ‘O Globo’. Como em 1964, novamente, eles estão do lado errado.




Estão apoiando novamente interesses ditatoriais por interesses práticos: financeiros, comerciais e trabalhistas. O governo federal, deixando tudo bom para ambas as partes, despejou uma “grana socialista” na imprensa. Enquanto isso, ninguém quer estrelar o “passaralho” global e que as propagandas, que correram para a internet, sumam.




O apelido “Fake News” (notícias falsas) atribui ao projeto um valor positivo, afinal, ninguém deve ser favorável às notícias falsas. Quando você ouve, assiste e lê que essa lei será votada com urgência, sem informação não há como ser contra. Porém, a internet veio anular essa “Espiral do Silêncio”, mostrando que a opinião da imprensa não é a maioria nem hegemônica. E que as manchetes ou chamadas atendem a interesses particulares.

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Democracia, ninguém é contra; “fake news”, mesmo não sabendo o significado, ninguém é a favor (ao menos em público). Essas expressões são utilizadas, como coringas, para defender interesses inconfessáveis.




Exemplo 1: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, protelou a instalação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro. Para tornar as escusas palatáveis, ele disfarçou tudo com a palavra “democracia”. 




Exemplo 2: defendendo interesses muito particulares, usa-se a imprensa para manipular a opinião pública (engenharia social). Todo e qualquer veículo de mídia visa ao lucro e poder. A internet transferiu esses ativos ao indivíduo.  Restou à imprensa disseminar o medo.  A “fake news”, o “discurso de ódio” e os “discursos extremistas” cumprem esse papel.




Palavras ganharam um novo significado (genocida, fascista, golpe, terrorista, extremista, democracia), subestimando a inteligência da massa. O pior é que funciona! Tem método.

🔴 O encantador de serpentes




Em agosto, Natuza Neri, da GloboNews, relatou como Lula circulava nos salões republicanos sendo tratado como um verdadeiro presidente, ao contrário de um Jair Bolsonaro sisudo e escanteado. É fácil imaginar a plausibilidade da cena, pois Lula franqueou facilmente o acesso aos cofres públicos a qualquer espectro político. Além de tudo, é fácil imaginá-lo circulando com desenvoltura como um mafioso pelos salões de Brasília.




Natuza Neri, ao contrário de preocupada, parecia deslumbrada a ponto de chamar Lula de mito. Sim, ela não chama Bolsonaro de mito porque, para a jornalista, mito e futuro presidente é o petista. Fica óbvio que a moça está sofrendo da Síndrome de Estocolmo em estágio avançado e irreversível ou é uma dedicada funcionária das Organizações Globo, para a qual ela dedica todo o seu empenho, acima até de sua própria honestidade e moral. 




Nas andanças do petista, não houve a participação orgânica do povo. Para Lula, com mais uma demonstração de que não está interessado no que o povo necessita, basta o beneplácito de juristas, empresários, políticos e “amigos” aliados. Depois, ficamos assistindo, bestificados, o trânsito frenético de dinheiro.




Aliás, durante esta campanha eleitoral ficou muito claro como Lula domina a arte da demagogia; ou seja, ele ajusta o teor do discurso, de acordo com a composição da audiência. O resultado deste comportamento: contradições. Se o palavrório é para empresários, economistas, juristas etc, o discurso é responsável, edulcorado para agradar aos ouvidos pró-mercado; para uma audiência sindicalista, aparentemente excluída, majoritariamente sedenta por sangue e querendo seguir lideranças explosivas, o papo é incendiário, inflamando uma turba ensandecida para pegar em armas e fazer a eternamente prometida revolução. Esse é o Lula. 




Ciro Gomes chamou Lula de “encantador de serpentes”. Mesmo não sendo literalmente uma serpente, Merval Pereira, também da GloboNews, ficou encantado com as coxas do ex-presidiário. Essa observação anatômica não qualifica ninguém para um cargo público, mas talvez aos olhos e preferências do jornalista, foram as qualidades encontradas. Definitivamente, para agradar o chefe e garantir o emprego, esse é o subterfúgio do Merval Pereira.






🔴 O homem de plástico







João Doria desistiu de ser presidente. E eu desisti de namorar a modelo israelense Yael Shelbia Cohen. Sei que é crueldade deixar a menina chorando, mas, além de possuir um nome impronunciável, a garota mora longe.




Voltando ao Doria, o cara é tão vaidoso que transformou sua despedida num espetáculo lamentável com dois capítulos. Acontece que o ex-governador não abdicou de concorrer à Presidência, o povo, já havia muito tempo, tinha desistido dele. O homem de plástico ainda tentou sinalizar que a decisão era sua, mas não colou.




Doria conspirou contra o governo federal, aumentou impostos, quis fazer uma propaganda com a vacina, adotou medidas insanas sanitárias, fingiu que se mascarava e trancou tudo. Comprometeu o estado de São Paulo, levando adiante uma rixa pessoal; quem levou a pior foi o paulista, que sentiu o alívio provocado por sua saída prematura. O morador dos Jardins fez o estrago e saiu fora.




Agora, João Doria poderá frequentar restaurantes estrelados e dar seus pulos no ‘Copacabana Palace’ e em Miami sem ser importunado. Se quiser, só será obrigado a encontrar alguém da plebe, quando esbarrar com algum dos seus empregados: aí basta cumprimentar com um meneio de cabeça ou, no máximo, perguntar se “esse ano o Curintia vai?”. Sem essa de comer pastel.




Doria sai da política para ser apenas um triste retrato no Palácio dos Bandeirantes, lembrando um mandato incompleto de poucas realizações. Lembrando que a Prefeitura também recebeu uma gestão inconclusa. Sabendo que Doria usava seus cargos como trampolins, o que viria após a Presidência? A ONU?




O ex-postulante a postulante ao Palácio do Planalto foi protagonista de um dos episódios mais abjetos da política brasileira: o Impagável Bolsodoria. O que parece o nome de um super-herói atrapalhado, é a tentativa desesperada de Doria derrotar Márcio França, seu concorrente ao governo paulista. Depois da bajulação explícita, numa outra atitude desastrada, ele abandonou Bolsonaro. Deixou de ser Bolsodoria, tornou-se Calça-apedada.




João Doria deixa a vida pública para voltar para a privada.

🔵 Telespectador na linha



Tinha a impressão que apenas eu estava assistindo àquele programa do canal guarulhense. A atração realmente era muito fraquinha: as apresentadoras eram esforçadas; o cenário, amador; os convidados, risíveis; e as atrações musicais, constrangedoras.




Apesar de ser um picareta histórico, o convidado falava sobre um tema pertinente aos guarulhenses, como eu. Depois de uma longa deliberação individual, resolvi ligar e fazer a minha pergunta.




Como foi a primeira vez que interagi com um programa ao vivo, achei aquilo curioso e divertido. Fiz uma pergunta besta qualquer e, talvez demonstrando não ir com a cara do entrevistado, debati ao telefone. Depois de terminado o “combate”, elogiei as apresentadoras e terminei a desastrosa participação.




Ainda foi “cometida” uma atração musical de gosto duvidoso. Parece que tentando garantir aquele recorde de público, as apresentadoras prometeram que no final do show haveria o sorteio do novo CD do grupo. Após um solilóquio interno, aceitei suportar o odioso conjunto de sambinha paulista.




A minha solitária audiência ao show da televisão local foi contemplada com o disquinho do grupo desconhecido de pagode dos anos 90. Eu não gostava de pagode, mas como tratava-se de um prêmio, decidi retirá-lo.




Era uma sexta-feira, estava indo a pé até a rádio. Eu fazia questão de aquela prenda não me obrigar a desembolsar nem sequer o dinheiro do ônibus. Enquanto eu andava, fui refletindo se valia andar tanto e ainda ouvir o “troféu” que eu fazia questão de receber.




No fim, ponderei as vantagens e desvantagens de reclamar o prêmio do certame. Então concluí que não compensava conspurcar minha coleção fonográfica, arriscando meu gosto musical. Ignorei o meu brinde, dando meia-volta.




Hoje penso, seria excêntrico ter um “compact disc” de um grupo obscuro de pagode com um nome ridículo tipo “Esperanssamba” ou “Corassamba” e rimando “amor com dor” ou “razão com paixão”. Seria, pelo menos, uma boa lembrança de quando eu justifiquei a existência daquele programinha, quase artesanal, do canal UHF que encontrei entre a Globo e a MTV.

Chorão — Marginal Alado 🔘




Excelente o documentário “Chorão - Marginal Alado”. Documentário, que deveria ser um filme, tem mais a característica de uma biografia do vocalista da banda “Charlie Brown Jr.”. Embora, além do ótimo baixista Champignon, a banda tivesse bons músicos, quem se destacava era o Chorão — muito pela personalidade explosiva. Ele foi um roqueiro de verdade, com a tal “atitude” antes de a palavra virar modinha e esvaziar-se. 




Alexandre Magno Abrão, o Chorão, iniciou como “bandleader” “metendo o pé na porta”. Ele subiu no palco para “brincar”, enquanto o vocalista ia ao banheiro. Cantou uma do “Suicidal Tendencies”,  a galera pirou e ele ficou em cima de um palco até o fim da vida.




O documentário passeia por diversas fases do músico, bem como do “Charlie Brown”. “Brother” ou marrento — Marcelo Camelo, João Gordo e Champignon conheceram a fúria de Chorão —, o cara foi a tradução do (mau) comportamento de um roqueiro. O filme enriquece muito e ganha aspecto de documentário clássico com depoimentos da esposa, filho, amigos, inimigos e músicos (a banda “Charlie Brown Jr.”, Marcelo Nova, João Gordo, Zeca Baleiro etc).




Chorão, o Marginal Alado, cantava e discursava com a linguagem da molecada (preferencialmente aquela que os pais não compreendem). Usando mais palavrões do que vírgulas e dando conselhos tão óbvios quanto livro de autoajuda de banca de jornal, ele falava direto, como quem conhecia os atalhos, sem parecer piegas. O roqueiro e skatista foi a síntese do “faça o que eu falo, não faça o que eu faço”.




Apesar de aparentemente possuir tudo o que uma pessoa quer ter, algo o deixava introspectivo. Essa introspecção escancarou a solidão no centro da multidão. O marginal entrou demais para a sociedade que ele gostaria de estar distante. Tudo isso levou à fuga mais destrutiva: drogas. Essa combinação era perfeita para resultar no óbvio. Sim, a tendência suicida venceu novamente.




Eu não considero “spoilers” fatos tão conhecidos porque foram muito noticiados, mas quem ainda não sabe da história completa, o documentário traz algumas surpresas.

🔵 Sangue, assombrações e notícias falsas

O trabalho da Universidade sugeria uma ideia ousada. Não foi difícil e instigante aprovar a sugestão de garimpar as reportagens sensacionais e sensacionalistas do, então moribundo, jornal ‘Notícias Populares’.




Eu fiquei encarregado de ir até o prédio do jornal ‘Folha de São Paulo’ pesquisar os arquivos do mítico jornal popular e popularesco. Esse jornal era do tipo “espreme que sai sangue, imprensa marrom e/ou sensacionalista”. Essa estigmatização é enganosa porque parte da publicação era deliberadamente absurda, cabendo ao leitor o discernimento.

 

O ‘Notícias’ estampava com destaque na primeira página lendas urbanas, bestas quase mitológicas, acontecimentos impossíveis e manifestações cômicas como se fossem  fatos urgentes. As notícias falsas não sofreram a falsa preocupação política nem a criação do carimbo “fake news” (eufemismo para esconder a censura).




Naquele tempo, a ‘Folha de São Paulo’ ainda merecia credibilidade e uma reverência. Portanto, para quem cursava Jornalismo, aquele edifício da alameda Barão de Limeira era um objetivo. Fui entrando e cada pessoa com quem eu conversava, cada setor por qual passava, eu confirmava o imaginário, bem como as expectativas.




Eu prestava atenção na fotocopiadora, enquanto me “embriagava” com o arquivo do ‘Notícias’ e espiava a movimentação frenética da Redação da ‘Folha’. Manchetes históricas, bem como absurdas, do ‘Bebê Diabo’ e ‘Chupa-cabra’ me mantiveram ocupado, enquanto eram folheadas, e contribuíram para que o tempo passasse rápido e meu trabalho não merecesse esse nome. 




Antes de abandonar o centro da cidade, um refrigerante na padaria ajudaria na recordação de tudo o que acabara de acontecer. Mesmo recém-ocorrido, aquilo já merecia a lembrança. 




À noite, bastaria relatar ao grupo o meu enorme “altruísmo” por ter ocupado a minha tarde selecionando o material do jornal ‘NP’. Na sala de aula, para o trabalho, bastou que eu reproduzisse as matérias do memorável jornal ‘Notícias Populares’ e deixasse sua popularidade falar por si.

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