

Alexandre Rodrigues da Costa
Alexandre Rodrigues da Costa possui graduação em Letras pela UFMG (1997), mestrado em Letras pela UFMG, e doutorado em Letras pela UFMG.
1972-01-25 Belo Horizonte
16087
3
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ZUGZWANG PARA EVELYN MCHALE
I
Sempre começa assim,
com a queda de um talvez
vários corpos,
ao mesmo tempo caindo
e presos aos olhos
de quem não sabe o que verá.
O silêncio fornece os detalhes,
o corpo e o seu túmulo
na capota de um carro.
“Quando ela morreu,
usava luvas brancas
e um colar de pérolas”.
Que importância isso tem,
se entre ossos e carne,
a aposta se fez salto
e ela aniquilou-se na felicidade
o suficiente para não ser menos
do que o abraço
de alguém prestes a se afogar?
A foto mostra a sucata
aberta para o seu corpo.
Não vemos mais
que o pé descalço,
no limite dos nomes,
interrompido pelos nomes.
O rosto despreza a noite,
a importância que lhe dão.
II
Como classificar
a morte, dizer, por exemplo,
que ela praticou
o mais belo suicídio,
se, ali, ela não era,
mas sempre foi este instante
sempre encoberto?
Onde excede a procura,
nunca conseguirá despir-se,
arrancar da pele os olhos,
sem afirmar o que a põe em dúvida,
mesmo que se perca onde
não se deixe levar.
Esgotada a distância,
o corpo permanece em queda,
a desmoronar diante de nós,
com o rosto de súbito voltado
para dentro,
memórias de uma criança sempre
a matar a criança já morta.
Seria ali como aqui,
na devida altura,
antes e depois, inventada,
muda,
com palavras debaixo
das pálpebras.
Sempre começa assim,
com a queda de um talvez
vários corpos,
ao mesmo tempo caindo
e presos aos olhos
de quem não sabe o que verá.
O silêncio fornece os detalhes,
o corpo e o seu túmulo
na capota de um carro.
“Quando ela morreu,
usava luvas brancas
e um colar de pérolas”.
Que importância isso tem,
se entre ossos e carne,
a aposta se fez salto
e ela aniquilou-se na felicidade
o suficiente para não ser menos
do que o abraço
de alguém prestes a se afogar?
A foto mostra a sucata
aberta para o seu corpo.
Não vemos mais
que o pé descalço,
no limite dos nomes,
interrompido pelos nomes.
O rosto despreza a noite,
a importância que lhe dão.
II
Como classificar
a morte, dizer, por exemplo,
que ela praticou
o mais belo suicídio,
se, ali, ela não era,
mas sempre foi este instante
sempre encoberto?
Onde excede a procura,
nunca conseguirá despir-se,
arrancar da pele os olhos,
sem afirmar o que a põe em dúvida,
mesmo que se perca onde
não se deixe levar.
Esgotada a distância,
o corpo permanece em queda,
a desmoronar diante de nós,
com o rosto de súbito voltado
para dentro,
memórias de uma criança sempre
a matar a criança já morta.
Seria ali como aqui,
na devida altura,
antes e depois, inventada,
muda,
com palavras debaixo
das pálpebras.
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