A caçada
...Havia ido à floresta num dia de chuva durante o mês de fevereiro. Tinha em mãos uma espingarda carregada. Andava em busca da “Resposta” – animal cujo é conhecido, reza a lenda, por resolver milhões de problemas e até mesmo dar paz às almas mais inquietas-. O tempo passava e noite avançava, havia caído do céu um punhado de estrelas e elas se esparramaram em milhões de pontilhados meio ao tecido negro noturno. Tinha pressa de encontrar sua ave ; boatos diziam que ele poderia ser encontrada a qualquer momento , mas teria que se estar bem preparado para recebê-la , pois ela é um animal orgulhoso e apenas se curva a quem mostra solene respeito diante dela , caso contrário ela foge de quem a procura e nunca mais reaparece na vida daquela pessoa. Tinha tanta pressa para capturar o animal que até criou certa obsessão em encontrá-la. As mãos gelavam enquanto segurava a frio a arma de fogo e o vento cortava de tal maneira que o obrigou a fechar as abas do casaco longo e camuflado. Os passos davam de cara ao silêncio absoluto, quando, de repente, avistou a ave-resposta sobrevoando com suas penas negras por cima das árvores e ,com a ânsia dominando o sangue, as mãos empunharam brutalmente a arme de fogo que numa explosão , num estrondo , num disparo de força descomunal , o brilho da pólvora queimada trespassou toda a escuridão naquele momento. Caia do céu, como um anjo expulso do paraíso, um embrulho sujo de sangue num vermelho tão violento que brilhava à luz da lua. O objetivo fora alcançado e a ave-resposta seguia mata adentro. Eufórico, foi buscar seu prêmio, correndo ansiosamente em direção a queda. Corria, arfava, a tensão agitava seu coração, os olhos fechavam pelo vento que vinha contrário. Logo em frente havia um penhasco. Corria desesperadamente até que, num tombo, encontrou-se rolando ladeira abaixo... Estirado no chão, vê seu prêmio fugindo aleijado e deixando um rastro de sangue. Cortando o ar o seu canto dizia: - “Desista...Desista...Desista! Estão no limbo todos aqueles que perceberam que a verdade apenas vem tarde demais!” O caçador agonizava trespassado pelas estacas que tão docemente observaram-no desde que tropeçou no penhasco.
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