Inês Reis

Inês Reis

inesreisx

1997-01-13 Portugal
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Memórias de uma velha.

Sinto que timidamente, retorno à escrita como se de ao longe acenasse a uma afastada  amiga de infância. As condições são perfeitas: me sinto inspirada e me encontro só. 

Ontem celebrei mais um ano e me emocionei. Confesso que não planejei chegar onde  estou, ser como sou ou de ter deixado levar a vida o que me levou... memórias. 

Me lembro daquele dia que, enquanto fazia de seu peito almofada, me falou que não  existiam almas gêmeas. Que elas se encontram espalhadas em milhares de corpos que por  aí vagueiam e que por sua vez, continuam nessa incessante e romântica procura sem  enxergarem que se encontram todos os dias.  

Acreditei. E me lembro também que reprimi o choro e de seguida, beijei seus lábios  ferventes ao sabor do chocolate quente que tínhamos tomado lá fora durante mais uma das  diárias partidas de xadrez. 

As pessoas: era esse o nosso tópico de conversa favorito. Afinal, estudar o comportamento  humano é deveras interessante, assim como o seu corpo, que a maioria infelizmente  considera promíscuo. E por isso despendíamos horas entre museus e galerias, a apreciar  cada traço e curva que os artistas haviam esculpido ou pregado na parede. Transcendíamos  a matéria e as pessoas não o entendiam. 

Incrível como após todos este anos ainda sofro de insônias. Ele adormece primeiro e então,  lhe ajeito os cabelos que caem sobre seu rosto que viaja noutra dimensão. A sua pele  insanamente se mantém morena e os seus olhos cinzentos claros continuam a petrificar  quem os fite. Mas eu, estou velha. O peito outrora firme, se tornou mole. O cabelo castanho  loiro à luz do sol, desvaneceu. E a face antes lisa, ganhou expressão através dos milhares de  lágrimas e risos.  

Apago a luz, aconchego-me e agradeço. Escrevo este texto mal engomado só para mim.  Para lhe dizer que de entre todos, é apenas para ele que a minha alma sorri. 



Inês Reis
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