Uma reles crónica
Vejo corpos flácidos,
E corpos de um Inverno trabalhados.
Um casal de namorados que se abraça na água. Um corpo que ao sol adormece e queima a mágoa. As crianças procuram aventura e da vista de seus progenitores se afastam.
Sacudiram toalhas e meus olhos de areia se recolheram. Decidi escrever.
Está sol, vento e cheiro a maresia.
Outro adequado local à escrita, porém, não haveria. Do outro lado avisto o palácio.
Abrigou Jacqueline Kennedy e hoje um tanto de graffiti e curiosos o invadem. Está em degrado.
Mas não posso reclamar, já o invadi e saboreei a exclusiva vista para o mar.
Atrás está minha avó, sentada numa daquelas típicas cadeiras de praia enquanto faz palavras cruzadas. Já eu e minha mãe, nos encontramos do sol, mais que torradas. Nota-se que os tempos são outros.
Telemóveis ocupam as mãos outrora ansiosas pela próxima cartada.
Mas as pessoas são as mesmas.
Estão um pouco melhores, verdade.
Mas incutida está ainda a portuguesa vaidade. Privados e luxuosos barcos navegam no rio,
Estamos perto de uma marina
Construída depois que o capitalismo, a Natureza invadiu. Ainda não fui à água. Nenhuma de nós, aliás. O vento não pára e de tal, ainda não fomos capaz. Talvez apenas fiquemos a apreciar o momento. Acho que neste mundo, é esse o melhor contento. Por isso observo e continuo a observar.
Tenho o lápis na mão que do papel não se faz desapegar. Gosto de pássaros e de os alimentar.
Ontem parti uns bocados perdidos de pão que uma senhora não fez questão de esmigalhar. Que agonia de ver os pombos os desesperadamente picar!
O vento levanta os chapéus de sol.
Tenho medo que algum me acerte e por isso mantenho-me alerta.
Já ouvi espanhol, inglês e francês.
Imigrantes que a casa hoje regressam, é bom. Incredulamente, nota-se que é nas crianças de hoje em dia que as nossas esperanças precisamos depositar. Pelo segundo dia de praia vejo uma criatura plástico apanhar. De perto de seus pertences recolhe para o depois reciclar. E os adultos
incentivam! Acho que às vezes, apenas temos que acreditar.
Não vi golfinhos, nosso símbolo municipal...
Limito-me ao meu redor absorver.
Vejo grávidas, idosos e infelizmente pais com seus filhos gritar...
Oh meu deus, um jet-ski acabou de passar!
Uma das minhas perdições, som e movimento de mil e uma sensações. A habilitação um dia irei de tirar! Afinal que melhor rima com mar senão por aí navegar?
A um metro de frente, está um casal meio velho. Não conversam mas de igual modo observam. Estão em perfeita sintonia e as típicas conversas foram substituídas por uma mútua e muda energia. Quero isso.
Quero filhos, quero casar, quero escrever e a Deus por cada dia agradecer.
Quero também e agora, parar de escrever...
Irei na areia meu corpo continuar a repousar. Os sentidos contudo, continuam apurados.
E se alguém este texto ler,
Por favor, lembrem-se de viver!
Inês Reis
E corpos de um Inverno trabalhados.
Um casal de namorados que se abraça na água. Um corpo que ao sol adormece e queima a mágoa. As crianças procuram aventura e da vista de seus progenitores se afastam.
Sacudiram toalhas e meus olhos de areia se recolheram. Decidi escrever.
Está sol, vento e cheiro a maresia.
Outro adequado local à escrita, porém, não haveria. Do outro lado avisto o palácio.
Abrigou Jacqueline Kennedy e hoje um tanto de graffiti e curiosos o invadem. Está em degrado.
Mas não posso reclamar, já o invadi e saboreei a exclusiva vista para o mar.
Atrás está minha avó, sentada numa daquelas típicas cadeiras de praia enquanto faz palavras cruzadas. Já eu e minha mãe, nos encontramos do sol, mais que torradas. Nota-se que os tempos são outros.
Telemóveis ocupam as mãos outrora ansiosas pela próxima cartada.
Mas as pessoas são as mesmas.
Estão um pouco melhores, verdade.
Mas incutida está ainda a portuguesa vaidade. Privados e luxuosos barcos navegam no rio,
Estamos perto de uma marina
Construída depois que o capitalismo, a Natureza invadiu. Ainda não fui à água. Nenhuma de nós, aliás. O vento não pára e de tal, ainda não fomos capaz. Talvez apenas fiquemos a apreciar o momento. Acho que neste mundo, é esse o melhor contento. Por isso observo e continuo a observar.
Tenho o lápis na mão que do papel não se faz desapegar. Gosto de pássaros e de os alimentar.
Ontem parti uns bocados perdidos de pão que uma senhora não fez questão de esmigalhar. Que agonia de ver os pombos os desesperadamente picar!
O vento levanta os chapéus de sol.
Tenho medo que algum me acerte e por isso mantenho-me alerta.
Já ouvi espanhol, inglês e francês.
Imigrantes que a casa hoje regressam, é bom. Incredulamente, nota-se que é nas crianças de hoje em dia que as nossas esperanças precisamos depositar. Pelo segundo dia de praia vejo uma criatura plástico apanhar. De perto de seus pertences recolhe para o depois reciclar. E os adultos
incentivam! Acho que às vezes, apenas temos que acreditar.
Não vi golfinhos, nosso símbolo municipal...
Limito-me ao meu redor absorver.
Vejo grávidas, idosos e infelizmente pais com seus filhos gritar...
Oh meu deus, um jet-ski acabou de passar!
Uma das minhas perdições, som e movimento de mil e uma sensações. A habilitação um dia irei de tirar! Afinal que melhor rima com mar senão por aí navegar?
A um metro de frente, está um casal meio velho. Não conversam mas de igual modo observam. Estão em perfeita sintonia e as típicas conversas foram substituídas por uma mútua e muda energia. Quero isso.
Quero filhos, quero casar, quero escrever e a Deus por cada dia agradecer.
Quero também e agora, parar de escrever...
Irei na areia meu corpo continuar a repousar. Os sentidos contudo, continuam apurados.
E se alguém este texto ler,
Por favor, lembrem-se de viver!
Inês Reis
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