Inês Reis

Inês Reis

inesreisx

1997-01-13 Portugal
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Uma reles crónica

Vejo corpos flácidos,  

E corpos de um Inverno trabalhados.  

Um casal de namorados que se abraça na água. Um corpo que ao sol adormece e queima a mágoa. As crianças procuram aventura e da vista de seus  progenitores se afastam. 

Sacudiram toalhas e meus olhos de areia se recolheram.  Decidi escrever. 

Está sol, vento e cheiro a maresia. 

Outro adequado local à escrita, porém, não haveria. Do outro lado avisto o palácio. 

Abrigou Jacqueline Kennedy e hoje um tanto de graffiti e  curiosos o invadem. Está em degrado. 

Mas não posso reclamar, já o invadi e saboreei a exclusiva  vista para o mar. 

Atrás está minha avó, sentada numa daquelas típicas  cadeiras de praia enquanto faz palavras cruzadas. Já eu e  minha mãe, nos encontramos do sol, mais que torradas. Nota-se que os tempos são outros. 

Telemóveis ocupam as mãos outrora ansiosas pela próxima  cartada. 

Mas as pessoas são as mesmas. 

Estão um pouco melhores, verdade. 

Mas incutida está ainda a portuguesa vaidade. Privados e luxuosos barcos navegam no rio, 

Estamos perto de uma marina 

Construída depois que o capitalismo, a Natureza invadiu. Ainda não fui à água. Nenhuma de nós, aliás. O vento não pára e de tal, ainda não fomos capaz. Talvez apenas fiquemos a apreciar o momento. Acho que neste mundo, é esse o melhor contento. Por isso observo e continuo a observar. 

Tenho o lápis na mão que do papel não se faz desapegar. Gosto de pássaros e de os alimentar. 

Ontem parti uns bocados perdidos de pão que uma  senhora não fez questão de esmigalhar. Que agonia de ver  os pombos os desesperadamente picar! 

O vento levanta os chapéus de sol.  

 Tenho medo que algum me acerte e por isso  mantenho-me alerta. 

 Já ouvi espanhol, inglês e francês. 

 Imigrantes que a casa hoje regressam, é bom. Incredulamente, nota-se que é nas crianças de hoje  em dia que as nossas esperanças precisamos  depositar. Pelo segundo dia de praia vejo uma  criatura plástico apanhar. De perto de seus pertences  recolhe para o depois reciclar. E os adultos  

incentivam! Acho que às vezes, apenas temos que acreditar. 

Não vi golfinhos, nosso símbolo municipal... 

Limito-me ao meu redor absorver. 

Vejo grávidas, idosos e infelizmente pais com seus  filhos gritar... 

Oh meu deus, um jet-ski acabou de passar! 

Uma das minhas perdições, som e movimento de mil  e uma sensações. A habilitação um dia irei de tirar! Afinal que melhor rima com mar senão por aí  navegar? 

A um metro de frente, está um casal meio velho. Não  conversam mas de igual modo observam. Estão em  perfeita sintonia e as típicas conversas foram  substituídas por uma mútua e muda energia. Quero  isso. 

Quero filhos, quero casar, quero escrever e a Deus  por cada dia agradecer. 

Quero também e agora, parar de escrever... 

Irei na areia meu corpo continuar a repousar. Os sentidos contudo, continuam apurados. 

E se alguém este texto ler, 

Por favor, lembrem-se de viver!



Inês Reis
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