azor

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1949-09-22 Açores
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Medieval

Dei por mim medieval,
escravo, senhor de foral,
feirante, bobo da corte
montado em cavalo real.
Viajei no espaço,
cavalguei o tempo,
dei a mão à morte,
sobrevivi à peste.
Partilhei com rameiras
a cama da ilusão,
dormi o sono dos justos,
guardei muito segredo,
fui enviado ao degredo
da minha solidão.
Assisti à execução
de tanto charlatão
alguns sem culpa formada
outros... por pouco mais que nada.
Pisei o risco,
virei do avesso
a capa da virtude.
Vendi de tudo,
galinhas, porcos, marrecos,
cabritos, borregos, vitelas,
donzelas, de entre elas
algumas mal guardadas
por cintos de castidade
sem prazo de validade.
Merquei ainda
esticadores pós colarinhos
e camisas bem bordadas
por mãos alvas de lindas fadas.
Saltei por muitas eras,
entrei em muitas guerras
perdi muitas batalhas.
Fugi à inquisição,
vesti muitas mortalhas.
Travei muitos duelos
por ter amado mulheres
de nobres cavaleiros
e a honra lhes ter manchado,
porque apanhado quando sujeito,
em horas de aflição,
com as calças numa mão
segurando na outra o bordão
já dobrado e sem tesão,
e então?
Foi assim aquela noite
de sonho e ilusão,
e que quando ao acordar,
ainda tentei, mas em vão,
continuar a sonhar.
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