Kantaris

Kantaris

Um cientista se descobrindo na literatura. Escrevo contos, poesias e artigos.

15/03/1990
--
546
0
0

Fevereiro

Fevereiro

Fevereiro desponta no horizonte, trazendo a promessa de renovação para as áridas terras da caatinga. As árvores, outrora despidas, começam a se revestir de um verde brilhoso e vivo, como se escolhessem roupas de gala. As primeiras folhas que brotam criam um espetáculo de resistência diante da seca persistente. É o renascimento da flora, um sinal claro de que a fartura está prestes a retornar para essas cercanias. As borboletas também retornam, deixam o conforto de seus casulos para se aventurar por entre as flores, rumando em direção ao leste.

Nessas épocas, as caatingas se tornam palcos de sinfonias, anunciando o início da fase de bonança. Os brejos, antes secos, despontam em cores e texturas, deixando o marrom da terra seca para se lambuzarem de água, sustentando flores de diversas cores. Tornam-se locais de encontros românticos, logo se transformando no berço de incontáveis seres anfíbios. A melodia do coro dos sapos é como um prelúdio para o espetáculo que a natureza nos apresenta ao despir-se nas caatingas.

Nesse período, os lajedos são lavados pelas chuvas, carregando para longe as mazelas deixadas pelas secas, em um simbolismo quase religioso, purificando tudo que não lhes pertence. As águas percorrem as rochas como uma mão que percorre uma pele macia, indo e vindo, sem um ponto certo, mas sempre rumando ao desconhecido. Traçam lentamente cada relevo daquela pedra, em uma dança graciosa.

Ao dançar em direção ao desconhecido, as águas beijam as macambiras, enchendo cada folha de vida e devolvendo o verde antes perdido. As paisagens desse período são como belas pinturas feitas pelas mãos delicadas de uma artista. A delicadeza daquelas mãos leves, cheias de cores e respingos de paisagens passadas, revive o espetáculo da natureza. Eu? Penso nela, naquela artista que deixou sua marca nas paisagens pintadas, nos céus estrelados e nas flores vívidas.

Seguindo seu caminho rumo aos baixios, as águas traçam seu caminho, aparentemente desnorteadas, mas sabendo onde vão findar. Descem serpenteando, criando veias, rasgando o chão com sua delicadeza. Penetram solo abaixo, saciando a sede das criaturas ali viventes e devolvendo o verde ao seu lugar. O verde é como o espelho da vida. Nas árvores, representa o despertar para um novo ciclo. Na artista? É como uma janela aberta em um trem em movimento, representando muitas paisagens das quais deseja um dia pisar.

96
0

Mais como isto



Quem Gosta

Quem Gosta

Seguidores