Por nada

Uma das minhas travessuras de criança
Era perseguir calangos e preás.
Os dois são inofensivos.
Mas a graça ou a desgraça de ser caçador,
Ou explorador, também me atravessou.
A caça não era para tirar proveito da caça,
Era para a carcaça da alma ou para a alma da carcaça. 

Era uma espécie de caça esportiva,

Para saciar o insaciável,
Para contar o que não conta.

Era uma fome sem nome que consome os sentidos

E segue cegamente a brincadeira.

Era tudo por nada.

Perseguindo calangos e preás,
Quando eu pisava num espinho,
Ou tropeçava numa pedra

Culpava quem tentava se salvar.

Petrificava o coração,

Ficava com sangue nos olhos,

Que não demorava a sujar as mãos.

A dor da minha estupidez

Ou a estupidez da minha dor,

O calango ou o preá,

Sem dever, ia pagar.

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