MÃOS (Um grito de cura)
Temo tudo!
...assim me foi dito,
foi feito,
foi lido...
às vezes,
e muitas vezes,
fui ferida:
um colo,
um afeto
por um preço indizível,
desprezível
amargo,
solúvel nas minhas lágrimas
Um toque
me confunde,
me alerta,
me desperta
medos indomáveis,
incansáveis
de me assombrar...
Vais me ferir?
Me acariciar?
Me odiar?
Me amar?
Sou só indefesa,
tentando a beleza
onde pode ter dor...
uma crua prudência,
insistência,
pura sobrevivência
As mãos me fizeram assim,
faltando pedaços de vida,
pedaços de rima,
pedaços de mim
Sempre alerta,
inquieta,
na ânsia de respirar
o ar que (me) faltava
nas horas de estranheza
e incerteza...
Não sei se sonho,
se pesadelo
às vezes carinho,
outras desespero
Sou criança assustada
e, tenho consciência,
meio despedaçada...
Se não tens mãos sadias,
macias,
não me toques
NUNCA MAIS!
Pensando bem,
sem dramaticidade
(e o que tenho de melhor:
autenticidade e muita,
muita sinceridade),
mais valem as minhas mãos
suaves e afáveis,
capazes de tocar o mundo,
de um modo todo profundo,
curar- me de restos
e curar outros feridos,
do que ter tido me perdido
num passado que não quero mais
Às mãos eu grito:
quebro minhas algemas,
sigo em frente,
com um motivo
e talvez medo
da humanidade,
mas, (re)descobrindo a dignidade,
resgato minha sanidade;
às mãos eu digo:
tu não és mais um perigo!
És apenas sombra
de uma vida enterrada
que me desperta em pesadelos
cada vez mais escassos
talvez vencidos pelo cansaço,
mas estou disposta a recomeçar,
estou pronta pra te enterrar,
seguir adiante
e me libertar...
Cacal
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