Sobre ser a própria autodestruição
Cadeira fria.
Escrevo frágeis linhas
na velha mesa,
o ar da biblioteca — denso.
Lá está ele:
pele alva, juvenil,
impecável terno cinza —
o mestre dos sebos,
cinema e poesia.
Mergulha nos clássicos.
Levanto,
sigo a sombra.
Espreito.
Não me vê.
Derrubo volumes:
o estrondo de Florbela Espanca ignorado.
Na janela, o giz afiado:
Onde estiveste esta noite?
Nenhuma reação.
A fúria é surda.
Volto ao assento,
cacos de livros
e dignidade no chão.
Que droga de maçã envenenada
é este gostar que destrói,
que me afia o lápis no papel
e sangra meus escritos?
Ah,
a doce
e estúpida
autodestruição.
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