

Filipe Marinheiro
Nasceu em Coimbra, 30 de Julho de 1982. É natural e reside em Aveiro.
Poeta.
http://www.chiadoeditora.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1518:marinheiro-luis-filipe&catid=62:m
«Noutros Rostos» VII
vai caindo a manhã mortal
a bainha da sua luz está longe
mas enche-me a boca nua de folhas e poeiras que correm loucas
entre o sol a perder-se no oriente
e tubos de girassóis elementares únicos
a esquartejar o rosto
trancando os buracos dos ossos que se estrangulam a meus dedos
e de ponta a ponta da carne pulsa a beleza do ar se amo
eu fugia com o reflexo geológico a travar-me o sangue solar
escorrendo nos meus macios braços
por entre ribanceiras e encostas abaixo e acima
feito palavra delicada
corria como um violino d’água a pulsar inteiro
ao som do esquecimento das coisas dignas
estendo-me depois num mole poço de flores com os pulsos
mergulhados nesse sangue matinal estancando-o
enquanto o seu intenso perfume me batia
dentro da barriga
a barriga cheia de cócegas
saía fora dessa barriga doida
movia-se para o lado desta casta tarde
a morrer cansada
nestes lábios que sobem até tocar na noite
e dizer-lhe baixinho:
bom dia meu amor mais lindo!
Escritas.org