canção para um povo triste

canto o povo triste

de quem sou

louco em cantar

para esquecer

os sonhos tidos

na manhã da vida

sol de madrugada

livre no morrer

canto a heroicidade

conformada

de quem chorando

se atreve a cantar

barco perdido

na prisão das ondas

as velas rasgadas

o leme a quebrar

canto a solidão

a ocidente

ligada à terra

que nos viu nascer

a covardia

feita de orações

na doce esperança

de poder morrer

canto o desespero

fatalista

de quem sofrendo

se deixa ficar

olhos cansados

enxada na mão

trabalhando a terra

que lhe vão roubar

canto o meu poema

de revolta

ao povo morto

que não quer gritar

que já são horas para ser feliz

que é chegado o dia do medo acabar.

Vieira da Silva

1969

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