ODE À POESIA

Acompanhas-me todos os passos,
todos os gestos, todos os olhares,
todos os reversos e despontas
condoída nos pudicos, nos
cínicos e perversos.
A cada passo da humanidade
desgraçada encontro-te, e
no entanto, és-me sempre inesperada.

Se passeio pelo cais, indelével
sinto teu braço sobre meus ombros,
como velha amiga, e falas-me de
portos nunca antes aportados,
de povos desde sempre alienados
da flora dos caminhos ignotos
entre matas fechadas ao saber dos homens.

Escuto-te com a enormidade
da minha ignorância ávida,
porquanto mais me ensinas menos sei.

Falas-me de poetas.
Daqueles que sempre usaste
para brandires teu discurso.
Conheci alguns. Conheço outros.
Com todos bebi das seivas
escorrentes de outras vidas
vegetando impenitentes.

Tens a força da natureza
dos homens e, a beleza de toda
a natureza do mundo.

Soberana e ubíqua
és do mundo a relíquia
tão maltratada e, sem pudor,
ignorada. E resistes
no bico das aves e
nos peitos das cadelas
alimentando as crias nos
beirais e recantos das vielas.

Luís Soares Eusébio
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