SIBÉRIA [MANOEL SERRÃO]

O deveio grunhido – o gorjeio cavo - o gemido balido.
Noutrora, o Avata engessado – o rato enriado - o pio na apostasia.
A esquarteja descarne, a carniça pelos urubus devorado.
Numa’ hora, o antípoda - os "pés opostos" –, o Tzara do passado.
O idolatra – o ego-rex - o vil gregário dominado.
Noutrora, o parasitário – o cão raivoso – a fúria do verbo cavo.
O esmalte raso – o tapete sujo - a lama das patas.
Ó por vós, alimpai-vos, pois, do ranço fétido dos teus infernos.
Ó por vós, alimpai-vos, pois, dos suicídios salvos dos teus ordálios.
Acaso, ousas tu aos “Bons” quão aos “Maus” lhes dás a vida pela morte?
Havereis vós em vão incréu no Bem quando no Mau credes sê-lo o Bem, nunca o teu Mau tão eterno?
És tu pois? És tu, arrosto, vós que grassa do bom senso e do uso adequado da razão?
Ó trazeis, pois, aqui –, o bom senso e o uso adequado da razão?
Ó trazeis, pois, aqui -, o sã do divã que ao insano com abafos sonegaras.
Ó trazeis, pois, aqui, ó efebo, o vosso berro conforme o próprio?
Bem, o sabes, um mal em si cabe, o mau inato às vós entre apelos e vai os quão univitelinos se assemelham!
Havereis vós de entreterdes com o argênteo sob as cumeeiras do divino tornando-se invisível.
Bem, o sabes, ó vândalo das janelas quebradas; flagelo emaranhado de arquétipos eternos; resina de fino jaez: as outras invejas rir-se-iam de vós que amou por ofício.
Ó vais entre vaios, como cálice de penitência que tu'alma leva à boca, não lembrais mais?
Inda couraça armadura inata que te legaram, sem glória, e fé, ó homúnculo, que o infausto te seja leve.
Unge-te ungido de sândalo, ave "emplumada" sem cor, asa viajora partida pelas bocas mais pobres do destino, transida de frio, arrebatada, serás vós pelo suão.
Ó não vais? Se não vais? Vão-se as neves, e a sorte está lançada! Envia-te às plagas mais inóspitas da tua Sibéria.
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