Em Finais de Março


Em finais de março o poema deteve-se
em seu obscuro relicário de joias raras.
Os deuses não apreciavam os céus
e o corpo agredia a terra como um pugilista
que agride o alento em que está ancorado.
                                *
Proclamava coisas prováveis, a inércia
do mundo onde éramos afago de nascente.
Uma jura, uma crença, uma alegria,
somente coisas mal-entendidas e irreais.
Há apenas alguns interlúdios curtos de ilusão.
                                *
O poema fixava na goiva uma chama ao centro
com a silhueta de Eros, uma silhueta una,
a fluvial sanguínea potência em propagação.
Amo a energia com que ilude o invisível,
desse exímio pânico de corpos nus no centro.
                                *
E, porém, na terrifica elegância dos estilhaços,
não esqueço os instantes, esqueço os dias,
não me lembro dos poemas, lembro-me de ti.

inédito
1904
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