Agustina Bessa-Luís

Agustina Bessa-Luís

Agustina Bessa-Luís, pseudónimo literário de Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa GOSE é uma escritora portuguesa.

1922-10-15 Vila Meã, Amarante
2019-06-03 Porto
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Prémios e Movimentos

Camões 2004
 Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante (região do Douro), em 1922. A sua infância e adolescência foram passadas nesta região, cuja ambiência marcará fortemente a obra da escritora. Estreou-se como romancista em 1948 com a novela Mundo Fechado, cujo título actua como que uma espécie de definição de toda a sua produção literária e do próprio mundo de Agustina – na verdade, a ambiência das suas obras vive de «mundos fechados», bem como a sua própria escrita se encontra «fechada» a qualquer tentativa de contextualização, em termos de correntes, na história da literatura portuguesa. Manteve, desde então, um ritmo de publicação pouco usual nas letras portuguesas, contando até ao momento com mais de meia centena de obras. Tem representado as letras portuguesas em numerosos colóquios e encontros internacionais e realizado conferências em universidades um pouco por todo o mundo. Foi membro do conselho directivo da Comunitá Europea degli Scrittori (Roma, 1961-1962). Entre 1986 e 1987 foi directora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto). Entre 1990 e 1993 assumiu a direcção do Teatro Nacional de D. Maria II (Lisboa) e foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social. É ainda membro da Academie Européenne des Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa, tendo já sido distinguida com a Ordem de Sant'Iago da Espada (1980), com a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e com o grau de «Officier de l'Ordre des Arts et des Lettres», atribuído pelo governo francês (1989). É em 1954, com o romance A Sibila, que Agustina Bessa-Luís se impõe como uma das vozes mais importantes da ficção portuguesa contemporânea. Conjugando influências pós-simbolistas de autores, como Raul Brandão, na construção de uma linguagem narrativa onde o intuitivo, o simbólico e uma certa sabedoria telúrica e ancestral, transmitida numa escrita de características aforísticas, se conjugam com referências de autores franceses como Proust e Bergson, nomeadamente no que diz respeito à estruturação espácio-temporal da obra, Agustina possui a marca de um estilo absolutamente único, paradoxal e enigmático. Os textos desta autora são habitados por uma diferença antiga e inabsorvível entre as figuras do feminino e as figuras do masculino. As mulheres movem-se a partir do instinto, da proximidade com as coisas insignificantes num espaço-tempo que antecede o simbólico. São forças ancestrais de permanência e conservação. Os homens são seres de projecto que impulsionam as transformações do mundo e aceleram o tempo. A sua prosa aproxima-se muitas vezes às características essenciais da poesia, pelo excesso, pela fuga, pela ritualidade e harmonia terrível das palavras que se dizem e das coisas que acontecem. Vários dos seus romances foram já adaptados ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, com quem tem trabalhado e colaborado de perto. Exemplos desta parceria são Fanny Owen (Francisca), Vale Abraão, As Terras do Risco (O Convento), A mãe de um rio (Inquietude), para além de Party, cujos diálogos foram igualmente escritos pela escritora. Mais recentemente o primeiro volume da trilogia O Princípio da Incerteza foi também adaptado por Manoel de Oliveira, debaixo deste mesmo título. É também autora de peças de teatro e guiões para televisão, tendo o seu romance, As Fúrias, sido adaptado para teatro e encenado por Filipe La Féria (Teatro Nacional D. Maria II, em 1995).Agustina Bessa-Luís nasceu a 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante. Dela António José Saraiva afirma ser, depois de Fernando Pessoa, o segundo milagre do século XX português (Iniciação à literatura portuguesa, Mem Martins: Europa-América, 1996, p. 158), referindo-se à originalidade e densidade literária da sua obra romanesca, constituída por mais de quatro dezenas de títulos, a que se somam peças de teatro, biografias, ensaios, livros de viagens e de crónicas. Da sua obra de ficção narrativa para adultos, refiram-se apenas alguns títulos como A sibila (1954), As pessoas felizes (1975), Fanny Owen (1979), O mosteiro (1980), Os meninos de ouro (1983), Vale Abraão (1991), Ordens menores (1992), Um cão que sonha (1997), entre muitos outros que poderiam ser mencionados. Pelo relevo da sua criação ficional falam os numerosos prémios que a têm distinguido, dos quais se destacam o Prémio Delfim Guimarães (1953), o Prémio Ricardo Malheiros (Academia das Ciências de Lisboa) (1966 e 1977), o Prémio «Adelaide Ristori» (Centro Cultural Italiano de Roma) (1975), o Prémio Pen Club Português de ficção (1980), o Prémio D. Dinis (Casa de Mateus) (1980), o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1983), o Prémio da Crítica (Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários) (1993), o Prémio União Latina (Itália) (1997) e o Prémio Camões (2004), o mais importante galardão literário da língua portuguesa.Com obras traduzidas em vários países e algumas adaptadas quer à linguagem cinematográfica (por Manoel de Oliveira, por exemplo), quer à linguagem teatral, também produziu textos expressamente destinados a crianças. As características omniscientes e demiúrgicas dos seus narradores contribuem para uma quebra da organização canónica do texto, em que vários espaços e tempos se entrecruzam na tentativa de explicação dos comportamentos assumidos pelas personagens. Estas, por sua vez, caracterizam-se por uma força vital assombrosa ou, pelo contrário, por uma fragilidade, uma impotência perante a vida, que ainda vem reforçar as características das personalidades dominadoras. É essa força telúrica que transforma as suas personagens em personagens mágicas que reorganizam o mundo à volta delas. Os seus textos narrativos são construídos através da integração de longos momentos descritivos em que a autoridade do saber do narrador se impõe, como se as suas caracterizações físicas, psicológicas ou sociais ultrapassassem, transcendessem os atributos possíveis de cada personagem ou de cada espaço.Nos contos para crianças, o carácter sentencioso da sua escrita parece suavizar-se pela diminuição dos argumentos utilizados, mas reaparece através das características de um discurso formado por frases mais curtas e incisivas. As metáforas e imagens utilizadas também ora estão próximas do mundo da infância e assumem o humor impiedoso das crianças, ora denunciam a crítica mordaz que se esconde por detrás da experiência adulta.Bibliografia selectiva: A memória de Giz (1983), Lisboa: Contexto; Dentes de Rato (1987), Lisboa: Guimarães; Contos amarantinos (1987), Porto: ASA; Vento, areia e amoras bravas (1990), Lisboa: Guimarães; O soldado romano (2004), Porto: Ambar; O Dourado (2007), Lisboa: Minutos de Leitura.
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