pauloafonsobarros_57

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Aprendiz dos filhos e da vida, acredito que cá estamos não por mero acaso.

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Alguns Poemas

Mensagem a Drummond e Tancredo Neves...


Senhores Carlos Drummond de Andrade e Tancredo Neves, desculpem-me a formalidade, mas o respeito que meus pais me ensinaram assim o exige, espero que estejam bem desde quando nos deixaram, em agosto de 1987 e em abril de 1985 respectivamente.

Creio que os senhores, onde estiverem, vez ou outra, recebam algumas informações e atualizações da situação do nosso Brasil e da sua terrinha em particular, Tancredo de São João del-Rei e Drummond de Itabira, da nossa querida Minas Gerais.

Não só os Itabiranos e São-Joanenses não os esquecem, na verdade, nós, os brasileiros de todos os cantos, sentimos muito suas ausências, embora nos tenham deixado vasto material sobre valores, costumes e boas práticas de civismo, estamos cá com graves problemas nessas áreas.

Senhor Drummond, ainda estudamos seus escritos para deles extrairmos suas ideias e ensinamentos sobre o amor, a tolerância, paciência, angústia e arrependimentos depreendidos de seus versos de toda uma vida.

Ah! Senhor Drummond, sua habilidade com as palavras nos coloca diante de caminhos e obstáculos de difícil ou fácil transposição, depende do leitor, do dia da leitura ou das tantas releituras, as pedras da vida lá estão e nunca no mesmo lugar, permitindo belas equações de amor e superação.

Já o Senhor, Seo Tancredo, em um de seus discursos, propondo mais conciliação, nos ensinou que, "A Pátria é escolha, feita na razão e na liberdade. Não basta a circunstância do nascimento para criar esta profunda ligação entre o indivíduo e sua comunidade".

Senhores Drummond e Tancredo, nosso Brasil anda estranho demais, continuamos sendo um país do futuro em vários aspectos, especialmente na saúde e educação, pilares de uma nação que almeja desenvolvimento e dignidade para todos.

O gigante continental da América do Sul está carente de líderes políticos com visões de estadistas e empresários que visem mais que apenas o lucro do capital e assumam sua responsabilidade social.

Vivemos um período de grande insatisfação com divisões no seio do povo que extrapolam o bom senso e não residem apenas na divergência de opiniões, muitos, sem rumo e com pouca massa crítica, se deixam levar por meios de comunicação que manipulam a informação dependendo dos interesses próprios e das ocasiões.

Necessitamos de líderes que nos mostrem caminhos em meio às pedras e que persistam na boa trilha da valorização da Pátria enquanto espaço para a dignidade humana que está além e muito além das letras mortas dos estatutos dos partidos políticos.

Drummond e Tancredo, permitam-me agora como irmãos que sempre fomos e seremos, estamos a precisar de paz e serenidade para desanuviar o ambiente pesado que paira sobre nós.

As energias densas estão a ofuscar a razão que nos jogam na sanha das paixões sem freio, claro, temos sim nossa parcela de responsabilidade pelo que nos ocorre, mas pedimos, de onde estiverem, juntem forças com outros brasileiros, renomados ou não, mas de grande valor moral, ético e cristão, e nos cubram de amor e pacificação.

É em nosso Brasil, vocacionado para a espiritualidade e humanidade, onde convivem credos diversos, trazidos pelos escravos africanos, católicos, evangélicos, espíritas, budistas, muçulmanos, islamitas, xintoístas, cristãos e ateus, que todos se juntam em oração.

Mãos dadas, como uma família que somos, clamamos ao Deus de todos, bençãos para que os homens sejam fraternos e acordem da indiferença, do orgulho, da vaidade e da soberba que lhes cega ante todas as misérias.

Estamos de passagem neste plano onde a ilusão do ter e do poder estão mascarando um triste despertar.

Luz, paz, amor, ternura e serenidade.

Fraterno abraço.

Paulo Afonso Barros
Maio de 2017


No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade
In Alguma Poesia
Ed. Pindorama, 1930
© Graña Drummond.

In: http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond04.htm


Trecho do discurso de Tancredo Neves preparado para a posse na Presidência da República, em março de 1985.

"Senhores Membros do Congresso Nacional, recebo da soberania do povo, de que sois portadores, a chefia do Estado e o governo do País. Esta solenidade encerra singular mistério de liturgia cívica. A Nação inteira se reúne, pelo instituto da representação, em sua vontade e em sua esperança, para investir um homem da responsabilidade de a conduzir, na lei e na dignidade.

De cada um dos homens que constituem a comunidade nacional transfere-se, ao coração e ao espírito do escolhido, um homem como os outros, parcela essencial de ser, na devoção aos valores comuns e na inquebrantável decisão de os preservar para sempre.

Ao assumir esta enorme responsabilidade, o homem público se entrega a destino maior do que todas as suas aspirações, e que ele não poderá cumprir senão como permanente submissão ao povo.

Quando falamos em povo não pensamos em uma entidade abstrata, que possa ser eventualmente conduzida em trilhas de equívoco, pelo fanatismo ou pela demagogia. Pensamos no povo como soma de razões e virtudes, que sempre prevalecem, para impor lucidez à história, restaurando o que se deve restaurar, abandonando o que se deve abandonar e construindo o que se deve construir (...).

In: https://oglobo.globo.com/politica/discurso-de-tancredo-neves-preparado-para-posse-na-presidencia-da-republica-3021920#ixzz4hVRdpHYM

Reforma da Previdência, uma cortina de fumaça



Os desvios de recursos da Previdência Social no Brasil é história antiga e agora o governo federal apresenta um suposto déficit numa nova embalagem, falseando-se dados e alardeando que o que se busca é combater privilégios para proteger os mais pobres.

As condições de vida dos mais pobres no Brasil nunca foram preocupação real dos governantes, fato inquestionável.

Imperioso atentar-se para o que ocorre em termos de saneamento básico no Brasil, educação, investimento em Ciência e Tecnologia (https://www.youtube.com/watch?v=3ysId_4QADQ), sucateamento dos Institutos de Pesquisas Federais, falência das Universidades Federais e do SUS - Sistema Único de Saúde.

Em decorrência desse descaso institucionalizado pela União vêm ocorrendo uma perda sistemática de recursos humanos nessas áreas críticas, causando um prejuízo incalculável para o Brasil, difícil de ser mensurado, bem como dos prazos para sua recuperação, mesmo que se retome uma nova linha de investimentos de forma perene nas próximas décadas.

Há muitas áreas entre os três poderes da União, Executivo, Legislativo e Judiciário, em que se poderia avançar para a diminuição de privilégios, a começar pela redução drástica de cargos comissionados, verbas de representação, assistência saúde sem limites para titular e dependentes, penduricalhos nos vencimentos que não são computados para fins de teto salarial no serviço público, com o respectivo efeito cascata para estados e municípios.

Fato, há muita gordura para se cortar no serviço público e nas estatais, mas é justamente aí que reside uma cara de paisagem indisfarçável que a grande mídia demonstra cumplicidade e promiscuidade.

O ano de 2018 será particularmente difícil para os brasileiros que devem, em sua maioria, se engalfinhar pelas redes sociais, indo ao encontro dos interesses de quem não deseja que as causas e possíveis soluções para os graves problemas do Brasil sejam efetivamente debatidos.

Precisamos de toda a serenidade e discernimento possíveis, aquietando um pouquinho as paixões partidárias que podem nos cegar.

Um dia qualquer à sombra do cajueiro..


Vivia o mesmo sonho misturado a despertares onde a tristeza, angústia e solidão se faziam companheiras, afastando-o mais e mais de um dia distante onde conhecia o seu lugar e sua gente.
Onde estavam seu canto, suas coisas, seu quarto, sua cama, a cômoda onde ficavam alguns porta-retratos?
Essa vaga lembrança o deixava confuso.
Porque seu olhar se fixava no chão quando, vez ou outra, alguém passava?
Quanto tempo mais daquela rotina, como se vivesse horas e horas, dias e dias, numa insossa repetição de nadas, sem sentido, aturdido em seu permanente estado de confusão e melancolia?
Alguns instantâneos faziam-no acordar inquieto e perdido, num outro lugar, ambiente simples, de conversas, da varanda, da sombra do cajueiro onde pessoas animadas conversavam e riam tanto, quanto tempo?
- O senhor não comeu nada hoje, vai ficar doente, pode ser que hoje alguém venha vê-lo...
- Precisa parecer melhor, vamos fazer a barba, cortar esses cabelos, trocar esse pijama, tomar um banho, cheirar melhor, o que vão pensar...
- O senhor não está me ouvindo...
- Não tenho mais tempo...

A água fria, por instantes, o desperta desse torpor, sente às costas a parede úmida onde se escora.

- Quem é você?
- Maria, já me esqueceu de novo...
- Onde estou?
- Na sua casa nova...
- Carla?
- Tá vendo, sua filha não pode vir, mas telefona sempre para saber do senhor...
- Chama a Nê...
- Sua esposa foi fazer uma viagem pra bem longe, vai demorar...
- Tome seu remédio, mais tarde volto com seu chá....
- Que dia é hoje?
- Tá mais esquecido, é sábado, dia de visita, por isso tem que ficar bonito...
- Carla..., Nê..., que dia é hoje...

Apenas um dia qualquer na vida de alguém esquecido que se lembra de uma vida distante e que ainda quer seu canto, sua gente, sua memória, seus amores...

Voltando para casa...



Já há muitos anos estava fora de sua cidade natal e longe de sua família, decidira muito cedo sair de casa buscando liberdade e independência, queria também deixar de passar pelas dificuldades que junto a eles enfrentara.

Embora não pudesse reclamar do carinho, afeto, amor e valores com que fora criado entendeu que não queria para si ou para seus filhos as precariedades e incertezas de onde e como morar, o que ter à mesa ou o que vestir e calçar.

Numa cidade não muito distante, como se diz, com a cara e a coragem, com dinheiro suficiente para lanchar uns poucos dias, foi para lá se aventurar.

Encontrou uma pensão barata, dividindo quarto e banheiro com outros companheiros e histórias semelhantes, queriam todos vencer na vida.

No início ele era um faz de tudo, office boy, estudante em escola pública noturna não perdia aulas e admirava os professores, saboreava naquelas fontes de saberes não apenas o conteúdo das disciplinas obrigatórias, mas uma vastidão de outros conhecimentos que seus mestres conseguiam lhe passar, ampliando em muito o horizonte que lá atrás imaginara alcançar.

Com frequência indo a bancos também conheceu pessoas de outras áreas que viam naquele rapaz instigante e sempre arrumado, apesar de simples, um potencial enorme de quem queria saber de tudo e disposto a saber mais.

Professores, gerentes e caixas de banco, o dono da banca de jornal, motoristas e cobradores de ônibus logo faziam parte dos seus dias e ele nos deles, um personagem marcante, rapidamente inserido e estimado, era um jovem de futuro.

Os anos se passavam, concluiu o antigo colegial, prestou vestibular, fez uma faculdade, namorou uma moça com percurso incrivelmente similar, noivaram, casaram, foram morar numa casa alugada, com móveis de segunda mão, carnês, água e luz para pagar.

Nesse intervalo os contatos com a família eram cada vez mais raros, pensando bem só os vira, pai, mãe e um casal de irmãos quando se casou, eles chegaram para a cerimônia e foram embora no mesmo dia, desculpando-se por não terem presentes ou algum dinheiro para ajudar.

Nas duas despedidas, quando saiu de casa e logo após o casamento, ouvira de sua mãe a recomendação amorosa.

- Meu filho, não se esqueça da gente, vai lá em casa onde sempre tem o seu lugar, vê se não demora, vou fazer a broa de milho que você tanto gosta.

E assim foi, quando comemorou dois anos de casado, foi com a esposa rever a família e com uma novidade, dar a conhecer aos pais que logo seriam avós, o primeiro neto, já que os irmãos continuavam a morar na mesma casa, um deles também casado, mas sem filhos.

Os pais os receberam com alegria e um pouco constrangidos, pois a casa continuava a mesma, pintura por fazer, cerca por consertar, tanque de roupa a descoberto, galinhas soltas e a velhinha e parideira Pretinha, cadela vira-latas, bisneta da Branquinha, companheira das brincadeiras simples e comuns de sua infância.

Tudo estava tão igual, mas desta vez ele percebe resgatar pedaços bons de uma infância feliz.

Apenas um final de semana e já se foram, desta vez sem entender bem o porquê ele se despedia da família com algo confuso em seu peito, um nó apertado que ele não sabia como dele se livrar, a esposa atenta bem que sentira em seu suspirar e sabia do que ele estava com dificuldade de expressar.

Alguns anos mais, já numa casa própria, faltando ainda alguns anos para pagar, um carro bem usado na garagem, um filho já com sete anos e a vida que imaginara num passado não tão distante, sem farturas ou luxos, uma vida boa.

Pouco tempo mais é chamado para ir para casa dos pais uma vez mais, não havia como desta vez adiar, notícias vinham e não muito boas, dessas que as pessoas continuam com dificuldades para lidar.

A mãe, ainda jovem, com sessenta e cinco anos, sem nenhuma doença grave, dormiu para não mais acordar.

Durante a volta ao lar não sentia vontade de chegar, aquele nó apertado volta para o angustiar.

Ao chegar tem uma enorme dificuldade para sair do carro, boa parte dos vizinhos lá estão, ainda um costume de cidades pequenas de se velar entes queridos em casa.

O pai vai de encontro a ele que está parado no portão, um raro abraço agora mais demorado, olhos marejados como nunca viu em seu envelhecido pai, caminham dois passos e já estão na acanhada sala, o velho sofá e pequena televisão dão lugar a um simples caixão onde repousa o corpo da mãe com o terço gasto guardando-lhe as mãos.

A noite é longa, cafés em copos, broa de milho feita pela mãe na véspera, poucas palavras entre eles, silêncio no espaço-tempo para onde as memórias os levam, revisitando dias difíceis, sofridos, mas de singelo amor numa casa que sempre esteve aberta para ele voltar.

- Meu filho, não se esqueça da gente, vai lá em casa onde sempre tem o seu lugar, vê se não demora, vou fazer a broa de milho que você tanto gosta.

De madrugada, quando a sós com o pai e o corpo da mãe, pai e filho se abraçam, ambos choram muito, sem nenhum receio, os nós no peito de ambos se desfazem e assim ficam sem nada falar.

Felizes e gratos são os filhos que sabem ter uma casa para voltar.

Felizes os pais que sabem que fizeram o que estava a seu alcance para os filhos um dia para casa voltar.

Felizes pais e filhos que conseguem ressignificar as dores e sofrimentos de outrora, colocando-se no lugar uns dos outros, perdoando-se, sem dedos para apontar.

Paulo Afonso de Barros

Nascido no Brasil, na cidade de Apucarana, estado do Paraná, em 07 de outubro de 1957.

Pai: Node de Barros  Mãe: Gilda Montilha de Barros

Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Taubaté - UNITAU

Graduado em Biologia - Bacharelado pela Universidade de Taubaté - UNITAU

Especialização em Gerontologia pela Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP - São José dos Campos - SP

Mestre pelo Programa de Pósgraduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e
Práticas Sociais da Universidade de Taubaté - SP.
Área de Concentração: Contextos, Práticas Sociais e Desenvolvimento Humano.

Tese de Mestrado: ASPECTOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL E DO ENVELHECIMENTO EM SERVIDORES
PÚBLICOS DE UM INSTITUTO DE PESQUISAS

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