Início
A geometria de cada encontro é próxima do quatro, se não do cinco, tem a forma da graça, com a forma do medo, e a forma que não ameaça, a forma do nosso encontro, do encontro entre duas pessoas que não se conhecem, tudo é tão incoerente, quero escrever para ter escrito, ter menos medo do produto finito, desse nada, desse defeito tão aparente, da falta de mérito que se alavanca a cada palavra, o nada, o nada é o vazio? O nada é a falta, o que me falta existe onde? Que lugar é esse que me falta? A natureza, a ciência do meu ser, a minha ociosidade, o que não encontro nem nos momentos de absoluta memória e pouca lucidez, esse falta é lúcida, será exatamente nela o lugar da consciência bruta, desse medo, dessa dificuldade essencial do meu ser. Não sei se olho para mim, se olho os outros.
Cada dia novo, cada dia mais sozinho e mais envolto na memória, tomará que exista o não-lugar da memória, aquilo que não sou e que me olha, que me encara, que me ameaça, o desprezo, a fúria.
Pedro pegou sua bola, levou-a ao canto mais fechado do condomínio e admirou-a por tanto tempo, aquele objeto tão presente na sua memória, aquela felicidade de não ir embora, aquele consciência súbita de si, minha alma canta mas me apavora, tanto medo assim de mim é pura falta de compreensão, minha completa ignorância da natureza, que me faz entregue ao colchão. OLHA, OLHA, OLHA, OLHA. Esse ser vazio, fugitivo, selvagem por um copo de água, por uma nova visão de seu passado. Escrevo um pedido de socorro que jamais será lido. E a mim idealizo, e componho de mim diversas imagens tão desconexas, de profundidades sem chão, sem fundo, sempre a queda, principalmente a vertigem.
Será a literatura um diário? Uma lápide? A vontade de ser entendido, quando tudo se fragmenta, quando eu sou um fragmento, um laço solto que balança na chuva e se molha de ressentimento, de tensão úmida. Nesses textos eu vejo o poeta que nunca será reconhecido e quem de tanto desejá-lo, se perde em desvarios, em vontades de morte, em medos tão conscientes.