Fayola Caucaia

Fayola Caucaia

TransPOÉTICA que fala de amor, afeto e liberdade, a partir das minhas subjetividades.

1998-04-08 São Paulo
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O DIA QUE EU QUASE MORRI POR GEMER ALTO

Foi gostoso, o boy me deixava louca 
a ponto de perder o limite
e gemer bem alto 

Gemia tão alto que se tornava gritos
frenético,
uma foda alucinante 
que me fazia ficar maluca

O boy sabia fazer
empurrava com força
um beijo gostoso 
que me deixava louca

Eu gemia, e gemia
o boy não cansava
não para, sem parar

Até incomodar os vizinhos com essa foda
extraordinária 
uma batida no teto 
eu até pedi desculpa, desculpa se minha foda te encomoda
e voltava

Dessa vez o gemido era mais brando
vamos pra cozinha pra ver se não incomoda
me bota no paredão e mete bronca
me joga na mesa e me faz de puta

Pá, pá, pá
a mesa fazendo barulho na parede
não para, não para
empurra sem parar

A vizinha grita, olha as horas
eu digo, hoje é sábado, não posso transar?

Acho que não, minha foda incomoda

Pá, pá, pá
dessa vez é a porta
eu já tava no chuveiro 
já tinha parado 

Dessa vez eu grito e não gemo
já paramos, desculpa, tô no banho
já paramos

Pá, pá, pá
desculpa gente, parei
eu estou no banho

Um voz de homem, atrás da porta
abre aqui, quero conversar 
eu na inocência abro uma fresta
vejo que não são os vizinhos, mas um homem com uma camisa no rosto

Fecho de imediato, 
ele não conseguiu empurrar
vai embora, já paramos
insisto em dispensar 

Meu medo era ser estuprada
sei lá, vai que eles querem calar minha boca
por gemer demais

Ele insiste atrás da porta, 
abre, você sabe quem é?

É claro que eu não sabia, 
mas encapuzado não é sinal bom
eu puxo a faca de imediato 

O boy com medo, diz que ele é de boa
insiste que acabamos 
e diz que foi mal 

Eu vejo o desespero em seus olhos
meu deus, isso nunca tinha acontecido
“saudade da melhor época do vila floresta <3”

Abre a porta se não eu arrombo
os caras atrás da porta insiste
eu ciente que se abrir a cobra vai fumar pro meu lado 
meu medo era ser estuprada 

Eu digo, não!
a casa é minha, desculpa pelo inconveniente
é minha segurança não vou abrir

Ele, se eu quiser te dar um tiro já tinha dado 
abre a porta
antes que piore

De repente, uma arma na janela
nem era possível alguém lá 
abre a porta se não é bala

Eu logo penso, fudeu
jogo a faca na parede
que fica atrás da porta, quando se abre

O boy nervoso, tenta abrir a porta
não consegue, de nervoso
a porta abre o contrário

Eu abro a porta
o boy leva um chute
eu fico ao lado da porta

Vai vai, afasta
dois homens enormes entram na minha casa
traficantes, um retinto e o outro não

Eu fico parada na porta
ainda imóvel 
o que vai acontecer?

Vai, vai, afasta
o boy vai pro canto da parede
eu fico em frente da mesa

Eles vem no esculacho
diz que não vai atirar e guarda a arma na cintura
eles dizem que eu sou maluca por acordar todo mundo assim

Eu peço desculpa novamente, digo que isso não vai mais acontecer
um esculacho enorme, diz que atira por menos
eu fixa, estática, apenas de toalha, com o celular no peito

Logo notam, e pergunta se estamos gravando 
eu digo que não, eles verificam
o esculacho foi maior, porque eu disse na porta 
vou chamar a polícia, na favela a regra é não envolver polícia

Ele me chama de louca
diz que se eu chamar a polícia, eles me jogam da minha janela
eu pergunto se eles querem que eu vá embora

O boy diz pra eu calar a boca
eu insisto e digo, se você quiser eu vou embora mês que vem
ele pega e me empurra, 
eu saquei que tinha que calar a boca

Vejo ali que algo pode acontecer
não tiro os meus olhos do olhos dilatado dele 
digo, eu estava tentando me defender, não chamei ninguém

Ele pergunta, se eu sei quem ele é
eu digo que não, 
ele pergunta da onde sou, logo penso, vou me fuder mais

Estudo na UFBA, faço arquitetura, sou de São Paulo 
grande São Paulo, Barueri
estou aqui estudando 

Ele pergunta de onde é o boy
desconfia, o boy diz que é daqui
conhece os caras e os caras o conhece

O traficante saca seu Iphone X
tira foto do boy
e pergunta na rede

Por sorte, o boy era conhecido
diz que seu primo é um dos gerentes
isso talvez fez toda diferença

Ele diz que isso não é pra fazer aqui
não tem problema um comer o cu do outro
mas fala pro boy calar minha boca com o pano

Eu nada digo
peço desculpa novamente
e digo que o boy vai embora

Os traficantes diz que não precisa
que ele pode dormir aqui
e que é pra não fazer barulho

De repente saem 
Pedem desculpa pelo ocorrido
e vão embora

Eu fico de cara, fecho a porta em seguida
o boy tá tremendo
eu ainda cheia de ódio

Hoje é sábado
sou tranquila a semana toda
precisa disso?

O boy senta, dá pra ver o desespero em seus olhos
eu me sinto extremamente culpada pelo ocorrido
isso nunca tinha acontecido

Toma uma água, 
ele diz que eu sou muito afrontosa
não se pode peitar traficante

Eu digo que não peitei
apenas, me coloquei
a casa é minha e não precisava daquela cena 

Quase morri

No final, conversamos um pouco
tentei distrair sua mente 
o clima tava trexi

Eu dei uma massagem nele
ele se acalmou mais
conversamos mais um pouco 

Ninguém morreu
ninguém gozou 
ninguém mais gemeu

O boy foi embora
eu fiquei aqui
escrevendo esse texto

03:30 da manhã
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