Declaração
Quando olhei, lá estava um belo Corpo dentro de um caixão! Não me foi dado conhecer a vida dele e os diversos ramos dela. Sobre o mesmo, sei é que era lindo e que era um belo corpo, um belo Corpo dentro de um caixão! Mas tão lindo que convidada à morte, o Corpo no caixão que parecei Narciso olhando-se naquele fatal rio. Estava circunstancialmente – isso é “faca me escavacando” – morto, no entanto, parecia que a morte o enfeitava de vida e distância, uma desconhecida vida, que por sua beleza faz também com que queiramos revivê-lo.
Olhei-o mais de perto: ele cheirava a luz! E, como em um sonho, quis, mas não consegui tocá-lo, porque, com o aproximar das minhas mãos, ele, paulatinamente, se desfazia em pó de luz brilhante. Mas de um pó tão esplêndido que mais parecia reflexão de vida. Então, já que estava perto dele, desejei conhecê-lo. Desejei entrar dentro da morte, e com a força da minha espada tomá-lo dela. E isso desejei tão forte, tão forte que o Corpo, o belo Corpo no caixão, se fez de uma clara luz brilhante e calma.
“Por que me foi dado conhecê-lo nesse estado?”, pensei lembrando dele! Mas logo emendei o pensamento: Para espada minha, “deixar o pensar na cabeça”, porque Você só que revivê-lo e sujá-lo, o Corpo é um belo Corpo, mas estar dentro de um caixão, sua fúria não é mais forte que isso. Ela é fraca e má, de consumidor querendo promoção – Chora e “estala”, espada “vidro pintada”, conclui!
Perdi o rumo! Já não estava diante de um Belo Corpo, circunstancialmente, num caixão! Estava num um verdadeiro labirinto, e só uma coisa me guiava: o som de um violão e a certeza que eu precisava tocá-lo, danadamente tocá-lo. No entanto, foi-me mais difícil concebê-lo assim do que aceitar a impossibilidade de invadi-lo. Certo disso, lágrimas puras e duvidosas caíram dentro de mim: Desejoso, eu chorei! E o Corpo caia cada vez mais fundo e alto dentro de mim.
“Você não morre, Belo Corpo dentro do caixão, porque levo-lhe no esquecimento, como aquela menina do poema”, gretei à noite olhando para a vida! Mas o Corpo, o Belo Corpo dentro do caixão, o corpo que parecia um anjo em oração, que como um instrumento musical continuava a tocar e que eu precisava tocá-lo, danadamente, se refazia e em distância luzente e eu, com a força do gerúndio, aí matando-o.
– Porque um belo corpo dentro de um caixão, meus Deus, por que não em vida, como uma árvore cuja eu poderia subir e colher-lhes os frutos, ou, como um presente a tanto tempo sonhado e que tanto mereço, que eu pudesse abri-lo em casa, sem medo e sem culpa e como fome e com sede. Meu Deus, por que!
“Você não morre, Belo Corpo dentro do caixão, porque levo-lhe no esquecimento, como aquela menina do poema”, gretei à noite olhando para a vida! Mas o Corpo, o Belo Corpo dentro do caixão, o corpo que parecia um anjo em oração, que como um instrumento musical continuava a tocar e que eu precisava tocá-lo, danadamente, se refazia e em distância luzente e eu, com a força do gerúndio, aí matando-o.
– Porque um belo corpo dentro de um caixão, meus Deus, por que não em vida, como uma árvore cuja eu poderia subir e colher-lhes os frutos, ou, como um presente a tanto tempo sonhado e que tanto mereço, que eu pudesse abri-lo em casa, sem medo e sem culpa e como fome e com sede. Meu Deus, por que!
Para não sucumbir ao desejo, pois, avistei-me dele o quanto pude. Melhor que isso: fugir dele – a fuga mais triste e precisa de todo a minha vida porque na consciência da potência do ato de fugir, eu vi que espada já não era e nunca fora preciso nesta batalha. Não obstante, à distância que me coloquei, pois tive medo de ser tragado por ele, ainda sentia seu calor fervente, seu branco cheiro de vida que convida a viver, imensamente!
– Por que, meus Deus! ó corpo, vir-te num caixão e tão vestido de vida, por que não pude conhecer teus movimentos e perguntar teu já conhecido nome e ouvir tua já conhecida e aclamadora voz e assistir minha vida inteira em teus olhos de poesia! Desta vez sentindo amor eu chorei e pude, então, voltar para perto dele.
Aqueles olhos fechados, aquela silenciosa boca ceivada e viva, davam àquele rosto de leva luz nas trevas um aspecto de Anjo em oração. Ao revê-lo, o que mais desejei foi um gesto de vida! E já sem espadas nas mãos nem nada, eu só queria conhecê-lo, vê-lo brilhar e viver, imensamente, vê-lo brilhar e viver. Sentindo dor eu também chorei.
A maior dor não é vê-lo nestas circunstâncias, é o vê assim ser preciso e saber que, como dito, circunstancialmente ele estar morto e que eu o matei, que é preciso continuar matando-o. A verdadeira dor é vê-lo cair dentro de mim cada vez mais fundo e cada vez mais alto, de modo que eu nunca posso alcança-lo, é fechar meus olhos para carregá-lo comigo sem que eu o veja e olhar para ele e saber que não pode haver dor alguma que fosse.
Dor essa, essa dor sem nome e sem dor, é dor de noite esquecida dentro do segundo que não veio, de “pétala de estrela caindo bem devagar”, de “gole de água bebido no escuro”, de poema molhado e de gota de luz presa no fundo do abismo, brilhando e queimando e morrendo e revivendo até apagar a escuridão!
– Como é preciso senti-la! Eu quero dormir essa dor e sonhar com o Corpo, quero lembrar do corpo e esquecer a dor e o caixão! Peço-lhe, Corpo sem dor e belo, que me leve, que me leve em algum lugar, por mais fútil que seja!
Mas O corpo não estava morto nem nada. Era um linda Vida viva e que existe e estava diante de mim! Esse e a verdade.Outra verdade é que as estralas brilham no infinito desconhecido do espaço e que um coração sensível como o meu não poderia resistir – eu me apaixonei orgulhosa e erradamente! Há um Amor Cacheado, puro que é criança. Quem me dera o amanhã em seus Braços, Sentimento Cacheado e longe de mim! O resto foi um desenho de Itabira que eu fiz dentro de mim. Apenas um desenho, meu Deus, “Mas como dói”!
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