Alguns Poemas

Sonetos do Imperfeito

- I -

Nuns altos patamares me encontrava
a contemplar por prados florescentes
perfeito Amor, que embaixo lá brincava,
num vau de rio e sol, ambos candentes;

e enquanto a face em mãos eu descansava,
e desejando não me olhasse Amor,
num riso cristalino me chamando
ele atravessa em mim seu dardo em flor.

Florida estou então, e repartida
em duas que se alongam, distanciam:
uma nos patamares pensa e escreve,

outra, suave ardor se vê, e dá
o amor de Amor em prados tão solares,
partida em riso cristalino e breve.

- III -

Viver assim me acalma e aterroriza:
uma se faz silêncio, a outra grita,
uma se erguendo a outra tomba morta,
uma está salva, a outra enferma viva.

E duas almas Amor faz e eterniza;
enquanto uma nos altos patamares
estuda, lê, trabalha e já agoniza,
outra, louca e serena em seus cantares,

greco-romana em dias preteridos,
sobre as sebes gramadas dos sentidos
reparte a paz em ti, para aprenderes:

a vida é curta espera para a morte,
os sentidos são fontes dos prazeres
- tempo é o Amor, que ri e arromba a sorte.

- IV -

Não sei de mim o que será eterno
depois que Amor deixar seu reino claro
e a outros indo me fizer inverno,
este que faz de flores gelo amaro.

Uma se vai e a outra já retorna,
almas que têm em mim o seu alento;
meu reinado, de paz em guerra, as torna
irmãs gêmeas em mútuo desalento.

E quando (eu já sozinha) tu tiveres
comigo, Amor, só o laço da lembrança,
e onde em longos encontros estiveres,

lembra também que um dia me floriste
- e o que fizeste um dia em tua cobrança
paga os juros na morte que assistires.

Enunciação Encantatória

Flor-da-cachoeira, flor-dágua, flor-da-esperança
flor-da-imperatriz, flor-da-noite, flor-da-paixão
flor-da-páscoa, flor-da-quaresma, flor-da-redenção
flor-das-almas, flor-das-pedras, flor-da-verdade
flor-de-abril, flor-de-amor, flor-de-amores
flor-de-babado, flor-de-babeiro, flor-de-baile
flor-de-baunilha, flor-de-besouro, flor-de-caboclo
flor-de-cal, flor-de-cardeal, flor-de-carnaval
flor-de-cera, flor-de-chagas, flor-de-cobra
flor-de-couro, flor-de-contas, flor-de-coral
flor-de-duas-esporas, flor-de-gelo
flor-de-índio, flor-de-jesus
flor-de-lã, flor-de-lis, flor-de-madeira
flor-de-maio, flor-de-mico, flor-de-natal.

- IV -

Flor-de-maio, flor-de-padre, flor-de-papagaio
flor-de-passarinho, flor-de-pau, flor-de-pérolas
flor-de-sangue, flor-de-são-joão, flor-de-são-miguel
flor-de-sapo, flor-de-seda, flor-de-sola
flor-de-trombeta, flor-de-vaca, flor-de-viúva
flor-do-campo, flor-do-céu, flor-do-espírito-santo
flor-do-imperador, flor-do-monturo, flor-do-natal
flor-do-norte, flor-dos-amores, flor-dos-formigueiros
flor-santa, flor-seráfica, flor-tigre, flor
flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor
flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor
flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor
flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor, flor
flor, flor, flor, flor, flor, flor, flores, flores.

- V -

Beija-flor de vôo muito veloz e que
se alimenta de néctar das flores
e de insetos minúsculos, colibri,
chupa-flor, pica-flor, chupa-mel,
cuitelo, guanambi, guinumbi, guainumbi,
beija-flor-dágua, bico-de-agulha,
beija-flor-da-mata, ariramba-da-mata-virgem,
beija-flor-do-mato, do S.O. do Brasil,
de dorso verde-dourado, penas marginadas
de amarelo, estria pardo-avermelhada acima
e por trás dos olhos, prolongando-se no pescoço,
mancha preta atrás dos olhos e o meio da garganta
e o abdome negros e orlados de branco
beija-flor-grande, bico-de-agulha, beija-flor-pardo.

- VI -

Beija-flor vermelho do N. e L. da América do Sul
de cabeça, cauda e coberteiras inferiores da cauda
vermelhos, com brilho vivo, dorso verde-escuro,
garganta cor de cobre com tons dourados
e abdome escuro. A fêmea tem colorido
menos acentuado. Beija-flor-grande, beija-
flor-pardo, beija-flor, beija-flor, beija-flor
rhanphodon naevius, crysolampis elatus, beija-flor
por ser primavera e por seres pássaro e flor
eu te nomeio também embaixador e te prefiro
em meu ombro em meu dorso em meu canto,
mais do que todas as palavras escolhidas
o teu mel derramado sobre este livro
faça-o dourado e doce e livre e voador.

- VII -

Coleira-de-sapé, coleira-do-brejo, dorso, retrizes
e coberteiras da cauda pardo-amareladas, cabeça, nuca
rêmiges e cauda negras, garganta branca com colar negro
separando-a do peito e fronte com duas manchinhas brancas
coleirinha do sul do País até
a margem direita do baixo Amazonas
coloração cinza, fronte e parte anterior
do vértice enegrecidos, orelhas pretas
faces brancas, garganta branca com
uma faixa preta no meio, abdome branco
com uma fita preta atravessando
o peito e flancos cinzentos, coleira
virada, coleiro-da-baía, coleiro-da-serra,
coleiro-do-sapé, coleiro-do-brejo, coleiro-pardinho.

Sonetos Noturnos

- III -

Outono lento em claras ventanias
prepara estas paisagens para a chuva,
de um silêncio aromal os foscos dias
- e deixamos o olhar, o mosto e a uva

madurarem seu claro vinho ameno,
o que preserve o fogo em sua lareira,
fetiche das luzernas no sereno,
o amor, do precipício à curta beira.

Os beirais das aldeias se anunciam
sem os murmúreos cantos do verão
e o seu vizinho inverno propiciam

- enche a espera de sombras o salão;
tão brando este calor se faz em mim
(leve perpassa o aroma em seu jardim).

- V -

Vertem seus suores líquidas lembranças
malvas, violetas de variáveis cores
sobre o tanque, peixes, limo e os rigores
da imutável água no seu ar de estrelas:

cabisbaixos olhos contam suas perdas.
Na alameda em frutos o acre persistente
e o medo de erguê-la viva sobre as quedas
onde brilha um sol noturno suavemente;

líquidas lembranças, tanque, violetas,
malvas em escamas nadam sobre o limo,
e era uma menina e a caça às borboletas,

e era uma paisagem e eram seus rumores,
já perdidos tempos, já desfeitas tranças,
vertem violetas vívidos suores.

- VII -

Esse arfar negro denso e misterioso
das janelas abertas para dentro,
onde o ar seco estala e se incendeia
na poeira dos úmidos incensos,

é um ar negro e de pálidas lembranças
que de interiores faz a sombra escura,
que sequer lá de fora se imagina,
ser, e que por ser dentro se inaugura

em sombria, opalíssima tristeza
e que sequer lá fora se imagina,
pensa-se que é de noite, e é de dia

e pensa-se que é triste o triste ser
olhando lá de dentro o claro escuro
- e se existe é por sombra e por não-ser.

Tempeste Solari Trailer
II WORKSHOP DE ESTUDOS REMOTOS EM LÍNGUAS ESTRANGEIRAS - Conferência
Rosalba
perdonami se ti scrivo soltanto adesso ma dal 1984 io non ho avuto tempo per impegni sociali e ne avevo pochissimo anche per gli editori (Ila Palma). Comunque Sampajo e tu con la traduzione delle mie otto poesie mi avete incoraggiato molto; dopo quel libro ho pubblicato una raccolta intitolata ritmi e assonanze (sempre Ila-Palma)da cui ho tratto poi le liriche per altre raccolte come Proviamo a tradurre (in spagnolo), libro d'artista, Poesie multilingue edito da ALIPENNADAUTORE,Torino, scritto con la collaborazione di amici traduttori libro d'artista ed. Signorini con l'immagine di un'opera della pittrice Zamponi e infine un libro particolare che ti vorrei inviare se mi mandi il tuo indirizzo. Sulle prime due raccolte ho ricevuto tanti consensi e se ti riscrivo ti mando qualcosa. Ho letto un poco anche di te e spero che tu voglia ancora leggere altro di me. Qui è passata da poco la mezzanotte e devo andare a letto. Con amabili ricordi Rosalba Anzalone
28/novembro/2017

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