Inês Reis

Inês Reis

inesreisx

1997-01-13 Portugal
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À vontade.

As janelas não tinham cortinas.  

Naquele parapeito, três filas empanturradas de livros (já lidos e muito relidos, suponho,  pelo tom amarelado das folhas - ou apenas velhos do Tempo) se alinhavam numa geometria  estética.  

Em cima, um daqueles manequins de madeira que articuladamente nos ensinam as  proporções humanas, se dispunha virado para o candeeiro adjacente às molduras. 

De fora, conseguia ver as suas paredes brancas com pinturas marítimas lá penduradas.  Suponho que seja pintor. Ou alguém ligado às Artes. Quiçá, estude Humanidades.  

As janelas espreitavam para a plataforma que se enchia de gente às horas de ponta. Ou  quem sabe, eram os passageiros, os curiosos, os que numa viagem pelos pensamentos se  entretinham a magicar novelas do que além delas se passaria, talvez vivas num outro  universo paralelo. Eu. 

Mas como raio alguém se conseguia concentrar assistindo aos atropelos nervosos e ouvindo  aquele turbilhão de motores e vapores que saiam pela gigantesca máquina que  revolucionara todo o percurso de uma História?! 

Quem sabe, fosse tal proximidade necessária à inspiração do artista que inquieto se movia  naquele apartamento de prédio redondo. 

O mais provável é nunca chegar a saber...então deixo aqui neste papel a fortuita visão que  hoje me faz escrever. 

Mas sabes, aquela alma andava seminua pelo seu espaço. Por vezes captada por olhares  imprudentes. Alguns a isso chamam de promiscuidade, mas que outro nome pode ter a livre  expressão do ser senão que a Liberdade.


Inês Reis
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