

Kanienga L. Samuel - José
Técnico de Construção Civil, Poeta e Pensador. Percorro as veredas do conhecimento com muito amor, paciência e prudência, para não tropeçar e cair no abismo da ignorância.
𝑴𝒂𝒑𝒂 𝑽𝒂𝒛𝒊𝒐
Aonde me levas, coração errante,
Com asas feitas de pensamento?
Bebes da emoção como vinho quente
E deixas na boca o vinagre do arrependimento.
Às vezes, fico suspenso —
Uma bússola danificada num mar de silêncio.
Sobrevoo abismos de sentimentos antigos,
Tendo a solidão como único companheiro.
A ausência dos que amamos
Cria buracos na alma.
É fácil perder-se
Quando o amor era o mapa.
Recolho-me, então,
Ao escritório de escuridão desmedida,
Folheando ao acaso o diário da memória,
Tentando, em vão, decifrar o idioma da vida.
Assusta-me, às vezes, a existência:
Um ponto piscando no vácuo,
Numa casa cheia de paredes e ecos,
Onde o coração bate — mas não ressoa.
Sem o calor humano,
O frio se torna morada.
As lágrimas congelam nos olhos,
E só o fogo das lembranças
Para derretê-las e derramá-las.
Às vezes, crio uma pessoa imaginária,
E juntos voamos e roubamos estrelas.
Juntinhos na vastidão da noite,
Mergulhamos em belas conversas.
Dói ver os sonhos deslizarem pelos dedos
Como água.
A dor é tão funda
Que, por um instante, penso:
Mais vale uma vida não sonhada.
Quando sonho e realidade colidem,
O choque me atravessa como raio.
E hoje sei:
É mais fácil suportar a fome do corpo,
Mais suportável, até, a dor —
Do que a fome de amor.
Luanda, Maio de 2025
Escritas.org