

Himalayanpanda
Sou um Nepalês, mas moro no Bahia, Brasil há 12 anos. Sou estudante de antropologia e gosto muito de ler literatura variada, desde literatura até ciências. Ocasionalmente, também escrevo na minha língua materna, que não está listada no Google Tradutor. Alguns dos meus escritos já foram publicados. Estou aprendendo português (BR).
Seprotelogia (Conto)
—Ranjan Lekhy
SAJ, Bahia, Brasil
Domingo, 15 de junho de 2025
Era uma vez um jovem professor extremamente educado que embarcou em uma viagem marítima ao redor do mundo. Ele foi o Decano de Ciências Naturais em uma universidade renomada. Antes e depois do seu nome vinha uma longa lista de títulos e diplomas. A sociedade o considerava um grande sábio, um verdadeiro depósito vivo de conhecimento. No entanto, ele quase não tinha experiência real da vida.
Na cabine ao lado da dele viajava um velho. Durante a apresentação, descobriu-se que ele era um pescador que passara a vida a pescar no mar. Agora velho e aposentado, decidira fazer essa viagem marítima para aproveitar a vida. Por causa da pobreza, desde criança fora obrigado a trabalhar na pesca e, por isso, nunca pudera estudar nem aprender a ler. Mas décadas de trabalho lhe tinham dado um conhecimento do mar, do tempo e da própria vida que nenhum livro poderia oferecer. Sua pele estava marcada e endurecida pelo sol forte e pelo vento salgado do oceano; as linhas profundas e ásperas das mãos calejadas contavam histórias de trabalho duro, e os olhos úmidos cantavam em silêncio as incontáveis ondas de lembranças do mar.
Todas as tardes, pouco antes do pôr do sol, o professor subia ao convés, sentava-se numa confortável cadeira de descanso e se deliciava com o espetáculo do sol que se afundava no horizonte. O sol vermelho desaparecia lentamente no céu azul. Embora as cores do céu e do mar mudassem a cada instante por causa dos raios solares, no exato momento do pôr do sol todo o horizonte e a terra se tornavam dourados. O velho pescador também aparecia e, em silêncio, sentava-se na cadeira ao lado do professor.
O professor exibia seu conhecimento. Falava dezesseis línguas e se gabava de que não havia poliglota como ele. O pescador ouvia encantado aquelas conversas sobre céu e terra. Ouvir o professor falar clara e fluentemente em sua própria língua materna deixava o pescador de boca aberta. O pobre velho não sabia nada além de pescar e da sua língua da mãe. Parecia-lhe estar ouvindo algum mistério que só pessoas instruídas poderiam compreender.
Depois de algumas horas de conversa, quando o velho pescador se levantava da cadeira para voltar à sua cabine, o jovem professor lhe perguntou:
— Pescador, você já ouviu falar em geologia?
O velho hesitou um pouco e respondeu:
— O que é isso, senhor?
O professor deu um leve sorriso e disse:
— É a ciência da Terra — essa ciência (chamada de “-logia”), explica como o planeta foi formado, como surgiram o solo, as pedras, as rochas, as montanhas, os rios e os oceanos.
O velho pescador baixou a cabeça, envergonhado, e respondeu:
— Não, senhor. Nunca estudei nada. Nem a porta de uma escola eu vi.
O professor respirou fundo e disse, com gravidade:
— Velho, você vive sobre esta Terra e não conhece geologia. Desperdiçou um quarto da sua vida.
O rosto do pescador desabou. Ele se afastou em silêncio. Seu coração ficou pesado — “Será que realmente desperdicei um quarto da minha vida? Se um sábio tão grande diz isso, deve estar certo.”
No dia seguinte, aconteceu exatamente o mesmo: conversa, exibição de saber científico e, de novo, uma pergunta do jovem professor:
— Pescador, você já estudou oceanologia?
— Oceanologia? — o pescador perguntou, tímido e espantado. — Não, senhor, nunca nem ouvi esse nome.
O professor balançou a cabeça com ar de superioridade e disse:
— Você passou a vida inteira no mar e não conhece oceanologia! Oceanologia é a ciência do oceano. Pescador, você desperdiçou metade da sua vida.
O velho ficou ainda mais triste. “Metade da vida?”, murmurou. “Será que realmente não aprendi nada que valha a pena?”
No dia seguinte, a mesma cena se repetiu. O professor perguntou outra vez:
— Velho, pelo menos você deve conhecer meteorologia, não é?
Mais uma vez o pescador se sentiu envergonhado e respondeu:
— Não, senhor. Como eu já disse, sou analfabeto, não sei de nada.
O professor ficou profundamente decepcionado e disse, com pesar:
— Nem geologia, nem oceanologia, nem meteorologia. Você enfrenta tudo isso todos os dias e não sabe nada a respeito. Me diga, como conseguiu pescar no mar sem conhecer a ciência do tempo? Velho, você desperdiçou três quartos da sua vida.
Agora a cabeça do pescador pendeu ainda mais, cheia de dor e vergonha. Com o coração pesado, voltou para a cabine. Deitado de costas na cama, olhando para o teto, pensava: “Três quartos da vida jogados fora! O que foi que eu fiz até hoje? Pescar, comer, dormir, criar filhos. Só isso. Nem uma gota de conhecimento. O professor tem toda razão.”
Naquela noite ele não conseguiu dormir direito. As palavras do professor rodaram a noite inteira em sua cabeça. Sua própria vida começou a lhe parecer pequena e sem sentido. Pensando assim, acabou adormecendo sem perceber.
Na manhã seguinte, de repente, uma tempestade terrível explodiu sobre o oceano. O céu se encheu de nuvens negras e densas. As ondas ficaram incontroláveis e começaram a rugir como elefantes. O navio de madeira balançava violentamente. Antes que o capitão pudesse recolher as velas, com um estrondo assustador, o navio bateu numa rocha.
O pânico se espalhou por toda parte. Na confusão, muitos passageiros caíram e se feriram; gritos enchiam o ar. O capitão gritou o aviso:
— O navio está afundando! Salvem-se quem puder!
Ao ouvir o tumulto e sentir o impacto, o professor correu da cabine em direção ao convés. No caminho, encontrou o velho pescador vindo na sua direção. O rosto do velho estava sério. Com voz desesperada, perguntou:
— Professor! O senhor sabe Seprotelogia ?
O professor, apavorado, respondeu:
— O que é isso? Nunca ouvi nem li nada sobre Seprotelogia.
Então o velho pescador disse, direto e simples:
— O senhor, sabe como se proteger do afogamento? O navio está afundando.
Ao ouvir isso, o professor, assustado e sem esperança, respondeu:
— Eu li livros sobre técnicas de natação, mas nadar eu não sei.
O coração do pescador se encheu de compaixão. Mesmo assim, sem poder fazer mais, disse com voz grave:
— Professor, o senhor desperdiçou a vida inteira. O navio está afundando. Quem sabe nadar chega a alguma praia e salva a vida. Quem não sabe desaparece no fundo deste oceano imenso. Me dói muito que o senhor tenha aprendido tudo, menos a nadar. Agora o que fazer? Mesmo assim, mexa braços e pernas, tente salvar a vida!
Dito isso, o velho pescador deixou o sábio professor ali parado e, com um grande “plash!”, pulou no mar. Cortando as ondas gigantes, seguiu em frente — em direção à vida. Afinal, era o que ele fazia todos os dias havia décadas: enquanto pescava, rasgava as ondas mortais do oceano dia após dia.
O professor ficou ali, plantado — atônito, envergonhado e aterrorizado. Aos poucos o navio afundava. De tanto medo, nem tentou nadar. Quando começou a submergir, finalmente percebeu que o mais importante na vida não era aprender ciências para circo intelectual — era aprender a ciência de nadar, a ciência de sobreviver.
(Fim)
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