Red Fuji

Toda aquela tinta ordenada entre molduras
Linhas retas e curvas
Azul ministrado com calma, falhando para branco quando necessário
Pequenos círculos a imitarem gotas d'água
Todo esse conjunto de rabiscos
Uma maneira falha de embelezar o que é real
Imitando suas cores
E imaginando seus aromas
Pois a natureza não faz o seu trabalho por completo.
Nós coletamos, depois de alegrias e dores
As memórias de nossas vidas
O cair da água da cachoeira
O balançar dos galhos das árvores à moléstia do vento
O êxodo das águas de um limite do mundo ao outro
Todos esses contos
-Como não podemos leva-los conosco-
Os imitamos à nossa maneira e limite.
Aproveitamos o desgarro consentido do concreto sob a tela
Para colocarmos nossos ângulos e maneirismos.
Assim o azul é mais profundo
O vermelho é mais imperador
Tudo é mais tudo, e o nada também é tudo, onde tudo há de ter propósito.
Mas a natureza não é assim.
As ondas que se debruçam na areia da praia não a fazem por querer
O canto dos pássaros não é belo sem acaso
O vento não rebola os fios da donzela pois assim ela é mais bela ainda.
Toda a natureza, da sua gênese ao ômega, é improvisada e sem roteiro,
E por um belo acaso, foi um belo monólogo.
E o dia em que o vento chorar
O sol derramar
O negro brilhar
As estrelas criarem olhos,e por eles gritarem
E se tudo o mais perder a sanidade?
Então nós a perdemos.
E ai? O que há de se fazer?
Nada.
O sentido e a razão é um grande favor imaginário do universo a nós.
Toda a arte é por acaso
E pelo acaso, fazemos arte.
E realmente
Como são imperfeitos os traços
O quão finita é a tinta do quadro
Comparado ao real Fuji-san?
Mas realmente
Como são menos alegres e tristes suas sombras
O quão menos humana é a montanha
Comparado ao real quadro de Hokusai?
O que há de ganhar?
Dentro da moldura ou fora dela?
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