

Lasana Lukata
Lasana Lukata é poeta e escritor nascido em São João de Meriti, 14 de março de 1964, Dia Nacional da Poesia, na antiga Estrada de Minas; oriundo de família de pedreiros, foi marinheiro de um navio contratorpedeiro que afundou nas águas de Durban a caminho da Índia ao ser rebocado para desmanche.
1964-03-14 São João do Meriti
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caturrar
lá vem a garça bicuda no bico de proa.
aprendi esgrima com a garça, minha parça,
perfurar nevoeiros.
a garça como Rimbaud não tem horror à lama,
a garça é plágio do urubu.
dela recebi o dom da espreita,
a visão binocular, o limpo voo, a curva do peixe.
lá vem a garça bicuda no bico de proa.
ensinou-me a penetrar os corações,
palavras agudas...
minhas palavras não ficam no vento.
tenho a escrita fina e a escrita grossa,
tinta clara e escura,
minha Bic dá bicadas agressivas e amorosas,
é pincel e é clavel.
lá vem a garça bicuda no bico de proa.
e na sala de aula, lendo meus versos,
dizia a professora: tenho pena de quem cair
no bico da sua caneta! você não é mau, não,
você é cruel.
lá vem no bico de proa a garça bicuda.
e o poema pouco anda
com essa ave pesada, o vento de proa,
a craca no casco, anáfora enjoa.
lá vem a garça bicuda descendo com a proa,
não teme, não voa, a sede de sal,
a vida desterra, quase sempre destoa,
quantas vezes descemos ao abismo,
quantas garças perdemos no bico de proa
e a proa se ergue às alturas perdidas.
no cais um som de agulheiro pneumático,
a garça na desgraça desgraçadamente
não consegue ser um grito.
o que me espeta é a garça que perdi...
aprendi esgrima com a garça, minha parça,
perfurar nevoeiros.
a garça como Rimbaud não tem horror à lama,
a garça é plágio do urubu.
dela recebi o dom da espreita,
a visão binocular, o limpo voo, a curva do peixe.
lá vem a garça bicuda no bico de proa.
ensinou-me a penetrar os corações,
palavras agudas...
minhas palavras não ficam no vento.
tenho a escrita fina e a escrita grossa,
tinta clara e escura,
minha Bic dá bicadas agressivas e amorosas,
é pincel e é clavel.
lá vem a garça bicuda no bico de proa.
e na sala de aula, lendo meus versos,
dizia a professora: tenho pena de quem cair
no bico da sua caneta! você não é mau, não,
você é cruel.
lá vem no bico de proa a garça bicuda.
e o poema pouco anda
com essa ave pesada, o vento de proa,
a craca no casco, anáfora enjoa.
lá vem a garça bicuda descendo com a proa,
não teme, não voa, a sede de sal,
a vida desterra, quase sempre destoa,
quantas vezes descemos ao abismo,
quantas garças perdemos no bico de proa
e a proa se ergue às alturas perdidas.
no cais um som de agulheiro pneumático,
a garça na desgraça desgraçadamente
não consegue ser um grito.
o que me espeta é a garça que perdi...
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