Pátria

Pátria

Era pequenininha. Bebia no leite de minha mãe
os resquícios de sua nostalgia,
e à noite, embriagada, chorava de saudades
de uma terra que tampouco conhecia.

Cresci fabricando números para contar a nossa distância:
falava de léguas e de nós, de jardas infinitas.
Vivia uma vida centrífuga em torno do teu turbilhão,
fazendo de conta que meu eixo
era mais que uma ilusão.

Falava em voltar sem jamais ter ido,
fingindo que te pertencia.
Via teu rosto imprimido
nos jornais da tarde, nos cartões postais, e ria:
-- Vou morar lá um dia, eu dizia.

Mas a vida fez-se ao meu redor,
e ancorou-me no lado de fora.
Vivo agora com a angústia de saber
que a saudade que não se mata
tampouco vai-se embora.

Vejo-me de casa feita e filha no colo.
Sei que lhe passo no leite sedes mais atrozes
do que aquela que sacio:
a vontade de relembrar
um passado ainda vazio,
e a saudade que nos persegue
por esta vida no exílio.

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