Adolfo Casais Monteiro

Adolfo Casais Monteiro

Adolfo Vítor Casais Monteiro foi um poeta, crítico e novelista português.

1908-07-04 Porto, Portugal
1972-07-24 São Paulo
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Alguns Poemas

Eu Falo das Casas e dos Homens

Eu falo das casas e dos homens,
dos vivos e dos mortos:
do que passa e não volta nunca mais.. .
Não me venham dizer que estava materialmente
previsto,
ah, não me venham com teorias!
Eu vejo a desolação e a fome,
as angústias sem nome,
os pavores marcados para sempre nas faces trágicas
das vítimas.

E sei que vejo, sei que imagino apenas uma ínfima,
uma insignificante parcela da tragédia.
Eu, se visse, não acreditava.
Se visse, dava em louco ou em profeta,
dava em chefe de bandidos, em salteador de estrada,
- mas não acreditava!

Olho os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa...

Deixai-me chorar - e chorai!
As lágrimas lavarão ao menos a vergonha de estarmos vivos,
de termos sancionado com o nosso silêncio o crime feito instituição,
e enquanto chorarmos talvez julguemos nosso o drama,
por momentos será nosso um pouco do sofrimento alheio,
por um segundo seremos os mortos e os torturados,
os aleijados para toda a vida, os loucos e os encarcerados,
seremos a terra podre de tanto cadáver,
seremos o sangue das árvores,
o ventre doloroso das casas saqueadas,
sim, por um momento seremos a dor de tudo isto. . .

Eu não sei porque me caem as lágrimas,
porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
eu que estou na minha casa sossegada,
eu que não tenho guerra à porta,
- eu porque tremo e soluço?
Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?

Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:
as ruas são ruas com gente e automóveis,
não há sereias a gritar pavores irreprimíveis,
e a miséria é a mesma miséria que já havia...
E se tudo é igual aos dias antigos,
apesar da Europa à nossa volta, exangüe e mártir,
eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente,
sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos,
sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta,
uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada...

Escritor português, natural do Porto, mas naturalizado brasileiro, em 1954. Estudou Ciências Histórico-Filosóficas no Porto, formando-se em 1933. No ano seguinte, assumiu a direcção da revista Presença, após a demissão de Branquinho da Fonseca. Professor do ensino liceal, foi demitido por motivos políticos e, em 1954, fixou-se no Brasil. Foi professor universitário no Rio de Janeiro e em São Paulo, leccionando literatura. Como poeta, Adolfo Casais Monteiro deu mostras de uma inquietação e angústia extremamente pessoais (que se aproximam por vezes do desespero), em obras como Confusão (1929, a sua estreia) e Noite Aberta aos Quatro Ventos (1943). A sua obra poética deu alguma continuidade ao primeiro modernismo português, recusando os moldes da versificação tradicional. Muita da sua poesia reflecte preocupações específicas com o momento histórico, nomeadamente durante a II Guerra Mundial, e com as contradições e tensões da vida humana no mundo. Destacou-se, sobretudo como ensaísta, de forma mais intensa após a sua ida para o Brasil, deixando contributos importantes para o estudo de Fernando Pessoa e do grupo da Presença. Publicou, em poesia, Canto da Nossa Agonia (1942), Versos (1944), Europa (1946), Voo Sem Pássaro Dentro (1954) e Poesias Completas (1969). No campo do ensaio, escreveu De Pés Fincados na Terra (1940), Estudos Sobre a Poesia de Fernando Pessoa (1958), A Poesia da «Presença» (1959), O Romance (1964), A Palavra Essencial (1965), A Poesia Portuguesa Contemporânea (1977), Estrutura e Autenticidade na Teoria e na Crítica Literárias (1984) e O Que Foi e O Que Não Foi o Movimento da «Presença» (1995), entre outras obras.
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