Invisíveis Seres
Queria poder transformar em poesia
todo pôr do sol que assisti,
o surgimento de cada lua cheia
antes de minha morte diária,
o nascimento de cada amanhecer
após meu sono não eterno.
Todas as belas canções que ouvi
sobre natureza, amor, guerra e paz.
Todas as pessoas que vi e não conheço
o Engraxate na Praça da Sé,
o Sorveteiro do Largo treze,
o Pedinte do Viaduto do Chá,
o Jornaleiro do Largo do Café,
o Doceiro do Largo da Batata,
o som irritante do vendedor de gás,
do Carroceiro na avenida Paulista,
do velhinho desdentado que me pede trocados,
a testemunha que me acorda às 7 da manhã.
Até o vendedor de pamonha, pamonha, pamonha!
Queria poder descrever em poesia,
os primeiros passos de minhas filhas,
os primeiros sorrisos, palavras, choros...
o meu primeiro, segundo, terceiro... amor!
A beleza singular das paredes vermelhas, laranjas
das casas de periferias, favelas e cortiços,
protegidas por cães vadios e sarnentos.
Das discussões políticas no boteco da esquina,
entre as inúmeras doses de cachaça,
do moleque ranhento empinando pipa,
das corridas de carrinho de rolimã,
da partida de futebol no campo de várzea,
dos pés descalços brincando na lama,
da perfeita imperfeição deste mundo cão.