I
Nenhuma ausência em ti cais da partida.
Movimento ritual, surdo rumor de búzios,
Alegria de ir ver o êxtase do mar
Com suas ondas-cães, seus cavalos,
Suas crinas de vento, seus colares de espuma,
Seus gritos, seus perigos, seus abismos de fogo.
Nenhuma ausência em ti cais da partida.
Impetuosas velas, plenitude do tempo,
Euforia desdobrando os seus gestos na hora luminosa
Do Lusíada que parte para o universo puro
Sem nenhum peso morto, sem nenhum obscuro
Prenúncio de traição sob os seus passos.
II
REGRESSO
Quem cantará vosso regresso morto
Que lágrimas, que grito, hão-de dizer
A desilusão e o peso em vosso corpo?
Portugal tão cansado de morrer
Ininterruptamente e devagar
Enquanto o vento vivo vem do mar
Quem são os vencedores desta agonia?
Quem os senhores sombrios desta noite
Onde se perde morre e se desvia
A antiga linha clara e criadora
Do nosso rosto voltado para o dia?