Alguns Poemas

Quadro da vida



Aquela imagem do poeta dentro do retrato

parece que fala, mesmo estando calado;

bem, também, me olha; mexe com eles parados.

Enfim, sai de lá, e já não mais está na parede;

senta no sofá, deita na rede;

diz, ainda, querer um pouco de água para matar sua sede.

Em seguida, me pede um café, e logo de pé,

tira do bolso um cigarro e um isqueiro;

no mesmo instante, o acende e começa a fumar.

Eu acho graça em toda a sala cheia de fumaça;

com o semblante de mágoa, pede-me o cinzeiro,

coloca a mão num papel que estava sobre a mesa.

E, assim, do nada, como mágica,

faz aparecer, entre os dedos, uma caneta.

Escreve um poema que é uma beleza,

e queixa, apesar disso, de seu enredo, de sua inspiração;

faz alguns riscos e rabiscos,

e algumas caretas que não trazem nenhum medo.

Em flagrante, encontro-o com o pensamento distante,

sabe-se onde; pois, pergunto e ele não me responde,

fica, quem diria, dando risada.

Desconsolado, dá uma olhada para o lado;

de um jeito torto, com toda prática e aprendizado,

tenta me convencer ao dizer que bom é o poeta morto.

Dali, eu mesmo via que não mais existia no quadro

sua imagem,

dando margem que nasceu de novo.

Dentro dessa "ressuscitação", passou por uma restauração,

para ter de volta a fama, caiu na graça do povo,

e o povo, como ama, o pôs na crucificação.

Mataram-no, deixaram vivo o seu espírito,

mas, mesmo depois de morto, deixou o seu grito.

Dessa forma, permanecia vivo no quadro da vida,

mesmo pregado, agia em forma de poesia;

como eu mesmo prego, mesmo com prego, não nego,

que continua vivenciado.

Enfim, vós vedes

que até assim és um poeta imortal,

e, de repente, somente, voltastes, afinal,

ao quadro da parede.

Carta que encaminha



Vossa Alteza: a terra é uma beleza; o nome veio como luz;

o monte alto, chamado Monte Pascoal, a terra batizada de Vera Cruz.

Índios totalmente nus, índias belas por sinal,

isso seduz mais até do que as raparigas de Portugal.

Bom fruto, realmente, aqui se produz.

Ai Jesus! Aqui é algo que ninguém traduz.

Sabendo que nem tudo que reluz é ouro,

mas de ouro e prata é cercada toda mata;

e, também, de outros tesouros.

O capitão mostrou aos nativos:

papagaio, carneiro e galinha;

eles, com medo, mostraram:

gato, lobo e onça-pintada.

De tão inocentes, tudo davam

a troco de nada

pelo que a tripulação tinha.

Fossem espelhos, rosários ou pentes,

enfim, entregavam, de mão beijada, todas as suas riquezas.

Para não levarmos nenhuma flechada,

não dávamos risadas, nem ficávamos descontentes;

estando certos de que tudo não passava de uma grande gentileza.

Nós éramos espertos, tão espertos a ponto de não deixar notar nossa esperteza;

e, assim, agíamos pelo o motivo

de sermos tão ativos.

Com certeza,

é mesmo aqui''um país tropical e bonito por natureza".

Afinal, desde que foi descoberta por Cabral,

a ilha deixou de ser uma maravilha.

Dentro dessa garrafa, envio-lhe essa carta,

esperando que, em mãos certas, ela parta.

Se pudesse, junto mandaria um cartão-postal

para mostrar o Corcovado, o Cristo Redentor, o Planalto Central,

a Amazônia, o Pantanal, o Futebol e o Carnaval.

No entanto, saberá disso só no futuro, porque os correios cobram a quantia,

e por fora elevados juros para chegar no mesmo dia.

Bom escrever, já que nunca mesmo adivinhará,

mas a independência dos coloniais virá de longínquo parentesco.

Então, pense antes em querer ter filhos com a rainha;

como dizem aqui: ''pimenta nos olhos dos outros é refresco".

Assinado: Pero Vaz De Caminha.
Daniela
Lindo
03/março/2023

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