Roberto Pontes

escritor brasileiro

Fortaleza
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Alguns Poemas

E O Verbo Se Fez Carne

por Margarida Maria Moreira Rodrigues

Verbalizar é transformar o inexistente, o abstrato e o vago em matéria viva e pulsante. Não foi dessa forma que Deus criou o mundo e os homens? O homem é linguagem. É preciso atribuir sentido ao desconhecido e angustiante mundo que o abarca e, ao mesmo tempo, o liberta. Como bem assinalou Wilhelm von Humboldt: "O homem vive com seus objetos relação fundamental, tal como a linguagem lhos apresenta, pois nele o sentir e o atuar dependem de suas representações."
A poesia não é nada senão uma das tantas tentativas desesperadas de ordenar e significar o mundo. Nos versos de Verbo Encarnado, podemos vislumbrar essa tentativa desesperada de compreender o homem e o mundo:

Que sentido tem o céu?
Tingir os olhos de azul.
Deixar voar qualquer asa.
[...]
Que sentido tem o homem?
[...]
Homem, o homem terá sentido?

(VE, p. 41)

No entanto, o Verbo não se limita apenas a construir uma semântica da vida. Ele também se torna um eficaz instrumento de denúncia, uma arma que tem por objetivo o lançar-se e ferir as consciências:

A palavra há de trazer
o peso do chumbo
a quentura

a explosão do peito
enquanto o amor
não for reconhecido.

(VE, p. 21)

A poesia de Roberto Pontes vergasta e acalenta. A leitura de cada verso perpassa paradoxalmente o desconforto e o consolo. Há uma crítica mordaz a todo tipo de opressão e de miséria. Quando o poeta se apropria da gemedeira – forma popular nordestina – é evidente que sua intenção além de valorizar a cultura do Nordeste – é a de colocar em foco a condição miserável das vendedoras de flores do Ceará. Assim, a gemedeira representa a dor e o sofrimento dessas mulheres. E o que aparece de mais belo no lamento da florista é a maneira como seu trabalho é descrito:

Florista fabrica flores
e seu ritual de rua
é um bailado sem som
um triste cantar de loa...

(VE, p. 31)

A poesia oferece ao leitor a imagem triste dessas singulares mulheres que são tão frágeis e belas quanto as flores que produzem. Nesse momento, a sensação de desconforto é inevitável: o leitor não consegue permanecer isento de certa culpa. Entretanto, logo em seguida, após a chamada de consciência para os problemas sociais, o poeta vem afagar e consolar o leitor, porque o sonho ainda é possível: "o amanhã é sempre diferente" (VE, p. 55):

Não desesperes nunca.
A vida é asssim mesmo.

Um dia para a dor
Um outro pra esperança.

(VE, p. 55)

O poeta acredita que o mundo possa renascer, mas, antes de tudo, deve "merecer o flagelo". Somente a dor é capaz de libertar o homem dos mecanismos de opressão que ele próprio constrói. Para isso importa desconstruir o mundo para reconstruí-lo, de tal modo, que o homem, em sua breve existência reconheça a relevância de transformar a sociedade, a fim de que a felicidade não seja somente privilégio de poucos que detêm o poder pelo poder – como nos admoesta Aristóteles – e sim patrimônio dos corações mais puros e das inteligências mais brilhantes.

MARGARIDA MARIA MOREIRA RODRIGUES é do Curso de Letras
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro–UERJ. Participa do
Núcleo de Literatura Comparada e colabora no jornal Comunicando
do Instituto de Letras da mesma Instituição.

Poesia e Libertação em Roberto Pontes

por Pedro Lyra
Um dos temas mais problemáticos da teoria literária contemporânea é a sobrevivência do épico. Dada a natureza por essência histórica deste gênero, creio que o problema não pode ser questionado antes de colocado num determinado tempo. Deste modo, a falência e/ou apogeu do épico se encontram vinculados à existência/inexistência de grandes acontecimentos sociais que, numa certa fase da história humana, ofereçam ou não temas de conteúdo épico.
Por que a Antigüidade e o Renascimento foram tão fecundos neste gênero? Simplesmente: pela ocorrência, nessas épocas, de fatos sociais de grandes implicações humanas no sentido universal. Aplicada a tese ao momento presente, o problema se resolve: não foi o épico que morreu como gênero literário, mas um certo épico de linguagem inadequada ao nosso tempo, um épico de conceituação sedimentada nos limites de uma estética restrita ao ideário clássico – o pomposo e solene épico de Homero, Virgílio, Camões, próprio para as sociedades que o gerararm e consumiram, como só elas poderiam gerá-lo e consumí-lo.
A aparente falência do épico em nossa época se explica por esta evidência: a instabilidade do mundo contemporâneo – este pragmatismo materialesco a que nos atiraram – por um lado nega ao escritor o tempo indispensável para o labor épico (pelo menos, para o labor épico "a la antigua") e, por outro lado, nega também ao leitor essa mesma parcela de tempo necessário para o convívio com os longos poemas que requerem exegese.
Mas o epos está presente em qualquer tempo. E a nossa época é, sem talvez, a mais fecunda de toda a história humana em essência épica: aí estão ainda as radiações atômicas da última guerra mundial e das mais recentes bombas de intimidação e exibição; aí estão as lutas de classe propagando a revolução socialista por todo o globo; aí está o surgimento deste vasto Terceiro Mundo para uma nova realidade mundial; e aí está, por fim, a conquista do espaço, afirmando o domínio do homem sobre o seu universo próximo. Tudo isso, junto ou isolado, se oferece ao poeta contemporâneo como num desafio: um desafio àquele que se proponha a deixar, numa obra de fôlego, uma imagem poética deste tempo desesperado.
Pois bem: um desses temas – o último – acaba de ser tratado, num longo poema, por um jovem poeta cearense: Roberto Pontes, prêmio "Esso–Jornal de Letras" de 1970 (com o ensaio Vanguarda Brasileira: Introdução e Tese), no livro-poema Lições de Espaço: Teletipos, Módulos e Quânticas 1 , premiado pela Universidade Federal no mesmo ano.
Com certeza, podemos vincular este poema à corrente vanguardista da poesia brasileira: vanguarda pelo tema, vanguarda pela linguagem. Nisto, cabe notar que Roberto não circunscreveu o fazer vanguardista ao problema da linguagem: sendo vanguarda o que sugere um passo à frente – o que, incorporando um dado novo ao patrimônio preexistente, aponte um rumo a seguir – ele se situa como vanguardista menos numa perspectiva lingüística do que numa perspectiva social.
Trabalhando exclusivamente com a palavra, Roberto Pontes compreende que tem de explorá-la ao máximo, para compensar a ausência da contribuição não-solicitada ao figurativo. Por isso ele está sempre experimentando, reinventando, neologizando a matéria-prima do verbo. As múltiplas tendências, os vários processos, a polivalência usual da palavra – todas as diretivas da vanguarada vocabular foram amalgamadas em Lições de Espaço por um tenaz esforço pessoal crítico-teórico-criativo em torno de poetas e movimentos vanguardistas, donde resultou um poema antes de tudo pesquisa-informação, atualizadas pela unidade de linguagem conseguida do primeiro ao último verso.
Através da simples leitura do poema é possível notar a familiaridade do autor com os experimentalistas da tradição internacional, como Mallarmé, Pound, Joyce, Cummings, Apollinaire, Maiacovski, ou com os da melhor vertente nacional nacional, como Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral, Haroldo de Campos, Mário Chamie. Através dessa convergência de processos, o autor destas lições de espaço integra-se, via experimentalismo com a palavra, na determinante verbal da vanguarda brasileira – na mesma perspectiva em que Guimarães Rosa também é vanguarda, na prosa.
Ele consegue reinventar o épico através de uma inusitada contenção verbal, de uma fala renovada, de um discurso condensado, na melhor terminologia poundiana. Por isso, sendo os seus blocos de verso uma síntese da cultura humana, eles requerem um nível receptor exigente. Mas é exatamente no nível solicitado que se concentra a melhor poesia.
O poema está dividido em três livros.
O primeiro apresenta, em doze pequenos poemas, a problemática do espaço numa perspectiva regional. O espaço é o Nordeste brasileiro. Os poemas vão abrindo, pouco a pouco, um leque de problemas ecológicos, econômicos, antropológicos e sociais de sua sofrida região, ao mesmo tempo em que anatemiza a conivência que os conserva.
O poeta se define diante dos problemas em apenas um texto, apesar de sempre curto, apresentados numa linguagem tão estéril quanto a própria natureza nordestina. Mais que em qualquer outra parte do poema, é neste primeiro livro que se tem a perfeita adequação da linguagem ao tema focalizado: através da aridez da linguagem chega-se a uma idéia da aridez da vida que ela representa.
No poema

o piso não fabula a verdura
engastada na poeira e no salitre
nem mesmo as próprias raízes
desbebidas no lençol de anidro

o solo ingere as forras tessituras
dessangradas dos folículos e folhas
ele suga a sudorência do granito
seus produtos se arrimam na caliça

a terra não concebe o nobre cepo do cedro
cisma a figura inane do xerófito
o gozo estriado dos fibromas
e a indigência epitelial da citra (p.10)

o poeta descreve esse espaço e revela a natureza do solo naquilo que ele pode germinar. Mas esse solo não germina o que pode – "a terra não concebe" – esterilizado pela incipiência da agricultura:

o fazedeiro
de safras

lavra a dor
e lavrador

lavra dores

dá cifras
e não decifra
a grandeza do lavrar (p.22)

uma agricultura desinstrumentalizada, que explora mais o homem ("lavra a dor") do que a terra, num processo onde o sertanejo, ignorante de sua função social ("dá cifras/ e não decifra/ a grandeza do lavrar"), é o forte que, antes de tudo, ainda depende da chuva, preso a um sistema medievalizado que lhe proporciona uma subsistência de conveniência, como na expressiva síntese práxis-concretista destes dois versos-palavra:

salário
solário (p.18)

O segundo livro apresenta, em quarenta poemas de seis versos em média, a configuração do espaço numa perspectiva planetária. O espaço é a Terra. E, para entendê-lo, o poeta ressalta o uso que o homem faz do raciocínio, da inteligência, da sensibilidade e do seu poder de criação. Com o espaço circundante compreendido, vem a apreensão do universo – tônica do segundo livro. E, numa linguagem agora lírica, o poeta tenta uma definição do planeta, apoiado em informações científicas:

o universo
tem seu porte e suporte
em elétrons nêutrons prótons
é urgência ao poema
a fissão da massa atômica
a micro física quântica
os princípia matemática

tem o limite dos cardos
cortantes da metafísica
estrela sistema cosmos
o fascínio da galáxia
o silêncio da palavra
o carpir em abstrato

cem mil milhares de sóis
igual lote de anos-luz
o poeta assim disserta
premissas e teoremas
de sua esfera anilada

entre parábolas e elipses
que vagam por aí em expansão
burila zumbidos de metal (p. 37-40)

Nesse livro, n

Verbo Encarnado, a Lição da Liberdade

por Angela Gutiérrez
O próprio poeta Roberto Pontes lembra, em "Nota posterior" a seus poemas de Verbo Encarnado, que "encarnado é sinônimo de vermelho, havendo nas festas populares acirradas disputas entre os partidos azul e encarnado". Aceitando o mote, ressalto que, além da acepção bíblica de "verbo que se fez carne", junta-se à significação do título do livro de Roberto, a idéia da cor vermelha que, no imaginário ocidental, é a cor da paixão, reiterada, no encarnado, pela etimologia ligada à carne. A acepção de encarnado, como aquilo que é representado, ou penetrado por um espírito, o brasileirismo que considera como encarnado aquilo que assedia, importuna, o simbolismo do encarnado como cor dos partidos de esquerda, tudo isso converge para o título da coletânea de poemas que, hoje, chega ao público cearense. O verbo poético de Roberto é verbo vermelho na palavra-luta; é verbo de carne, na palavra-dor e na palavra-paixão, é verbo que nos assedia, ao exigir, em diferentes modulações, a lição da liberdade.
A mesma "Nota posterior", além de informar sobre datas, nomes e fatos ligados à gestação dos poemas, sendo, portanto, um adendo genético, funciona, também, como uma poética do autor. Nela, Roberto afirma que a poesia não é "exercício para narcisos", mas "fala insubmisssa" que age como "resistência" e como "incitação das consciências". Quem viveu a adolescência e a juventude durante "os anos de chumbo" – entre 64 e 84 – e recorda a sensação do medo, da revolta, da impotência da boca amordaçada que nos afligia nessa "página infeliz de nossa história" (na bela expressão de Chico Buarque em seu samba Vai passar), entende que os poemas de Roberto, escritos entre 64 e 83, são intérpretes dessa "memória corporal" e nos fazem não só recordá-la como reencarná-la.
Em Verbo Encarnado, o poeta nega-se o direito de contemplar a própria imagem; nunca é um só, é sempre um entre muitos: é cidadão do mundo em "Soul por Luther King", "Lembrança de Neruda", "O Pássaro Amarelo" (poema dedicado a Ho Chi Minh); cidadão do Nordeste e de Fortaleza, em "Composição sobre a Peixeira", "Os Nossos Meninos Azuis", "Chula da Rendeira", "Poema para Fortaleza" e tantos mais.
O poeta, naqueles tempos de revolta, traveste seu verbo em arma, como em "A Bala do Poema":

A palavra há de ser
a consistência da bala
.....................................
A palavra há de trazer
o peso do chumbo
a quentura
a explosão do peito
enquanto o amor não for reconhecido.

Ou, como em "Dedicatória":

Pixe muros
faça hinos
dê combate à ditadura
enforque em cordas de aço
toda forma de opressão.

Ou, ainda, como em "Definição":

trago um chicote
inquieto na mão

Mas se, em "Ultrapassagem", o poeta canta o momento feliz da fartura contra a guerra, da liberdade contra o medo, do mundo novo sem miséria, esse é o tempo do futuro:

quando o homem se souber
indigno do que até hoje cometeu

Apesar da delicadeza, quase diafaneidade, do poema "Os Ausentes", dedicado a Frei Tito –

Dos ausentes fica sempre um sorriso
como as pinturas recheias
de surpresa, reencontro e irreal.

– e que abre o livro, na versão em francês, o tom dominante de Verbo Encarnado é o que explode nas imagens audaciosas do ciclo apocalíptico, em "Antevéspera", "Véspera" e "O Dia":

e o ágape servido será dor e veneno.

No dia
e após o dia
a vida irá sumindo lentamente
e cheios de medalhas
os cus dos generais apodrecendo.

Essas são as últimas palavras do último poema do livro e, apesar de vertidas no futuro, são as que impregnam a nossa memória do passado que o livro do Roberto nos traz, dolorosamente, ao presente.

ANGELA GUTIÉRREZ é Professora Adjunta de Literatura Brasileira
no Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará. Doutora em
Literatura Comparada pela UFMG. Pertence ao quadro de especialistas
da Associação Brasileira de Literatura Comparada – ABRALIC.
Autora de O mundo de Flora (romance) e Vargas Llosa e o Romance
Possível da América Latina (ensaio).

Reza _ Roberto Pontes
PERFUME DE CHUVA _ Roberto Pontes _ Nu _ voz violão vivo _ Bossa Pontes
PULSÃO _ Roberto Pontes _ teaser
Cachoeira de São Roberto em Pontes Gestal SP
"Aos amantes", (Roberto Pontes) - PoetizARTE
CORRETOR DE IMÓVEIS | Roberto Pontes
"Aos amantes", Roberto Pontes - PoetizARTE
Roberto Pontes - Conselheiro Tutelar
28° Certamen nacional de Coctelera "Roberto Pontes"
3-XCMG Bank XCMG (Roberto Pontes, Vice-Presidente do XCMG Bank)
O tempo dos amantes - Roberto Pontes
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como hacer un vino tinto casero
PALATOS _ Roberto Pontes _ Nu _ voz violão vivo _ Bossa Pontes
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Momento com Deus - Ev Roberto Pontes
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Momento com Deus - Ev Roberto Pontes
Momento com Deus - Ev Roberto Pontes
Conferência de Abertura - Teoria da Residualidade com prof. Dr. Roberto Pontes
Roberto Pontes Reto 2
Reza
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Roberto Pimentel Pontes (ed. resp.), RJ, "FLUXO", Línox / Shala Andirá / Roberto Pontes.
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Rafa Pontes, Sub 8 2020, Sub 9 2021... ala canhoto... 🙏👏😊
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9 de setembro de 2023
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El presidente de audeb, Roberto Pontes nos presenta un cock
POESIA FALADA - "Não desesperes nunca" (Roberto Pontes) - por Thais Loiola
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La Guía Del Cantinero con Roberto Pontes - ex presidente de la asociacion uruguaya de barman
Cachoeira de São Roberto - Pontes Gestal/SP 12/04/2023
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24 de junho de 2021

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